Podia fazer isso, produção? Não creio! Cinema de horror e fantástico funciona como uma satisfação avessa ao convencional. Em uma produção cultural invariavelmente voltada ao padrão e esse padrão servindo à concordância com regras em vigor, o alternativo é a eterna busca por revisões e renovações. Para quem produz, é uma possibilidade de pesquisar, experimentar e exercitar modos narrativos alternativos, para dizer o mínimo. Revisar o estabelecido, desafiar o coro dos contentes, nadar contra a corrente só pra exercitar, já recomendava Cazuza...
Mas aí, quando nós, os apreciadores de cinema weird, chegamos ao cinema oriental, vemos como somos amadores nas nossas taras reprimidas em uma sociedade sob controle de dogmas morais, religiosos e mesquinharias decorrentes. J-Weird é "ver para crer" e o Black Phillip se divertiu muito caçando aqui um punhado de coisas doentias em três décadas da era-de-ouro do sleazy-japa-desvirtuado. Fica aberta a questão de qual processo cultural gerou e consumiu produtos desse calibre...
1965 Kaidan Semushi Otoko (House of Horrors) • A jovem Yoshi acaba de perder o marido e recebe a escritura de uma mansão que ela nem imagina ser de posse dele! Na visita ao local junto a outros pretendentes à construção, descobre que a casa é amaldiçoada por uma entidade e todos os que ali entrarem estão condenados à morte! Compêndio de clichês de horror em um filme que começa mediano e vai enlouquecendo em abusos e explicitação até o final. Considerando o ponto de partida convencional, são surpreendentes as vias do roteiro até a conclusão. Uma surpresa em terror-pop. 👹👹👹
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1968 Joy of Torture • O diretor Teruo Ishi como muitos de sua geração, começou dirigindo dramas mafiosos e policiais e partiu para filmes demenciais adiante de sua época. Este Joy of Torture, é um exercício em sadismo gráfico em três episódios sobre punições a adultérios ou traições (esteve disponível em nosso mercado de VHS). Tecnicamente perfeito e assustador em sua intensidade. Joy of Torture foi seguido de uma segunda parte em 1969 menos sádica e acentuando a erotização com muita nudez e tatuagens. 👹👹👹
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1969 Blind Beast • Mais ou menos uma versão hard de O Colecionador. Michio é um escultor cego que rapta Aki, uma bela modelo para lhe servir de orientação a sua nova obra. Por sua deficiência visual, Michio recorre ao tato para seu trabalho e a jovem tentará diversas estratégias para escapar do raptor. Mas o convívio fará Aki sucumbir à demência do escultor. Exemplar thriller de confinamento em clima de pesadelo que escala até seu trágico final. Um show estético de sombras e volumes no estúdio repleto de esculturas gigantes. 👹👹👹👹
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1969 Go Go Second Time Virgin • Estranhíssimo drama em média metragem (60 min), situado entre o filme de estudante e a estilização conceitual. Uma jovem órfã é estuprada por uma gangue de delinquentes no topo de um edifício e perde a razão de viver. Um amigo igualmente desajustado pode ser a solução, se ele concordar em matar a jovem desiludida. Produção precária, mas com suficiente inventividade visual em seus quadros planejados, inserts coloridos (o filme é preto-e-branco) e diálogos minimalistas. 👹👹
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1969 Violent Virgin • Mais ou menos o equivalente nipônico a um road movie de Russ Meyer. Gangue de rapazes e moças, sob ordens de um mafioso, pune um casal de namorados com constantes humilhações. O rapaz consegue escapar e se vinga do grupo. Estilização em produção B que vale mais como uma curiosidade em underground japonês. 👹👹👹
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1969 Horror of Malformed Men • Demencial e psicodélico, fruto da mente doentia de Teruo Ishii. Recém saído de um sanatório, homem investiga seu passado na ilha de um cientista louco. Veja o post.
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1969 Orgies of Edo • Outro Teruo Ishii no prolífico ano de 1969. Este é um dramalhão em três episódios desenvolvendo situações de humilhação ou traições e taras. Todos terminam em confrontos violentos e todos estão repletos de explicitação gráfica. O cúmulo é a evisceração de uma grávida! 1. Uma jovem se prostitui para pagar dívidas. 2. Uma mulher só tem prazer com homens mutilados. 3. Um sádico encontra a mulher perfeita que se submete às abusos físicos. Como Horror of Malformed Men, uma produção impecável adiante de sua época. 👹👹👹
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1971 Demons • Gengobei é um samurai errante que é tapeado em uma trama para lhe desviar uma grande soma em dinheiro. Mas ele rastreia o grupo de trapaceiros e se empenha em uma sangrenta vingança. Nesse caminho, acaba se tornando ainda mais cruel e insano do que os criminosos que o enganaram. Estilizado drama em preto-e-branco, lento e repleto de sequências imaginárias projetadas pelo protagonista e mortes em câmera lenta incrivelmente fotografadas. 130 minutos! 👹👹👹
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1973 Sex and Fury • Aventura ambientada no início do século XX. Ochô Inoshika é uma jovem marginal vivendo no mundo dos jogos e das gangues. Está em busca de três gangsters que mataram seu pai, um agente da lei. O velho tema da vingança em uma versão com acentuação na aventura e erotização e não tão sádica como a média. Tecnicamente na boa média do gênero com destaque a uma ótima sequência em câmera lenta com Ochô sendo atacada no banho por um grupo de espadachins. Participação de Christina Lindberg (Thriller, a Cruel Picture) como uma agente inglesa a serviço dos chefões. 👹👹👹
