Mais podreiras italianas. Como foi dito na seleção anterior de sleazy, a abrangência é inalcançável e se continuar contando dá pra continuar fazendo seleções pra sempre. Então segue mais uma lista de 20 coisas B, trash, apelações. Algumas bem bacana de se ver, algumas que rendem mais do que comédias em seu inadvertido vale-tudo sem noção. Nesta lista a linha unificadora é a mistura de gêneros (em cada filme) o que faz com os título não pertençam, a rigor, a nenhuma linha de produção consagrada no consumo popular (giallo, erótico, poliziotteschi, gótico...)
1967 L´Occhio Selvaggio • Paolo Cavara foi um diretor que iniciou carreira com os famigerados documentários apelativos dos anos 60, entre eles co-dirigindo o famoso Mundo Cão de 1963. Neste seu primeiro filme de ficção, o diretor lança uma curiosa crítica ao gênero mondo na história do xará Paolo (Philippe Leroy) diretor de documentários especializado em excentricidades sociais. Para conseguir suas filmagens ele provoca os envolvidos e provoca situações violentas e perigosas para si próprio e até para sua equipe. "A verdade é chata. A mentira é que é divertida", diz ele entre diversos comentários ácidos que o filme lança contra os responsáveis pelos chamados shockumentaries. A rigor não seria um filme sleazy: sua forma e produção são bastante boas, mas o comentário sobre a intenção em chocar a platéia é a base de todo o cinema apelativo. No final o operador de câmera (Gabriele Tinti) enquadra o próprio Paolo como a maior aberração. 😈😈😈
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1969 Top Sensation • Grupo de milionários em férias fica com seu iate encalhado e quando visitam a ilhota próxima travam contato com um simplório casal de fazendeiros. A matriarca rica tem um filho deficiente mental que se interessa pela jovem camponesa enquanto os demais se divertem perversamente com a ingenuidade do casal levando-os para o iate para flertes e bebedeiras. O contato entre classes terminará tragicamente. Curioso exemplar do cinema kitsch, datado mas ainda assistível. Dispara comentários e ironias sociais, mas fica indeciso entre drama, chanchada, erotização ou suspense. Edwige Fenech antes da fama é uma das coadjuvantes. 😈😈
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1971 Indagine di un Giornalista Sulla Mafia del Sesso • Para quem achava que só no Brasil teve boca do lixo, aqui um exemplar "euro-brazuca"! O título já é metade do roteiro com a investigação de um jornalista sobre a máfia do sexo. Na verdade esse é o relançamento italiano de Eros-Center Hamburg de 1969, produção alemã, dirigida, escrita e estrelada por Gunter Hendel! Gunter é Eddy Green, um escritor que se infiltra no submundo do mercado do sexo e tenta ajudar uma jovem prostituta. Para além do filme B, em nível amador, displicência geral e golpes de karatê dos mais fajutos! Edição de som absurda, totalmente deslocada, com temas pop tocando em sequência ininterrupta (e ainda pirateando a trilha de Piero Umiliani para Sweden Heaven and Hell). Reservado a aventureiros do gênero. 💣
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1972 Delirio Caldo • Psiquiatra que auxilia a polícia em casos de violência na verdade é um pervertido que oferece carona a belas jovens de mini-saia para atacá-las em locais desertos. Sua violência é uma compensação para sua impotência! Mistério desajeitado com certas ousadias em nudez e um roteiro curioso que insere mortes alheias às taras do doutor para justificar mais mistério e mais investigação. Previsível e datado, mas com alguns cuidados visuais interessantes entre o kitsch e o gótico. Até vale o risco. Trilha pop-retrô de Gianfranco Riverberi. 😈😈
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1972 Sette Scialli di Seta Gialla • Anthony Steffen é um pianista cego que tenta decifrar os misteriosos crimes envolvendo uma agência de modelos. Na onda dos giallos em alta no começo dos anos 70, este é uma descarada tentativa de copiar o modelo de Dario Argento. Tem o protagonista cego, um gato preto usado nos crimes, invenções visuais em excesso e até o final de dupla revelação! E ainda esse título que parece parlenda infantil. Mas não é ruim, é cuidadoso na estética, tem música de Manuel de Sica (filho de Vittorio) e uma das mais sangrentas mortes no chuveiro já feitas! Pena que a cara-de-pau em copiar Dario Argento pese tão negativamente. Para completistas do giallo. 😈😈
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1973 Il Plenilunio Delli Vergine (Devil´s Wedding Night) • Franz e Karl são gêmeos que descobrem o possível paradeiro do anel dos Nibelungos e partem em sua busca. O anel pode estar no castelo que pertenceu ao Conde Drácula e a visita de Franz ao local coincide com um evento que se repete a cada cinquenta anos que leva cinco virgens do vilarejo próximo ao castelo. E a condessa ali residente pretende reencarnar o Conde Drácula em um dos irmãos. Mistura de referências folclóricas em um gótico-erótico de acabamento visual bem decente. Se por um lado o filme ganha por sua autenticidade visual de cenários naturais e castelos reais, perde feio pela direção e atuações fake no limite do ensaio. Talvez por isso tenha se tornado um cult. Uma das primeiras fitas em nosso mercado de VHS (O Castelo de Drácula). 😈😈
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1973 Riti, Magie Nere e Segrete Orge nel Trecento • Renato Polselli é sozinho uma lista recomendável de sleazy (Delirio Caldo aí de cima, também é dirigido por ele). Este aqui é um imbroglio maledeto de elementos alinhados caoticamente. A intenção era "criar estilo", só que não deu... Veja o post.
