24 de agosto de 2022

Pais da Anarquia - pede a bença, minino!

The Wild Angels


Motociata raiz! A vida em duas rodas foi o sonho dos drop-outs e o ideal dos aventureiros. Fascinantes pela economia, praticidade e independência, motos foram um fetiche pop de toda uma geração até se transformarem em símbolo de poder financeiro, acomodação e rebeldia fake. O ciclo de filmes de motoqueiro, os biker movies, foi emblemático da "nova Hollywood" e do cinema independente norte-americano formando um curioso e natural paralelo com a cultura das motos customizadas que começaram feitas artesanalmente de restos e peças avulsas para se tornarem um símbolo da contracultura. Os "envenenados" dragsters, hot rods e as criações do designer Tom Daniel marcaram época nos anos 60. Então, por um posicionamento paralelo, os biker movies seriam sucata cultural?

biker movies
Biker movies marcaram os anos 60 por sua marginalidade, produção barata, muito improviso entre os atores e trilhas musicais com muito rock, do rythm'n'blues ao hard. Na sua maioria eram exploitations exemplares. Erik von Zipper fez a gente rir com a Turma da Praia, Marlon Brando fez história em The Wild One (1953), Jack Nicholson fez palhaçada em Rebel Rousers (1970), Kenneth Anger fez de seu Scorpio Rising (1963) um manifesto-cultural-gay-alternativo, Cirio Santiago fez todo mundo passar vergonha em Nam Angels (Hell's Angels no Vietnã, 1989), Marianne Faithful encantou geral com sua roupa justa de couro em The Girl on the Motorcycle (1968) e até o Clint Eastwood montou numa chopper em The Gauntlet (Rota Suicida, 1977). Aí vão 20 selecionados da vida em duas rodas na telona!

1964 The Leather Boys • Na onda dos filmes sociais que marcaram o cinema inglês da época este é um drama sobre jovens desajustados. Estrelado por Rita Tushingham como uma jovem proletária que se casa com Reggie, um integrante de um grupo de motociclistas, mas o relacionamento terá sérios problemas pela instabilidade social e imaturidade de ambos. A rigor The Leather Boys talvez nem se enquadre como "filme de motoqueiros", mas merece crédito pelo pioneirismo. 😈😈😈

The Leather Boys
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1965 Motorpsycho • Russ Meyer em um de seus clássicos emblemáticos do pop alternativo! Três motoqueiros se divertem em arruaças e atacando a mulherada até que o veterinário Cory (Alex Rocco) os persegue pelas estradas e desertos para se vingar do ataque a sua esposa. Um marco do cine-marginal ianque que estabeleceu as bases genéricas com sua marginalidade, violência, cenários naturais em estradas e o drama resumido ao conflito físico. Datado em sua dramaticidade e com as motos mais "inofensivas" do gênero, mas a dinâmica narrativa de Meyer e as ousadias estéticas ainda são notáveis. 😈😈😈

Motorpsycho
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1966 Wild Angels • Com direção e produção de Roger Corman, este foi o clássico que introduziu a chopper na iconografia pop-marginal. Peter Fonda e Bruce Dern lideram uma gangue californiana e quando Dern é baleado e levado a um hospital, o restante precisa resgatá-lo. Wild Angels causou mais do que contou com sua história mínima, mas foi o filme certo para o momento certo. Teve cuidados técnicos acima da média, incomodou com seus símbolos nazistas e sua pancadaria anárquica e abriu caminho para a onda de filmes B que vieram depois. Também teve trilha marcante de Mike Curb e Dave Allan com guitarras fuzz, ainda nos moldes da surf music. Participam, Nancy Sinatra, Diane Ladd, Michael J. Pollard e Dick Miller. Entre as curiosidades: Peter Bogdanovich como assistente de direção e Monte Hellman na edição. 😈😈😈😈

Wild Angels
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1967 Born Losers • Estreia do personagem Billy Jack que celebrizou o ator/diretor Tom Laughlin em circuito fechado no pop ianque. Um personagem curioso que mesmo com seu posicionamento anti-stablishment, natural à época e ao cinema independente, enfrentava os motoqueiros como consumados marginais. Billy Jack é um ex-boina verde e mestiço indígena que se opõe a uma gangue de motoqueiros tarados que atacam garotas em uma cidadezinha. Simplório na construção narrativa, como um exemplar filme B, mas bem pesadão para a época. No elenco, participação da veterana Jane Russell e o ator/diretor Jack Starret, o policial que queria dar lição no Rambo, quinze anos mais jovem e vinte quilos mais magro! 😈😈😈

Born Losers
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1967 Devil's Angels • John Cassavetes é Cody, líder dos Skulls, um grupo envolvido em encrencas diversas, até que tenta se estabelecer em uma cidadezinha apesar da rejeição de autoridades civis. Um acordo com o xerife local lhes garante um espaço, mas os eventos escalam para um grande conflito. Aventura bem decente, com produção de Roger Corman e direção mediana de Daniel Haller. A virtude maior é do roteiro, que aprofunda as relações um pouco além da obviedade marginal. No elenco, Mimsy Farmer e o veterano Leo Gordon. Música de Dave Allan. 😈😈😈

