Go weird young man! Weird Western em filme. Quando vi aquela cena do Era Uma Vez no Oeste com o bando de Frank saindo de trás das moitas em meio a poeira levantada pelo vento, não tive dúvidas: é uma cena de horror! Entidades saídas "da terra" e levando morte à família do fazendeiro ao som de uma arrebatadora marcha fúnebre. A leitura poética é inevitável assim como em outras ocasiões do faroeste no cinema que sempre se favoreceu de seu imaginário mítico.
Exemplo rápido: Alan Ladd e Jack Palance como o "anjo do bem" e o "anjo do mal" em Shane (Os Brutos Também Amam). Outro: a fúria transcendente de John Wayne em Rastros de Ódio. Ou a presença misteriosa do forasteiro que "voltou dos mortos" em High-Plains Drifter (O Estranho Sem Nome, 1972) de Clint Eastwood ou ainda o personagem semelhante que ele fez em Pale Rider (1985), uma disfarçada refilmagem de Shane. E veja a qualidade fotográfica de Por Um Punhado de Dólares se não lembra muito os euro-góticos do mesmo período.
E depois que o cinema, no curso de sua história, sedimentou signos no imaginário popular, as produções, especialmente as de gênero, foram reciclando, citando e repetindo configurações imagéticas em diversas ocasiões e em filmes de qualidade também diversa. Com o faroeste não seria diferente. O cult El Topo de Jodorowsky recicla o expressionismo natural aos spaguetti-westerns em um épico incomparável de símbolos episódicos. Dust Devil de Richard Stanley referencia abertamente a estética de Sergio Leone, dos casacões e lentidão ritualística. E o cinema mexicano, que vem marcando presença no fantástico há décadas, fez suas misturas de elementos de terror, mistério e faroeste que datam da década de 1950!
Pois então, o Felipe Preto faz aqui uma seleção de cruzamentos de ingredientes de terror e faroeste em um subgênero que nunca foi oficialmente constituído, mas já tem uns cinquenta anos de tentativas!
1956 El Pantano de Las Animas • Gaston Santos é o herói, uma espécie de detetive do velho oeste que investiga o desaparecimento do corpo de um fazendeiro falecido. Gaston se aventura entre traições, emboscadas e uma criatura aquática que ataca pela região. Produção mexicana cotada entre os piores filmes da história. Mas não é essa desgraça toda, é uma aventura repleta de heroísmo retrô, humor e pancadarias cômicas em nível matinê. Destaque ao monstro aquático em cenas feitas numa piscina! Gaston (e seu cavalo Rayo de Plata) seguiu carreira em outros filmes de faroeste e mistério. 😈😈
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1957 El Jinete Sin Cabeza • A cantora Flor Silvestre interpreta uma juíza que chega a um vilarejo para desvendar seus mistérios e o filme mistura tudo o que pode em sua dinâmica narrativa: humor, brigas de bar, gritos noturnos, inserção de canções folclóricas, um corpo emparedado, uma mão decepada que circula por portas e gavetas, um pouco de lucha libre, uma irmandade de encapuzados com máscaras de caveira, mortos ambulantes e o cavaleiro sem cabeça como o misterioso herói desse divertido pasticho! O diretor Chano Urueta mistura no mesmo caldeirão diversas referências populares das matinês em um resultado amalucado e descompromissado que iniciou uma série com o Cavaleiro Sem Cabeça! Veja mais em terror mexicano. 😈😈😈
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1959 Curse of the Undead • Um pistoleiro vampiro aproveita o atrito entre dois grupos de fazendeiros para fazer vítimas em uma cidadezinha. Faroeste pobrinho de dar dó, mas que vale na história pela curiosidade. 😈
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1967 Django Kill • Esse é um spaguetti-western que extrapolou na direção da caricatura genérica. A direção é do bissexto Giulio Questi, um vanguardista que deixou apenas três longas na filmografia (o thriller-pop-art La Morte Ha Fatto L'uovo, e o enigmático Arcana). Tomas Milian é um pistoleiro que aparentemente regressa dos mortos depois do assalto a um carregamento de ouro e de ter sido traído pelos companheiros. Curiosamente a justiça acaba sendo feita pelos moradores de uma cidadezinha que massacram a quadrilha! E o roteiro precisa encontrar um novo oponente a Milian: uma quadrilha de pervertidos que estava na caça do ouro roubado e atua sob as ordens de um magnata local! Insana tentativa de ultrapassar os padrões expressionistas do spaguetti-western. A versão em DVD restaura momentos sangrentos ausentes da cópia americana. 😈😈😈
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1969 The Strangers Gundown (Django, o Bastardo) • O brazuca Antonio de Teffé (Anthony Steffen) é um misteriosos forasteiro que chega a uma cidade para acertar contas com antigos traidores. Sua figura espectral e suas entradas e saídas de cena e sua mira infalível sugerem uma entidade em ação vingativa. Na média baixa dos spaguetti-westerns, este teve menção como suposta influencia ao High-Plains Drifter de Eastwood. 😈😈
