10 de fevereiro de 2019

Outra Música 2

Continuando com a sugestão de sons macabros de Outra Música, agora mais contemporâneos e eletrônicos. Nestes tempos de acesso digital, as possibilidades de inventar e expor trabalhos novos é grande, e aí tivemos o chamado Dark Ambient, trabalhos repletos de instrumentais editados e com muita cara de trilha sonora. Sem virtuosismo técnico e valendo mais pela proposta conceitual. Alguns dos selecionados pertencem a essa categoria: James Plotkin, Old Tower e Demdike Stare.


1998 Perypheral Blur - James Plotkin foi guitarrista da cena grindcore que gradualmente foi trocando o peso sonoro por projetos Dark Ambient. Curiosamente, é a trajetória de muitos músicos do metal, que partem da exploração sonora para outras densidades com menos decibéis e muito mais imersão sensorial. Em diversos projetos com parcerias alternadas, Plotkin tem este Peripheral Blur como destaque em exercícios climáticos que engolem o ouvinte desde os movimentos circulares, hipnóticos, e ameaçadores da faixa de abertura Jute Wheel. Som perfeito para ver aparições.

1999 Pictures of Bosch & Bruegel - Faixa de Mysticism of Sound do tecladista e compositor eletrônico Artemiy Artemiev, que é filho do pioneiro da eletrônica Edward Artemiev (compositor que fez trilhas para Tarkovski). Filho de peixe, Artemiy, vai pelo sombrio e pelo inesperado. A faixa destacada é especialmente importante nesta seleção pelo constante clima espectral, movimentos lentos e a expectativa. Seria ideal para uma trilha de filme com sua sucessão de camadas sonoras e vibratos macabros em um espaço indefinido. 17 minutos de exploração ao incorpóreo sonoro.

1999 Repercussion of Angelic Behavior - Com muitos projetos paralelos ao King Crimson, o guitarrista Robert Fripp tem lançado trabalhos experimentais regularmente. Para mim, isso é estratégia para escapar dos piratas e não deixar gravação sem lançamento. Seja como for Repercussions é dos mais consistentes e interessantes. Aqui a formação é reduzida a guitarra-baixo-bateria. Andamentos incertos em blocos contrastantes marcam as experiências de álbum que se aproximam sonoramente do jazz-rock. Imagino esse som em um violento thriller, especialmente a faixa Strangers on a Train.

1999 Music to Play in the Dark - Álbum do Coil, dupla eletrônica de meados dos anos 80. Music to Play in the Dark é talvez o mais elaborado dos trabalhos aqui selecionados. Assemelha-se muito a uma trilha sonora em seus climas diversos, cuidadosamente sequenciados, quase formando uma narrativa. Climas, ritmos techno, silêncios, pianos jazzísticos e até vocais bowieanos se alternam em um conjunto elegante. É o mais bem acabado tecnicamente da seleção, evidenciando a estética pop e eletrônica sem disfarce. Lembra o Tangerine Dream em algumas passagens.

Fripp & Eno
2005 Terebellum - Faixa de Equatorial Stars, trabalho que marcou a retomada da parceria entre o guitarrista Robert Fripp e o tecladista/produtor Brian Eno. A dupla volta às explorações em combinação de timbres e texturas de Index of Metals na retomada da tão celebrada parceria. Na verdade todo o álbum Equatorial Stars é noturno e incorpóreo logo na abertura com Meissa, mas a faixa destacada cumpre como poucas a imersão em sons abissais e insondável escuridão. Para fazer um paralelo com o cinema, talvez Angelo Badalamenti tenha feito algo assim, nas trilhas de David Lynch.

2009 Here Be Dragons - Por anos pensei e procurei por essa fusão de sons de jazz com climas sombrios e finalmente o Kilimanjaro Dark Jazz, grupo alemão formado em meados de 2000, realizou isso! A faixa Lead Squid abre o álbum com sombras ameaçadoras e The MacGuffin encerra com peso de rock raro a grupos do gênero. Os climas são noturnos, mas ainda que remetam ao macabro, não perdem o sentido urbano natural ao jazz. Surpreendente. Incrível. Recomendável. Quero mais. Dankbar Kilimanjaro!


2010 Forest of Evil - Demdike Stare é mais uma dupla inglesa de música eletrônica a surgir na cena contemporânea. Mas busca um som que não segue a tradição techno ou dance, que a eletrônica invariavelmente refere.  Forest of Evil é um EP com pouco mais de 20 minutos e está dividida em dois blocos, Dusk e Dawn. Assombrosas as construções da dupla que alternam gritos e sussurros sonoros como em uma narrativa. Dramática, extenuante, expressionista, merece o crédito "alternativa" sem reservas. 
2011 Beyond the 4th Door - Álbum do grupo norte-americano Eternal Tapestry que faz a linha dos neo-psicodélicos (com fotos no meio do mato, ou sentados em tapetes e tomando chazinho). Com a formação básica de um grupo de rock, guitarra, baixo bateria e efeitos, o ET (!) compõe sequências de improvisos lisérgicos em ritmos lentos e bem legais. Este Beyond 4th Door tem um clima tétrico muito especial logo nas vozes da primeira faixa, Ancient Echoes. Acho que se uma banda de almas penadas tocasse, soaria assim.

2013 Sol Austan, Mani Vestan - O Burzum foi um grupo de Death Metal norueguês cujo líder Varg Vikernes foi em cana em 1993 por ter matado um músico parceiro! O incêndio em uma igreja também consta no currículo!! No cárcere e depois dele, deu continuidade ao Burzum orientando o som para longas faixas instrumentais. Este Sol Austan é seu projeto mais radical na questão musical. Praticamente não há sinal do rock pesado de antes e o trabalho se insere na corrente Dark Ambient. Texturas climáticas e dedilhados acústicos caracterizam grande parte do trabalho. Destaque à bela capa frazettiana.


2017 The Rise of Specter - Trabalho do grupo holandês Old Tower também na linha Dark Ambient, ou mais especificamente Dungeon Synth! Digite Dungeon Synth e vai aparecer um monte de bandas de qualidade sonora variada! O Old Tower tem o diferencial de acrescentar vozes corais (ou assim parecem) para maior diversidade musical. É uma das melhores do gênero, com suas marchas tonais e seus climas medievais pesadões de espacialidade ampla. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário