18 de janeiro de 2018

J-Terror 2

Com muito cuidado e reservas, o Phillip se aventurou nos delírios do J-Terror contemporâneo. Dessa turma eu só conhecia o Battle Royal e já sabia que Takashi Miike é um cara perigoso! Então aí vai mais um punhado de filmes malucos que só poderiam ter sido feitos na terra do sol nascente! Como ligeira conclusão, é curioso notar os desníveis de qualidade entre produções caprichadas e outras assumindo o escracho B, o mesmo valendo para as ambições artísticas de cada obra...


Uzumaki (Spiral)
2000 Uzumaki (Spiral) • A jovem estudante Kirie vive em uma cidade que parece estar cada vez mais sendo tomada por forças desconhecidas. Forças que se manifestam em espirais visíveis e na obsessão crescente das pessoas por essas formas. Suspense e mistério que surpreende em sua discrição. Envolvente e bem realizado, mas não espere os delírios visuais que o cartaz e fotos sugerem. Eles estão inseridos como tempero, mas não são o centro do filme. Baseado em série de mangás. 😈😈😈


Battle Royal
2000 Battle Royal • Em um futuro indeterminado, o Estado, na impossibilidade financeira de cuidar de grandes contingentes de estudantes desajustados, submete-os a um jogo cruel de sobrevivência. Levados a uma ilha, onde se encontram armas diversas em pontos secretos, os estudantes terão que se exterminar um a um. Pelas regras, somente um sobrevivente deverá ser resgatado na manhã seguinte. Brutal e desesperador, e ainda com um senso estético de cinema B que faz toda a diferença no realismo urgente do filme. Teve uma sequência meio sem graça, Battle Royal 2. 😈😈😈

Visitor Q
2001 Visitor Q • Família desajustada recebe a visita-intrusão de um possível mafioso em fuga. Doentio é um termo próximo para definir Visitor Q. O filme se justifica (se justificaria) como crítica (ou um produto distorcido) da cultura contemporânea que perdeu o senso de limites quanto ao que pretende ver e produzir. Assumindo o risível, o filme não poupa o espectador e os personagens de situações grotescas: o pai tem caso extorsivo com prostituta, a mãe é espancada regularmente pelo filho que é roubado e surrado pelos colegas de escola. O pai documenta a situação em vídeo ao invés de ajudar o filho, mas ambos – pai e mãe – se entregam a um prazer sádico ao assassinar os agressores do rapaz. Uma maratona de situações surreais, explícitas, escatológicas e desconcertantes. Uma "caricatura do grotesco contemporâneo"! 😈😈

Ichi, the Killer
2001 Ichi, the Killer • No mesmo ano de Visitor Q, Takashi Miike lançou seu filme mais famoso. Derivado do gênero policial, Ichi, the Killer foi bastante notado por seus excessos. Quando um chefão do crime desaparece, sua gangue precisa encontrá-lo e evitar crises entre facções. Kakihara é um hitman temido até por seus parceiros por seus métodos incomuns e prazer em mutilação (e automutilação). Banido de seu grupo, ele forma sua própria gangue e sua trajetória o colocará frente a frente com  o misterioso assassino Ichi. Abusado em sua violência, mas também inserindo humor anárquico e sádico adequado ao contexto: o mafioso fatiado ao meio por Ichi, parece cena do UltraMan ou Tom & Jerry! E a violência é a essência do filme: violência como realização, como prazer, como justiça, como curiosidade, como vingança. Jovens e velhos entendem seu poder vital e a cultivam como podem. Ambientado em um Japão futurista, Ichi se aproxima de um filme de terror em sua profusão de sangue e detalhamento cirúrgico de sua violência.  😈😈😈😈

Dark Water
2002 Dark Water • Mulher separada e em dificuldades financeiras muda-se para velho apartamento com sua filha pequena. Pelas infiltrações de água, manifesta-se o espírito de uma garota que morou no andar superior e tenta se aproximar da menina. Discreto e misterioso. Concentra sua força no drama das personagens mais do que no terror ou suspense. Uma curiosa variação no gênero por apostar na discrição estética e emocional. Uma versão americana foi dirigida por Walter Salles em 2005. 😈😈

Ju-On (The Grudge, O Grito)
2002 Ju-On (The Grudge, O Grito) • Destacou o diretor Takashi Shimizu como nome importante no gênero. Ju-On é a expansão de um projeto anterior feito em vídeo por Shimizu. Uma assistente social atende uma família e descobre que na casa habitam espíritos perigosos. Narrado como episódios isolados de todas as pessoas que passaram pela casa e foram vitimas. O garoto Toshio marcou o filme, mas o filme como um todo, é tão leve que não entendi como fez tanto sucesso. Depois do êxito, o diretor Shimizu fez a versão americana em 2004. Então teve a sequência japonesa, também teve a sequência americana, e depois ainda o The Grudge 3, enfim, é mais do mesmo, mesmo! 😈😈