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1973 Female Yakuza • Mais uma cine-demência do taradão Teruo Ishii dando sequência às aventuras de Ochô Inoshika (de Sex and Fury). No Japão contemporâneo Ochô agora tenta vida nova em uma comunidade de marginais. Depois de ser injustamente incriminada por uma gangue, procura vingança contra o grupo, que trafica drogas nas vaginas das prostitutas! Sevícias sexuais a cada dez minutos, mas em clima geral de sátira. Termina em uma batalha entre a mulherada pelada e as gangues rivais, tiroteios, katanas cortando geral, sangue e urina!!! Na trilha sonora, muito acid-jazz e uma balada pop de encerramento. Tarantino deve ter amado. 👹👹👹
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1974 Lady Snowblood • Clássico épico do japa-exploit. A jovem Yuki tem um único propósito na vida: vingar a mãe, morta em seu nascimento e exterminar a quadrilha responsável por sua desgraça. Narrado em capítulos e com um belo tema na trilha musical (Shura no Hana, revivida por Tarantino em Kill Bill), o filme é mais dramático do que de ação, mas não dispensa alguns grandiosos banhos de sangue nos confrontos. 👹👹👹👹
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1974 School of the Holy Beast • Um nunxploitation made in Japan! A jovem Maya, que ingressa em um convento para se submeter a purificação, na verdade busca desvendar a misteriosa morte de sua mãe. Curiosa mistura pop de drama, humor, erotização, violência e até alguma posição politica citando as matanças na Segunda Guerra. Tecnicamente na boa média da época com produção consistente e foto bem cuidada. 👹👹👹
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1974 Wife to Be Sacrificed • A pobre Akiko é sequestrada por seu ex-marido e submetida ao cárcere em uma cabana perdida na floresta. O marido é um fugitivo da lei, um pervertido que a submete a torturas e humilhações constantes. Na linha doentia do gênero, este é dos mais ousados em escatologia, depilação, estupros, bondage e até uma sequência de lavagem intestinal em uma vítima! Tecnicamente exemplar em sua foto sombria e sufocante, mas gratuito, como manda a cartilha sleazy. 👹👹
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1974 Chi o Su Bara (Evil of Dracula) • Michio Yamamoto fez uma trilogia de vampiros com Vampire Doll, este Evil of Dracula e o fraquinho Lake of Dracula. A proposta é a repetição de modelos góticos ocidentais, mais especificamente os filmes da Hammer. Como um dedicado aluno, Yamamoto fez sua lição de casa e entregou sua redação ginasiana que repete clichê por clichê os ingredientes do gênero. E a graça é justamente a simplicidade formal na história do professor Shiraki que ingressa em uma escola de garotas onde o diretor e sua esposa são vampiros que estão atacando as alunas. Com foto cuidadosa disfarçando bem a produção B, o diferencial é que as mordidas são nos seios das vítimas e não nos pescoços! 👹👹
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1975 Hausu • Esse serve a ilustrar o verbete "filme bizarro" em qualquer dicionário de cultura trash! Feito nos moldes de uma produção televisiva, é uma das mais famosas extravagâncias do cinema japonês. Veja o post.
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1976 Shogun's Sadism • Dois média metragens dos mais insanos da lista. No primeiro um poderoso senhor feudal se diverte com torturas e sevícias a diversas de famílias católicas caçadas pela nação. O segundo insere bastante humor no drama de um ator (quase um bobo-da-corte), que se submete a trabalhos rigorosos para pagar a dívida com um senhor feudal. Violento e sádico com destaque ao esquartejamento puxado por bois, mas resvalando no caricatural pelos excessos. 👹👹
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1977 Fairy in a Cage • Apelação de primeira incluindo bondage e tortura. A senhora Namiji, bem situada socialmente é vitima de uma articulação por um poderoso juiz e um militar e acaba encarcerada e torturada de diversas formas. Doentia produção entre o drama e a pornografia, que acrescenta alguma acentuação política fazendo lembrar Saló. Mas a gratuidade o mantém restrito ao circuito sleazy B.👹👹
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1980 All Women Are Whores • Dupla de fotógrafos sequestra garotas e as submetem a humilhações para a produção de fotos clandestinas. Mas a parceria irá se deteriorar em desentendimentos que levarão à violência. O cinema pop perdendo a qualidade técnica dos anos anteriores e antecipando a era B do mercado de homevideo. Muito bondage e ousadias às raias do explícito. Correto tecnicamente e repetindo as situações insanas do sub-gênero, mas sem o mesmo atrativo das produções que o precederam. 👹👹
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1986 Entrails of a Virgin • Especializado em alternativos eróticos, o diretor Kazuo Komizu partiu para o fantástico nesta bizarrice. Uma equipe de produção de fotos eróticas se abriga em uma casa abandonada na floresta e logo uma entidade saída da mata os ataca. Entre o pornô-soft e o terror, integrou uma "trilogia-de-dois" junto a Entrails of a Beautiful Woman. 👹
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1986 Entrails of a Beautiful Woman • Uma enfermeira atende uma jovem que foi drogada e estuprada por uma gangue de traficantes e decide vingá-la. Rastreia os responsáveis e se infiltra no submundo, mas acaba sendo descoberta e também drogada. A poderosa nova droga chamada Angel Rain provoca sua mutação em uma criatura monstruosa que ataca com seu enorme pênis, que é uma serpente dentada que mutila as vítimas!!! Produção precária entre o pornô-soft e o terror. 70 minutos de sleazy às raias do amador. 👹
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