Os princípios de articulação política serão sempre polêmicos ao senso comum justamente por não se fundamentarem em princípio nenhum. A política é o terreno da articulação, da manobra, da estratégia segundo necessidades cambiantes. Esperar por "honestidade" ou "integridade" parece a mais absurda incoerência em se tratando de política envolvendo grupos de poder. Essa pode ser uma das premissas mais tentadoras a roteiristas e o cinema se valeu de situações político-sociais tanto para simbolismos delirantes como para obras francamente engajadas.
Em tempos em que o questionamento politico, comportamental e anti-sistema se intensificou (anos 60) a discussão rendeu grandes filmes e rendeu especialmente um gênero à parte pela obra de grandes diretores como Costa Gavras, Elio Petri, Gillo Pontecorvo e Francesco Rosi, cujo filme La Sfida (1958) é mais ou menos uma ponte entre o neo-realismo e o cinema sócio-politico posterior. Especialmente no cinema italiano dos anos 60/70 as discussões politico-sociais se manifestaram até mesmo nas aventuras pop do poliziotteschi como em La Polizia Ringrazia (1972), obra na fronteira entre o consagrado cinema-político e atração de bilheteria.
Esta lista poderia ser bastante extensa se entrassem obras de leitura mais ampla em suas implicações como o jogo de dominação de The Servant (1961), a manipulação midiática de Network (1976) e The Wrong is Right (1982), a violenta face do poder de Laranja Mecânica (1972), a massificação de comportamento de Invasion of Body Snatchers (1978), a negação às regras sociais em Themroc (1973), a ignorância servil de The Ogre (1996), a divisão social de Terra dos Mortos (2005), ou a fácil proliferação de ideias fascistas em Die Welle (A Onda, 2008), entre diversos outros.
Esta lista poderia ser bastante extensa se entrassem obras de leitura mais ampla em suas implicações como o jogo de dominação de The Servant (1961), a manipulação midiática de Network (1976) e The Wrong is Right (1982), a violenta face do poder de Laranja Mecânica (1972), a massificação de comportamento de Invasion of Body Snatchers (1978), a negação às regras sociais em Themroc (1973), a ignorância servil de The Ogre (1996), a divisão social de Terra dos Mortos (2005), ou a fácil proliferação de ideias fascistas em Die Welle (A Onda, 2008), entre diversos outros.
Felipe Preto fez sua pequena seleção de 15 filmes políticos mais ou menos voltados ao fantástico.
1969 I Cannibali • Drama futurista dirigido por Liliana Cavani. Pierre Clementi e Britt Ekland são um casal perseguido por um regime totalitário. Em uma narrativa sufocante, Cavani despeja detalhes surreais com mortos largados pelas ruas e transeuntes alheios a eles, além de espaços urbanos como identificadores de uma sociedade desumanizada. Entre a ficção e o surrealismo, repleto de simbolismos e com trilha sonora enérgica de Ennio Morricone voltada ao rock! Não é o melhor filme da diretora (então em seu segundo longa), mas rescende da energia do momento e de uma linha de filmes que nunca foi recuperada. 😈😈
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1970 Indagine Su Un Citadino Al Di Sopra Di Ogni Sospetto (Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita) • Um dos filmes mais importantes na obra de Elio Petri e exemplar do cinema-político tanto quanto Z. Gian Maria Volonté é um secretário de segurança que assassina sua amante (Florinda Bolkan) para testar a eficiência dos mecanismos de investigação do Estado. Mesmo deixando pistas que levam à sua pessoa, as demais autoridades se recusam a reconhecer a verdade e atribuem o crime a algum grupo disposto a difamar Volonté. Obsessivo e resvalando na comicidade absurda do acumulativo de situações, teve grande repercussão em sua época. 😈😈😈😈😈
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1971 Punishment Park • Alegórico drama de Peter Watkins. Cidadãos retirados de seu meio social por implicações políticas têm a chance de atravessar um escaldante deserto para fugir. Um grupo de cinegrafistas documenta a ação e os depoimentos. Declaradamente anti-stablishment e com uma forma fílmica muito original, precursora do chamado found footage e já apresentado nessa seleção, confira lá. 😈😈😈
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1971 Il Maestro e Margherita • Ugo Tognazzi é um escritor detido pelas autoridades ao apresentar uma peça que questiona os princípios do poder vigente. Enquanto seu julgamento e consequências avançam, o Diabo se infiltra para confundir e lançar dúvidas no meio político e jurídico. Margherita é a amante do escritor que tenta descobrir seu paradeiro quando ele desaparece. Baseado em livro de Mikhail Bulgakov. Para ser revisto em plena era das fake news! Já incluído na seleção 20 Aparições do Coisa Ruim. 😈😈😈
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1971 The Devils • O melhor de Ken Russell. O alinhamento de forças entre o poderes políticos, religiosos e artísticos favorece diversos interesses na cidade de Loudun contra o padre Grandieur. Quando uma freira o acusa de bruxaria todos os interessados em sua queda se articulam para levá-lo a julgamento e eliminá-lo. Controvertido, polêmico, delirante, violento e insuperável drama que manteve intactos tanto seu poder narrativo quanto a importância de seu conteúdo. Ainda não devidamente reconhecido e relançado no mercado atual. Baseado em Os Demônios de Loudun de Aldous Huxley. Teorias comentam que a Warner por anos evitou seu relançamento em DVD devido ao conteúdo polêmico. Ficou proibido no Brasil em sua época. 😈😈😈😈😈