2003 Gozu • Bizarrice exemplar de Takashi Miike. Acho que agora entendi: Miike é um diretor que se dedica aos modelos propostos em cada projeto com eficiência de samurai. A orientação aqui é o cinema surreal. Minami é um motorista que trabalha para a Yakuza e tem a tarefa de levar o irmão que enlouqueceu para a "remoção". Mas no caminho o irmão desaparece e Minami passara por uma aventura demente para reencontrá-lo. Repleto de personagens estranhos e situações simbólicas é o tipo de filme que precisa ser visto mais vezes para a decifração por seu clima onírico constante. A relação imediata é com o cinema de David Lynch. A sequência de "nascimento" no final, remete à ficção cult XTRO (1983). Gozu também assume o humor em diversas passagens, ou assim parece (eu ri muito na morte do cachorrinho! Não devia!?!). 😈😈😈

Chakushin Ari (Uma Chamada Perdida)
2003 Chakushin Ari (Uma Chamada Perdida) • Takashi Miike volta a mostrar quem manda. Grupo de jovens recebe misteriosa chamada em seus celulares e morrem em aparentes acidentes. A jovem Yumi tenta descobrir o mistério sobre o vingativo espírito que provoca as chamadas e as mortes. Um ótimo suspense que se apóia mais na construção visual e narrativa do que em efeitos ou violência. Miike sabe tudo sobre luzes, sombras e o uso das imagens certas no momento certo. Apesar do filme ter seu roteiro calcado nos modelos ocidentais, é um dos melhores na linha espiritual moderna.  😈😈😈😈

2004 Marebito • Shinya Tsukamoto (diretor de Tetsuo) faz um cinegrafista que investiga os subterrâneos de Tokyo e encontra uma jovem misteriosa, acorrentada e inerte. Ele a leva para sua casa, mas a jovem não se alimenta de nada a não ser de sangue. Sangue humano! E Shinya precisa providenciar mais sangue para a jovem continuar viva. Variação ou aproximação no tema vampiros, com produção bem econômica e narrativa pausada, sem excessos. Mas é envolvente a seu modo e com um twist final bastante interessante. 😈😈

2005 Noroi • No formato found footage, um documentarista pesquisa sobre casos aparentemente isolados de loucura até chegar à lenda de um espírito maligno que parece ser a ligação entre todos os casos. Discreto e detalhista, e justamente por isso um pouco lento e discursivo demais. A premeditação de conteúdos é regra no found footage para a credibilidade. Noroi tem seus grandes momentos: a cena do espírito da garota cercado dos fetos cabeçudos (assim parecem) é assustadora, mas tem que passar pelo filme todo pra chegar nela. 😈😈

2008 Machine Girl • Sobrevivente de uma sessão de tortura, garota tem uma metralhadora implantada em seu braço decepado e parte para a vingança contra uma gangue de criminosos. Juvenil, sangrento e muito influenciado por linguagem de animes. Mais comentário aqui em 20 Coisas Feias!

Gurotesuku (Grotesque)
2009 Gurotesuku (Grotesque) • Para quem gostou dos curtas experimentais da série Guinea Pig, aqui é basicamente a mesma ideia levada a um longa. Doutor enlouquecido sequestra jovem casal e os submete a diversas formas de tortura. Tanto a psicológica quanto as mutilações físicas. Os extremos de submissão do casal proporcionam um prazer correspondente ao doutor. Setenta minutos de agonia e mutilação doentia em um acabamento estético bacana, adequado e com efeitos muito bons: os dedos decepados por moto-serra são grandes momentos do torture porn. Mas no geral ficou tudo meio gratuito. 😈😈

Tokio Gore Police
2008 Tokio Gore Police • Em um Japão futurista, a policial Ruka está determinada a encontrar os assassinos de seu pai, ex-policial. Descobre uma trama envolvendo a alta chefia da polícia e o grupo chamado de "engenheiros", seres mutantes assassinos. Insano, hilário, anárquico e sangrento. Pena que ficou com cara de vídeo e é muito fake e despojado em seus efeitos. Assume referências pop (Blade RunnerTerminator, Darth Vader), assim como assume o escracho em suas ideias: os violentos comerciais de TV são impagáveis e os melhores momentos do filme. No geral, vale pelo esculacho! 😈😈

Kuime (Over Your Dead Body)
2014 Kuime (Over Your Dead Body) • Pra fechar, mais um Takashi Miike fazendo full circle com um filme dos anos 50. Grupo teatral faz ensaios para uma adaptação de Ghost Story of Yotsuya (veja Parte 1). E a trama de intrigas e vinganças do além começa a encontrar seus paralelos na vida dos atores. Se a vida imita a arte, melhor irmos com calma! Visualmente é espetacular e com um senso de direção que valoriza o drama tanto na realidade da peça quanto nos paralelos da vida real. Alcança dessa forma uma assombrosa "terceira dimensão" perceptiva. Um filme riquíssimo em leituras e que ultrapassa os limites do terror corriqueiro. E na tradição do diretor, alguns banhos de sangue estão garantidos. Uma das melhores obras do fantástico contemporâneo! 😈😈😈😈

Sim, sinhôro! Aí foi então na Parte 1 e Parte 2, uma maratona de uns trinta filmes japoneses de terror, fantasia, suspense. Mas depois me lembrei de um filme que eu gostei muito quando vi que foi The Bride of White Hair (1993)! Sensacional! Por que não coloquei nesta seleção!? É que esse é chinês! Caraca, então né... Chineses e coreanos também têm um cinema notável em terror e fantasia! E isso pede uma nova lista de destaques... um dia!

Chovendo sangue! - Ruka termina mais um dia de serviço...

Nenhum comentário:

Postar um comentário