31 de janeiro de 2020

Esconderijo - um dos bons thrillers do épico-verborrágico de Dean Koontz.

Vassago acordou. Sem abrir os olhos, sabia que a noite estava próxima. Podia sentir o peso opressivo do sol afastando-se do mundo, deslizando para trás das bordas do horizonte. Quando abriu os olhos, a débil luminosidade que se filtrava por entre as aberturas do sótão foi uma garantia de que as águas negras da noite estavam se erguendo, devagar.

• Suspense pop na linha envolvente e bem escrita do autor. Hatch e sua esposa Lindsay sofrem um acidente automobilístico que os deixa à beira da morte. Hatch passa por um período de morte clínica constatada, mas um experimento da equipe que o atende o traz de volta à vida depois de um período recorde. Mas nem tudo é vantagem para Hatch: seu período "pós-vida" o condenou a uma espécie de conexão com o assassino Vassago, alguém que como ele, também esteve na zona fronteiriça entre a vida e a morte. Pior: Vassago e Hatch começam a ter visões compartilhadas de suas vidas e suas ações.

Pelo retrovisor, Hatch viu o corpo da mulher rolando, desconjuntado, sobre o asfalto da rodovia, sumindo no nevoeiro. Então, por um breve instante, viu seu próprio reflexo, do nariz até a testa. Estava usando óculos escuros... ao volante de um carro em plena noite. [...] O reflexo daquele espelho mostrava um rosto diferente do seu. 

Mas Vassago é movido por sua intenção em voltar ao Inferno, e por isso empenha-se em uma série de crimes brutais, preservando suas vítimas mutiladas como uma coleção em um subterrâneo abandonado. O esconderijo. E quando Vassago descobre quem é Hatch, decide que sua esposa e filha podem ser uma grande aquisição para a coleção.

Meio a contragosto, ele subiu de volta a rampa, afastando-se do cheiro purificante de carne morta e mergulhando num ar poluído pelos odores da vida, como um vampiro que precisa ir à caça entre os vivos embora prefira a companhia dos mortos.

Intrincado romance que peca unicamente no excesso de desdobramentos para cada detalhe que comporta. Koontz corre o sério risco de cansar a leitura com a grande quantidade de referências, explicações e embasamentos para cada coisa que cita durante a narrativa. Dessa forma, o livro se arrisca em uma leitura arrastada pela quantidade de detalhes que nem servem tanto à história e parecem só se justificar como preenchimento até se entregar ao conflito. O longo flash-back da juventude do assassino no parque de diversões é um grande exemplo dessa estratégia. Na literatura, esses desdobramentos narrativos podem configurar uma perigosa armadilha na intenção em criar um "épico pop". Sendo assim, Esconderijo revela uma história boa, mas que leva tempo demais até chegar ao conflito central. Na busca por engrossar uma narrativa literária pop, Stephen King foi dos poucos a se dar bem nas dosagens entre aceleração e atenuação de conteúdos.
Esconderijo teve mais sorte na versão para cinema. Virou um filme bacaninha com Jeff Goldblum e Jeremy Sisto em 1995, que acerta justamente no alinhamento mais concentrado dos elementos que o compõe. 
🕶
Leitura Radical
Muito detalhe o torna arrastado.
Leitura Passional
Terror pop na linha cinema-pipoca.
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Esconderijo

Hydeaway, Dean Koontz, 1992
Editora Record, Rio de Janeiro, RJ, 1994
380 páginas

dean koontz

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