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1974 Adolescence Pervertie • Co-produção franco-italiana estrelada pela eterna coadjuvante Femi Benussi. Ela é uma professora que se apaixona por um aluno em pleno período de conflitos políticos entre estudantes, orientadores e autoridades. Título forçado para um estranho drama entre as aspirações do cinema político e a pura pornochanchada para as bilheterias. Tem ousadias como nudez masculina e a super-curvilínea Femi se entregando a uma relação lésbica, mas não resolve nenhum dos conteúdos a que se propõe. Bela trilha retrô de Franco Micalizzi (Trinity). 😈
1974 Il Corpo • Pertenceu a uma trilogia feita pela mesma equipe que incluiu os filmes La Ragazza Fuoristrada e La Ragazza con la Pele di Luna. Em todos, o destaque maior foi das maravilhosas trilhas sonoras retrô de Piero Umiliani. A etíope Zeudi Araya vive com o pescador Enrico Maria Salerno em uma habitação costeira até que a chegada de Leonard Mann desequilibra a relação. Il Corpo é mais ou menos um noir-afro-tropical, com o jovem casal tramando dar um sumiço em Salerno. E, na tradição noir, as consequências serão trágicas para todo mundo. 😈😈
1975 Nude Per L´Assassino • Quase um giallo, mas com o elenco tirando a roupa toda hora ficou mais para pornochanchada. Um assassino vestido de motoqueiro, todo de negro, vai matando os integrantes de uma agência de modelos. E o roteiro é esse: quem tira a roupa morre! Mais um suspense notionless do especialista Andrea Bianchi. No elenco, as curvas rechonchudas de Edwige Fenech e Femi Benussi enchem a tela e Nino Castelnuovo é o fotógrafo playboy que tenta desvendar os crimes. Muita nudez e músicas sensuais em um típico sleazy de sua era correspondendo aos pulps dos livros de bolso, quadrinhos e fotonovelas. 😈😈
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1975 Malocchio • O playboy Jorge Rivero é atormentado por uma possessão que o induz a crimes. Anthony Steffen é o investigador que acompanha o caso e começa a testemunhar eventos sobrenaturais. Richard Conté é um doutor que tenta ajudar Rivero. Muito falatório e erotização atenuada. Também fica devendo em ação. Representa exemplarmente o cinema B da época com estrutura, narrativa e efeitos, próximos do cinema brasileiro. Título alternativo Eroticofollia. 😈
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1976 La Finne Dell´Innocenza • A jovem Annie Belle em aventuras episódicas sempre apimentadas por alguma situação erótica. Annie é a acompanhante de um industrial que viaja para Hong Kong e envolve-se em perigos diversos. Como muitos dos filmes do período, este também tem produção mediana e como virtude maior uma boa trilha sonora pop. Dirigido por Massimo Dallamano que em dias melhores fez Cosa Avette Fatto a Solange? (1972) e La Polizia Chiede Aiuto (1974). 😈😈
1975 Un Urlo Dalle Tenebre • O jovem Piero fotografa a misteriosa aparição de uma mulher e passa a ser perseguido por esse espírito até a possessão de sua mente e corpo. Familiares e uma freira precisam isolar o jovem que se torna cada vez mais agressivo. A única chance de afastar o espírito será com o auxilio de um exorcista e entra em cena o eterno chefão mafioso Richard Conté na figura do padre exorcista. Na onda das cópias e variações de O Exorcista este é um exploit exemplar com o péssimo protagonista e a premissa roubada de um sucesso alheio. E na falta de cinema apelaram para nudez frequente da súcubo! Título inglês: Naked Exorcism! Último filme do veteraníssimo Conté. 😈
1976 La Orca • Um título meio deslocado desta seleção sleazy. Eriprando Visconti foi um diretor especialista em tratar de forma séria temas apelativos. Ou assim parecia. Na onda dos casos de sequestro na Itália do período e especialmente pela repercussão do caso Patty Hearst (1974), este La Orca trata de uma garota sequestrada que começa a ter intimidades com seu jovem carcereiro. Então o filme opta pelo comentário sério com as repressões do rapaz que são satisfeitas em delírios e bolinações noturnas e a vida de crimes da quadrilha como consequência de dificuldades financeiras. Mas também não vai muito além da apelação óbvia com as cenas de uso do banheiro, nudez frontal e submissão. Um drama consistente entre o cinema social e o exploit barato. 😈😈