Devil's Angels
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1967 The Glory Stompers • Dennis Hopper, em um de seus primeiros papéis de destaque, é Chino, líder de uma gangue que após espancar o rival Darryl, e julgá-lo morto, raptam sua namorada para ser vendida no México. Mas Darryl se recupera e passa a perseguir a gangue. Fraco de produção e roteiro, enrola o que pode com desavenças improvisadas e festas "envenenadas", mas tem seus bons momentos isoladamente. 😈😈

Glory Stompers
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1969 Easy Rider (Sem Destino) • O clássico emblemático para o gênero. Sedimentou o modelo com o uso marcante das moto choppers, a trilha de hard rock e a significação mais ampla do que a média do gênero. Peter Fonda e Dennis Hopper, desgarrados de bandos como seria a regra, personificam dois ícones do pop norte-americano: o cowboy e o super-herói, que atravessam a américa dividida por uma era de mudanças. Uma América imaginária que ainda não encontrara espaço entre o conservadorismo das velhas gerações e as aspirações das novas. 😈😈😈😈

Easy Rider
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1969 Satan's Sadists • Al Adamson é um renomado mestre do cinema-trash e esta aventura é um de seus mais conhecidos filmes. Russ Tamblyn é o líder de um pequeno grupo de motoqueiros e o veterano Scott Brady é um policial aposentado que os confronta em uma lanchonete de estrada. Sem história ou roteiro, o filme é apenas uma sequência de confrontos e ataques de Tamblyn e seus parceiros. Nível zero em direção e produção, mas Satan's Sadists ficou na história (ainda que história B) por sua demência geral, algumas boas situações, e até a inconsistência como filme, que o faz alcançar uma curiosa forma insana. Trivia cult: o futuro diretor B, Greydon Clark, faz roleta russa, a gata Regina Carroll era esposa do diretor e John Bud Cardos (outro devoto da direção B) é um dos motoqueiros. 😈

Satan's Sadists
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1969 Hell's Belles • Aventura da American International que buscou uma variante interessante no gênero. Dan é um motociclista profissional que ganha uma valiosa moto em uma competição, mas o prêmio é roubado por uma gangue e Dan passa a prossegui-los pelos desertos. Estética de western em uma aventura mediana, sem a marginalidade que caracterizou o gênero, mas com suficiente dinâmica visual e uma boa trilha de Les Baxter. 😈😈😈

Hell's Belles
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1971 The Peace Killers • A jovem Kristie, dissidente de uma gangue, é perseguida pelo líder para que reintegre o grupo. Refugia-se em uma fazenda habitada por uma comunidade de pacifistas que terá que recorrer a violência para se proteger dos ataques da gangue. Um caso curioso de contrastes técnicos neste drama tecnicamente bem cuidado e com boa trilha musical, mas desajeitado em direção e produção sem imaginação. 😈😈

The Peace Killers
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1971 Wild Riders • Depois que uma integrante de gangue de motoqueiros é punida em um gang rape, o grupo se desfaz e dois dos motoqueiros (Arell Blanton e Alex Rocco) se escondem no casarão de uma ricaça cujo marido músico está ausente. O que se inicia como uma paquera corriqueira vira um home invasion com violência e ameaças. Na onda B habitual ao gênero, este tem violência bem encenada, elenco empenhado, mas pouca história para contar. O final surpreende com o marido ultrajado usando seu instrumento musical como arma de matar! 😈😈

Wild Riders
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1971 Chrome and Hot Leather • Aventura mediana da American International. O eterno bad guy William Smith é líder da gangue Wizards, que se envolve em um acidente na estrada. A jovem vítima é noiva de um militar em treinamento e seus parceiros se disfarçam para rastrear o bando e entregá-los à justiça. Bem decente esteticamente, mas pouca coisa acontece e o filme se arrasta em dramaticidade leve. A maior curiosidade é a presença do cantor Marvin Gaye como um dos militares que auxilia o protagonista na busca pelos marginais. 😈😈

Chrome and Hot Leather
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1973 Electra Glide in Blue • A cultura on the road vista pelo lado da lei. Aqui é Robert Blake patrulhando as estradas e investigando um crime envolvendo tráfico e mortes de agentes da lei. É um drama policial mais do que biker movie, mas entrou aqui pela originalidade e representação de uma era bem inventiva no cinema ianque. Trivias curiosas: tem uma cena de treinamento de tiro em uma foto de Easy Rider, foi dirigido e musicado por James William Guercio, produtor do grupo Chicago, e Peter Cetera é um dos motoqueiros perseguidos pela polícia. 😈😈😈