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1972 The Rulling Class (A Classe Dominante) • Peter O'Toole é o herdeiro de uma riquíssima e influente família inglesa. Mas Peter, recém saído de um manicômio acha que é Jesus reencarnado e seus familiares precisam rapidamente articular um meio de manter suas posses. Sátira social na linha clássica do nonsense inglês (como Monty Python ou Richard Lester). A inserção de pequenos números musicais acentua ainda mais seu clima insano. Quando aparentemente curado, Peter é integrado à House of Lords e seu discurso demente é celebrado no parlamento repleto de mumificados! Dirigido por Peter Medak e um pouco cansativo em seus 140 minutos, mas uma raridade pouco citada que merece uma conferida. 😈😈😈
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1974 The Parallax View (A Trama) • Warren Beatty é um jornalista investigando o assassinato de um político e descobre a obscura Organização Parallax. Em plena era do governo Nixon, o suspense de Allan Pakula é um dos mais enigmáticos em sugerir organizações secretas atuando para a manutenção do poder instituído (como em Três Dias do Condor e Domino Principle). Um dos grandes thrillers políticos de sua era, na linha paranoica de Manchurian Candidate (Sob o Domínio do Mal). Intrincado e de difícil decifração tem como destaque os treinamentos que empregam lavagem cerebral e um trabalho estético diferenciado. 😈😈😈
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1975 Saló • Durante a ocupação nazista, grupo de rapazes e garotas é retirado de seu vilarejo e levado a um velho castelo onde serão submetidos a perversões e torturas diversas por parte de seus dominadores. A união entre elites dominantes e forças armadas compõe está fábula macabra sobre a dominação absoluta. Um dos mais incômodos filmes já realizados tanto por suas ousadias estéticas quanto por suas implicações sobre o exercício do poder extensivo ao físico e o mental de seus dominados. Livremente baseado em Os 120 Dias de Sodoma do Marquês de Sade. Último filme de Pier Paolo Pasolini, assassinado no mesmo ano por razões nunca totalmente esclarecidas. 😈😈😈😈😈
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1976 Cadaveri Eccellenti (Cadáveres Ilustres) • Lino Ventura é um detetive investigando os assassinatos em série de juízes. Os casos têm relações entre si e podem ser uma vingança particular, mas os fatos vão levando Ventura a um intrincado jogo político cuja verdade parece inacessível. Como em Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita a verdade vai se mostrar uma matéria de impossível apreensão, alheia a razão, isolada da lei. Cada vez mais sozinho e perseguido, Ventura vive um pesadelo em sua obstinada busca pela compreensão dos fatos. Direção de Francesco Rosi. Um exemplar suspense policial com citações surreais em seus amplos espaços desertos de galerias, corredores e museus. 😈😈😈😈
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1980 Harlequin • Robert Powell é uma misteriosa figura que se infiltra na família de David Hemmings, um senador em ascensão na carreira. O contato inicialmente serve à cura do filho de Hemmings para depois seduzir sua esposa e interferir no jogo político do qual o senador participa. Discreto e elegante suspense australiano com referência a Teorema de Pasolini e interessantes paralelos políticos ao assumir o encantamento (a farsa) que Powell exerce sobre todos. 😈😈😈
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1981 Mephisto • Klaus Maria Brandauer é Hendrik Hofgen, um ator em ascensão nos palcos e no cinema alemão. Com a chegada dos nazistas ao poder, alguns de seus amigos desaparecem e outros se mudam de país. Hendrik inocentemente se julga isento aos processos e acaba colaborando com o novo poder. Dirigido pelo húngaro Stvan Szabo, Mephisto é um sofisticado estudo das maquinações insidiosas do poder e sua infiltração por vias insuspeitas. Genial esteticamente, o filme alterna naturalismo a sequências de luzes irreais (a aceitação do ator às solicitações do oficial) e sequências de múltipla leitura (os elogios das autoridades nazistas com o ator ainda caracterizado como Mephistófeles). Em sua abstinência política, Hendrik acaba funcionando como um inadvertido reforço à solidificação dos posicionamentos fascistas. 😈😈😈😈
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1983 Dead Zone (Hora da Zona Morta) • Um David Cronenberg dos mais discretos. Christopher Walken se recupera de um acidente e ao sair do estado de coma, compreende que tem a capacidade de prever o futuro em transes que não pode controlar. Entre episódios diversos de choques psíquicos, descobre que um candidato à presidência dos EUA pode levar o mundo à catástrofe nuclear. Walken se arma e decide ele mesmo eliminar o candidato. Baseado em livro de Stephen King. 😈😈😈
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1988 They Live (Eles Vivem) • Alienígenas infiltrados no meio humano exercem sua dominação comportamental e sensorial bloqueando a percepção dos terráqueos por ondas emitidas de emissoras televisivas. Roddy Piper ingressa em um grupo de rebeldes que tentam conscientizar o restante da população sobre a situação. Divertida aventura nível B de John Carpenter. Apelando à simplicidade de discurso e de simbolismos e justamente por isso genialmente ilustrativo. A sequência em que Roddy descobre os óculos e as mensagens públicas é antológica! 😈😈😈😈
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2007 Frontier(s) • Às vésperas de eleição presidencial jovens manifestantes são aprisionados por um recluso grupo neo-nazista. Veja mais no post.
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2015 El Clan (The Clan) • Produção argentina baseada em fatos reais ocorridos na década de 80. Um thriller com toques anárquicos sobre o Clan Puccio, uma família cujo patriarca, Archimedes Puccio, liderou uma quadrilha de sequestradores e foi acobertado por autoridades politicas. O toque bizarro é que os familiares de Puccio participaram passiva ou ativamente dos atos criminosos! Com a direção dinâmica de Pablo Trapero, El Clan é um estudo dos mecanismos de corrupção, conivência e enriquecimento ilícito decorrentes de períodos de instabilidade política. 😈😈😈
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