21 de janeiro de 2020

Os 20 Maiores Filmes da História da Humanidade de Todos os Tempos do Planeta Terra do Universo!


O melhor do melhor do mundo! Pelo menos para o Felipe Preto que faz aqui uma seleção de vinte filmes imprescindíveis, mas sem ficar restrito ao terror e ao fantástico (que estão no Top 10 do Phillip). Não tem Fellini, nem Cronenberg, nem Tarkovski!!! Bem... são só vinte escolhas...

1919 O Gabinete do Dr. Caligari • O cinema antes da convenção, da orientação à gostos específicos. Possivelmente o filme que mais evidencia a corrente expressionista por seus cenários artificiais, suas luzes e sombras pintadas nas paredes. Caligari se apresenta em feiras públicas trazendo o ambulante Cesare (Conrad Veidt) como seu fiel comandado. Coincidência ou não, mortes e raptos começam a acontecer na comunidade local. O cinema enquanto estado alterado de percepção e narração.

gabinete do dr caligari
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1948 O Tesouro de Sierra Madre • A miséria humana em dimensão grandiosa, arrebatadora e tornada espetáculo. Humphrey Bogart, Tim Holt e Walter Huston são três aventureiros que se unem na busca por ouro em regiões desabitadas nas fronteiras mexicanas, mas a aventura também significa a perda de sua humanidade pelas desconfianças internas e confronto com forças maiores. Baseado em história do enigmático escritor B. Traven.

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1951 An American in Paris • Clássico do musical americano que curiosamente ainda não recebeu reedição decente no formato digital! Gene Kelly é um pintor americano pobretão vivendo em Paris até se envolver na paixão conflitante por Leslie Caron, namorada de um amigo próximo. Música de George Gershwin em números musicais perfeitos tanto na simplicidade quanto na grandeza do balé final que recria quadros de Lautrec em uma exuberante sequência como não se via desde Sapatinhos Vermelhos. O cinema enquanto puro sonho idealizado em um de seus momentos mais perfeitos, imersivos e confortantes.

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1953 O Salário do Medo • Como em Sierra Madre de Houston, a miséria humana é o espetáculo. Um considerável salto técnico e estético para o cinema nesta clássica aventura de Henry-Georges Clouzot. Yves Montand é contratado para uma missão que beira o suicídio: o transporte de uma carga de nitroglicerina por estradas tortuosas e terrenos perigosos. Redefiniu o conceito de suspense mantendo a tensão narrativa em cada momento de sua notável produção outdoor que ainda emprega uma invenção visual sem precedentes.

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1959 Intriga Internacional • A perfeição formal. Um filme a respeito de absolutamente nada a não ser ele mesmo. Hitchcock dizia que até mesmo a revelação sobre os microfilmes ficavam encobertas pelos ruídos do aeroporto, uma vez que era totalmente desimportante ao roteiro! E a antológica caçada pelo avião na estrada deserta é o cúmulo nonsense da ação gratuita! Cary Grant é confundido com um agente secreto e perseguido por uma organização. Grant precisa entrar no jogo e embarca em uma aventura que prevê a era James Bond de mistérios, ação, romance e traições. Em seu humor e leveza, Intriga Internacional é o pior pesadelo de um homem... no mundo perfeito.

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1960 Mórbida Curiosidade • Filmes são a legitimação da bisbilhotice doente pela desgraça alheia. Mais ainda do que Psicose este é o filme que empurrou a produção no gênero suspense e terror para a era contemporânea. O que Psicose fez em avanço estético, Peeping Tom fez em profundidade psicológica. Veja no post.
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1961 Ano Passado em Marienbad • Memórias e presente se fundem em uma estrutura fílmica que tange o inconsciente. Em um luxuoso hotel, um homem e uma mulher tentam relembrar seu relacionamento passado. Fascinante filme-lugar de significados múltiplos e que portanto pode ser visitado regularmente. Sob esse aspecto de apreciação tudo se encaixa na forma perfeita: a luz, o preto-e-branco, as pessoas como peças de mobília, a percepção temporal alternativa, a música fugidia, o misticismo insinuado. Ano Passado em Marienbad não busca significar. Justifica-se enquanto dimensão paralela, fragmento de memória fílmica. 

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1961 Yojimbo • O herói cínico e imoral que precede James Bond e os pistoleiros-sem-nome do euro-western. Acho até que precedeu Brancaleone em seu descaso por figuras folclóricas e momentos históricos. Toshiro Mifune é um samurai nômade que encontra, em uma aldeia dividia por dois grupos rivais, a chance de fazer um bom dinheiro trabalhando para ambos os lados alternadamente. Com declarada influência do faroeste americano, Kurosawa dispensa valores nobres e princípios éticos em sua violenta aventura cuja aridez fotográfica e estilização musical impulsionou os spaguetti-westerns. Yojimbo foi refilmado como Por Um Punhado de Dólares dois anos depois.

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1962 O Processo • O mundo das instituições é um lugar estranho, hostil, inumano. Um pesadelo criado pelo homem, aviltante a si próprio e aos seus. Anthony Perkins é K, acusado e detido injustamente e que precisa provar sua inocência em um meio caótico de regras e situações bizarras que parecem servir unicamente à manutenção de um poder esquivo de objetivos lógicos. Raras vezes no cinema a estética visual alcançou tamanha perfeição em seu propósito como aqui. Um irresistível e fascinante pesadelo pioneiro de distopias-pop.