Electra Glide in Blue
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1974 You and Me (Em Busca do Destino) • Depois de um crime em um bar, um trio de motoqueiros se separa e Zeto  (David Carradine) faz amizade com um garoto fugitivo. Alternativo entre alternativos, You and Me, dirigido por Carradine, é um drama de estrada, praticamente sem história e centrado nas andanças da improvável dupla central. Arrastado e com postura de cult, tem a seu favor a autenticidade da época e uma simpatia bastante particular. É quase uma produção caseira que empregou os serviços dos irmãos Carradine (Keith, Robert) em pontas ou fazendo canções da trilha. Participação ligeira de Barbara Hershey e Gary Busey. Tão obscuro atualmente que até o cartaz e fotos são raros pela net.😈😈

You and Me - David Carradine
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1974 Stone • Cult australiano e único filme dirigido pelo ator Sandy Harbuck (veja mais diretores bissextos). Stone é um policial que integra uma gangue de motoqueiros para descobrir quem é o responsável pelas mortes que estão dizimando o grupo. Bem interessante e bem decente, mas sem muita história para desenvolver e ficando meio restrito à arruaças inconsequentes. Destaque a Hugh-Keys Byrne que mais tarde faria o líder dos motoqueiros de Mad Max (1979), aqui dando beijinho de língua no coleguinha! 😈😈

Stone
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1976 The Northville Cemetery Massacre • Em uma batida policial a uma fazenda abandonada, ocupada por motoqueiros, um policial estupra uma jovem sem saber que é filha de seu superior. Para encobrir a situação, tenta implicar o grupo de motoqueiros no crime, incitando sua matança. A situação cresce para um grande confronto armado que justifica o título. Uma curiosidade que parece uma "adaptação" de Wild Bunch para os biker movies, incluindo câmera lenta e montagem entrecortada. Sangrento e divertido, com boas ideias e algum humor (citação a Patton), mas tão primário em sua técnica que resvala no amadorismo. Legal é a trilha musical esforçada de Michael Nesmith que escapa aos rocks habituais e tenta efeitos climáticos e dramáticos em instrumentação pop-rock. 😈😈

The Northville Cemetery Massacre
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1981 Knightriders • Ed Harris é Billy, líder de uma trupe de motociclistas que faz apresentações itinerantes simulando embates medievais. Quando se popularizam e são sondados por uma grande empresa que os quer financiar, o grupo entra em colapso por ambições internas conflitantes. Cult dirigido por George Romero fazendo aqui uma defesa aos alternativos em um mundo implacavelmente mercantilizado. Simpático e impecável, só faltou mesmo um pouco mais de destruição em nível Mad Max. No elenco, Tom Savini e participação rápida de Stephen King entre os espectadores. 😈😈😈

Knightriders
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1983 Rumble Fish (O Selvagem da Motocicleta) • Francis Ford Coppola faz uma visita aos temas alternativos neste drama que reuniu gerações significativamente. Dennis Hopper, Mickey Rourke e Matt Dillon são os eternos desajustados em uma América como ela não gosta de ser vista: a terra dos derrotados e excluídos. Tecnicamente, o filme é uma daquelas experiências estéticas em que o diretor gosta de se aventurar ocasionalmente, tem bela fotografia em preto-e-branco e uma trilha originalíssima do baterista Stewart Copeland. Então, entre o pop-marginal da geração anterior e o pop-instituído da era dos blockbusters, Rumble Fish fica segregado a uma posição de demarcador na cultura de massa, entre a revolução e a acomodação. 😈😈😈

Rumble Fish
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1991 Harley Davidson & Marlboro Man • O fim da linha no pop biker cinematográfico incorporando tudo o que não devia da década de 80, especialmente a cultura dos videoclips. Mickey Rourke e Don Johnson são dois desgarrados em um futuro indefinido que se empenham em manter um velho bar e assaltam um carro forte para saldar as dívidas do local. Quase uma refilmagem (ou adaptação) de Butch Cassidy para o pop contemporâneo. Correto tecnicamente, mas tão automatizado e fake em suas situações e diálogos clichê que não entusiasma. Quando Mickey Rourke manobra para ir embora e uma gata aparece do nada, pedindo carona, aí não dá mais... virou clip do ZZ Top. Os bikers tornados petisco corriqueiro na cultura de consumo. 😈😈

Harley Davidson & Marlboro Man
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2008 Hell Ride • Produção de Quentin Tarantino em uma constrangedora revisitação ao gênero que parece mais um encontro de veteranos em uma produção caseira. Escrito e dirigido por Larry Bishop, conta sobre o velho conflito entre duas gangues rivais que voltam a se confrontar pelas estradas. Então Hell Ride é um amontoado de diálogos cifrados, garotas peladas, trilha com canções de outros filmes e uma curtição em circuito fechado que só deve ter agradado a quem participou. Tem sequência psicodélica com filtros coloridos, tem Dennis Hopper usando a jaqueta Easy Rider, tem o Michael Madsen mais gordo do que o habitual, tem o David Carradine em participação e tem, acima de tudo, um amargo sabor de deslocamento temporal e lembrança de uma época que não teve substitutos. 😈😈

Hell Ride

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