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1977 Emanuelle and the Last Cannibals • Dirigido pelo rei do sleazy Joe D´Amato (Aristide Massaccesi) este é um exemplar da série Black Emanuelle novamente com Laura Gemser como protagonista. Agora a repórter Emanuelle vai até as selvas amazônicas para documentar a tribo dos apiacas, supostamente a última tribo de canibais existente. Gabriele Tinti é um antropólogo que a acompanha e dirige a expedição. No cardápio: mutilações, eviscerações, ritos e várias cenas de sexo soft. No epílogo, Laura sai das águas como uma entidade, sob fogos de artifício, para salvar a amiga de um sacrifício. Segue a média da série e é suficientemente dinâmico em sua narrativa. 😈😈
1979 Giallo a Venezia • Leonora Fani e Gianni Dei (o Patrick italiano) são um jovem casal encontrado morto e as investigações e interrogatórios para desvendar o crime compõe este thriller que se tornou cult pelo desarranjo geral. Tentativa capenga de repetir os elementos que fizeram a fama do suspense italiano como contrapontos na trilha sonora pop-romântica, libertinagens no limite do pornô (Leonora sem dublê), violência explícita (desmembramentos, violência genital) e forma fílmica tentando criar dinamismo ao alternar flash-backs, mas deu tudo errado e como sintoma de época Giallo a Venezia antecipou o fim de uma era muito rica e criativa. Participação de Mariangela Giordano sendo serrada em pedaços e colocada na geladeira!!! Lançado em VHS como Pesadelo em Veneza (pela Video Cassete do Brasil). 😈
1980 Le Notti Erotiche Dei Morti Viventi (Sexy Nights of the Living Dead) • Segundo exemplar de Joe D'Amato na lista (só dois?!). Bizarro e hilário mix de gêneros derivado de filmes de mortos-vivos, jungle adventure (filmado na praia!) e erotismo sleazy! George Eastman é um marinheiro que leva um empresário e sua namorada a uma ilha supostamente deserta. O local deverá servir à construção de um resort, mas aparece Laura Gemser e adverte sobre os perigos locais. Logo um bando de mortos-vivos aparece para atacar o elenco. Muita putaria em estrutura típica das chanchadas dos anos 70, mas se você aguentar, depois de uma hora e trinta minutos (!!!) dá pra ver o George Eastman decapitando manequins! Ilustra (na produção do diretor e no mercado popular) uma linha divisória entre o cinema-pop dos anos 70 e o mercado erótico dos VHS nos anos 80. 😈
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1980 Orinoco: Prisoniero del Sesso • Mais um Anthony Steffen. Aqui ele é líder de um grupo de revolucionários sul-americanos que salva a mulherada prisioneira de um campo de mineração. Mix de jungle adventure, prisão de mulheres (WIP) e erotização: teve cenas explícitas enxertadas ou removidas conforme a versão (Orinoco ou Hotel Paradis). Dentro de seu nível B até que não é tão medonho como poderia, tem foto decente e narrativa fluente, pena que o diretor é preguiçoso e o elenco fica disperso. Curiosamente o personagem chamado Orinoco (o barqueiro que conduz prisioneiras ao campo) tem importância secundária no filme! Também curiosamente, o mesmo diretor Edoardo Mulargia, o mesmo elenco e equipe fizeram Femmine Infernali no mesmo ano! (na mesma semana?!) que também é sobre cárcere feminino nas selvas. 😈
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1982 Extrasensorial (Blood Link) • O diretor Alberto de Martino foi um dos mais prolíficos profissionais do cinema pop italiano: fez gladiadores, faroestes e filmes de terror. Aqui ele tenta a fórmula de um filme de Brian de Palma, com violência e erotização. Michael Moriarty tem visões dele próprio assassinando belas mulheres e começa a investigar os casos até descobrir que tem um irmão gêmeo desequilibrado. Produção acima da média com bons cuidados fotográficos, música de Ennio Morricone e narrativa cuidadosa, mas dois Michael Moriartys no mesmo filme é demais para qualquer diretor. O resultado é excêntrico (para usar um termo educado) e se perde na atuação risível do protagonista... Participação de Cameron Mitchel e Penelope Milford. 😈😈
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1982 New York Ripper • Famoso video nasty dirigido por Lucio Fulci entre o thriller policial e as explicitações splatter. Detetive investiga casos de assassinato por um maníaco que mutila suas vítimas. Disposto a provocar o detetive, o assassino faz chamadas telefônicas que levam a pistas falsas. Fulci foi uma espécie de Stanley Kubrick da podreira, sempre buscando superar e fazer a cena definitiva em excesso violento! Só ele teria a cara-de-pau de fazer uma gilete cortar um mamilo ao meio!!! E o excesso sádico é que caracteriza o filme em seus melhores momentos. Cumpriu o prometido com tanta vontade que virou cult! 😈😈
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