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1968 2001, uma Odisseia no Espaço • O enigma eterno. Stanley Kubrick em um filme insuperável. A primeira missão tripulada para Júpiter tem o objetivo de desvendar uma misteriosa emissão sonora disparada em escavações lunares. A existência humana aponta para o aprimoramento e a ascensão, mas haverá fim dessa linha evolutiva? O filme não responde. Na novelização do roteiro, Arthur Clarke sugere que o primata da abertura e o astronauta Bowman sejam a mesma entidade em processo de evolução. Uma vez que as respostas seriam sempre redutoras, 2001 mantem aberta a busca por significado e leituras em suas linhas e entrelinhas narrativas. O resultado é tão subjetivo que é impossível coletivizá-lo.

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1969 Era Uma Vez no Oeste • A morte pede carona a cavalo. O máximo do cinema-ópera de Sergio Leone. Charles Bronson é o homem-sem-nome que assume o nome de diversos mortos em sua busca por vingança contra o assassino Frank (Henry Fonda). Repetindo os signos idealizados de Shane, Leone faz com que cada espectador aqui seja um garoto como Joey, uma testemunha de façanhas mitológicas cujo espaço de legitimação é a tela do cinema!

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1969 Meu Ódio Será Sua Herança • Um bando de foras da lei se prepara para um último grande golpe que garantirá seus anos de retiro. Na fronteira do México dedicam-se ao roubo de um carregamento de armas e munições para um líder rebelde. A sucessão histórica em Sam Peckinpah se escreve a bala e sangue. O epicurismo trágico de John Huston ganha amplitude máxima no bailado sangrento da irreversível despedida de William Holden e seu bando de desajustados fora de época.

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1971 The Devils • A fé enquanto energia sexual subvertida. E quando a religião, a cultura e o estado se unem em um acordo de interesses, resta o tormento delirante como opção de comportamento. Veja em Tretas Políticas.
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1971 Vanishing Point • O ultimate movie em contra-cultura. Barry Newman é um ex-piloto de corridas que, na entrega de um veículo pelas estradas interestaduais, é perseguido pela polícia por um incidente banal. A caçada vira notícia e o motorista vira o último rebelde a ser abatido. Mais até do que Easy Rider, a aventura on the road de Joseph Sargent analisa uma sociedade controlada onde não há espaço para os discordantes. Literalmente "não há espaço" e Kowaslki, um excluído nato, não encontrará abrigo nem mesmo na amplitude do deserto.

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1973 Papillon • O espírito indomável atravessa toda e qualquer adversidade por causa de sua constituição. Não é escolha, nem coragem. É condição. Steve McQueen é Papillon, o prisioneiro que insiste em estratégias de fuga e é recapturado para cumprir penas extensas por quase toda sua vida. A resistência, enquanto força vital, condição intrínseca à existência, extrapola aqui a simples aventura viril para equivaler à aventura humana em sua condenação à vida.

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1974 Nós Que Nos Amávamos Tanto • Vittorio Gassman, Stefania Sandrelli e Nino Manfredi em um dos melhores filmes do diretor Ettore Scola e do período. A amizade entre três amigos se fortalece ou se deteriora conforme os acasos do trajeto. Não há escolha prévia para os laços humanos como a amizade, o amor e a família. Não há roteiro, o acaso determina. Stefania Sandrelli, na cena do jantar, sugere que processos poéticos seriam meios mais amplos de percepção e decifração de mundo e de vida. Mas não estão disponíveis a todos. A absoluta solidão de Gassman, calculista e premeditado, define a tragédia de forma ampla, destituído até mesmo de aceitar o encontro transcendente com a esposa falecida. Drama e humor como somente o cinema italiano soube produzir.

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1976 O Inquilino • A reciprocidade é uma ameaça em um meio social que antagoniza e exclui os que nele não se adequarem. Roman Polanski dirige e protagoniza o drama do inquilino que gradualmente é tomado pela personalidade da moradora anterior do apartamento que ocupa. E o meio social circundante, que não está configurado para acolhê-lo ou auxiliá-lo, apenas assiste passivamente seu declínio. Baseado em livro de Roland Topor.

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1976 Suspiria • Jovem integrante de uma academia de dança descobre que o local pode ser a morada de uma bruxa. Um delírio sensorial em uma forma que só o cinema poderia proporcionar. Esse já estava selecionado lá no Top 10 do Black Phillip, mas teve que entrar aqui.
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1983 O Rei da Comédia • Clássico do sadismo emocional. Robert De Niro é um humorista aspirante ao estrelato que sequestra seu ídolo Jerry Lewis para barganhar um momento de exposição midiático. Um notável show em agonia repleto de inserções surreais além de comicidade e tensão nervosa colocadas em lugares invertidos. A necessidade do reconhecimento, aceitação e aplauso visto em nível de patologia. O constrangimento coletivo causado pelo filme é genial e devastador. Não há mais onde se esconder quando nossos sonhos mais medíocres acabam expostos sem piedade em tela grande.

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1997 Lost Highway • Ninguém quer viver a própria vida, todos queremos ser algum outro personagem. Quando autoridades reconhecem a prisão indevida do jovem mecânico Pete, precisam soltá-lo e na volta à sua vida normal o filme reconstitui uma teia de fatos que se encadeiam entre visões idealizadas (p. ex. o jardim do vizinho é o mundo perfeito, a garota do mafioso é a mulher perfeita) e realidades indesejáveis. Mais do que uma vítima do entorno, Pete é vítima dos próprios desejos. Seus colapsos mentais são os pontos de transição para a vida idealizada do saxofonista bem situado (Bill Pullman), que pode ser apenas uma projeção do pobretão Pete. Lost Highway é um dos melhores momentos do diretor David Lynch, com o senso de incômodo e deslocamento perfeitos.

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