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1972 The Legend of Hillbilly John • Fantasia passada em época moderna sobre um jovem violeiro em busca de ouro nas montanhas. Com seu violão que afasta espíritos malignos, Hillbilly John vive situações episódicas intercaladas por vinhetas musicais, entre elas uma feiticeira na montanha, um pássaro monstro (em stop-motion!) e um dono de terras que pode ser o próprio Diabo. Em um processo de "limpeza espiritual" com subtema político, Hillbilly John termina indo na direção da Casa Branca! Curiosidade perdida na história que está mais para a fantasia folk do que para o faroeste consolidado na cultura pop. Pelas fotos achadas na internet já dá pra ver que ninguém se ocupou em relançar a obra... 😈😈
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1972 Cut Throat Nine (Condenados a Vivir) • Produção espanhola entre o alternativo e o esquisitão. Oficial da cavalaria conduz um grupo de prisioneiros por região montanhosa, mas após um acidente nas estadas nevadas o grupo escapa revertendo a situação e fazendo do oficial e sua filha, prisioneiros. Suspense filmado nos Apalaches, com ótima ambientação fotográfica e momentos sangrentos em explicitação. Vale como curiosidade para os fãs de weird movies. 😈😈😈
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1975 Inn of the Damned • Estranhíssima produção australiana de um período de grandes filmes do chamado ozploitation (veja a nuvem de tags). Uma misteriosa estalagem dirigida por um casal de idade começa a ser investigada quando a maioria dos viajantes, que por ali passam, desaparece depois da primeira noitada. Irregular na alternância entre humor, suspense e horror e ainda com uma narrativa que demora muito a se constituir. Uma curiosidade perdida e de interesse restrito. Participação da veteraníssima do cinema inglês, Judith Anderson. 😈😈
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1977 Shadow of Chikara • Joe Don Baker é um capitão do exército que depois da Guerra Civil busca uma fortuna em diamantes perdida em uma montanha. Mas o local é guardado por entidades que vão dizimando qualquer grupo que se aproxime da região. Sondra Locke é uma jovem sobrevivente de um massacre, resgatada pelo capitão. Fantasia e faroeste em um resultado meio desajeitado, mas com a autenticidade fotográfica do gênero. Esse fica entre o cult e o dispensável. 😈😈
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1988 Ghost Town • Com produção de Charles Band este é um daqueles filmes B que tanto caracterizaram a era de ouro do VHS. Frank Luz é um policial que busca uma jovem desaparecida na estrada. Na investigação, ele encontra uma cidade fantasma dominada por um fora-da-lei invencível que aprisiona os habitantes. Divertida experiência estética com ótimo rendimento visual, mas que peca no ritmo meio lento e especialmente na ausência de uma trilha sonora mais presente. Resta como virtude seu empenho em cenas fotograficamente muito boas. 😈😈
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1989 Sundown, Vampire in Retreat • Aventura satírica dirigida por Anthony Hickox depois do bem recebido Waxwork. Dois grupos rivais de vampiros se escondem em uma velha cidadezinha no deserto. Um deles tenta desenvolver uma fórmula de sangue sintético para não ter que atacar os humanos, a outra turma pretende destruí-los e voltar aos velhos hábitos. Simpático mas capenga em produção, com belas externas em desertos contrastando à pobreza flagrante dos cenários. O veterano John Ireland é um dos líderes, David Carradine é um famoso vampiro e Bruce Campbell é descendente de Van Helsing. Simplório, mas pelo menos diverte em sua sucessão de ideias e humor de quinta série. 😈😈
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1993 Silent Tongue • Richard Harris precisa restaurar a sanidade do filho após o falecimento de sua esposa índia. Para isso acaba roubando uma jovem atuante em um grupo itinerante que se apresenta para pequenas audiências. Enquanto Harris foge com a garota sequestrada, seu filho (River Phoenix) discute com o espírito enfurecido da esposa falecida. Intrigante fantasia étnica que assume a cultura indígena como base de roteiro. Com boa trilha musical e produção perfeita, a direção de Sam Sheppard ganha gradualmente o espectador em seu tempo e ingredientes próprios. 😈😈😈😈
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1999 Ravenous (Mortos de Fome) • Missão de resgate enfrente canibalismo e o mito do Windigo. Consistente aventura destacável como uma das boas produções no gênero. Veja o post.
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2012 Gallow Walkers • Wesley Snipes é o herói nômade nesta interessante apropriação de aspectos visuais e situacionais dos filmes de Sergio Leone. Snipes caça de um grupo de bandoleiros reencarnados para um acerto de contas. Esteticamente é uma beleza, mas pesou feio a intenção à lentidão ritualística que arrasta e compromete o filme todo. Com trilha referente aos spaguetti-westerns e créditos que remetem ao ilustrador Mike Mignola, Gallow Walkers é rico em referências, mas pobre em cinema. Uma pena. 😈
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2015 Bone Tomahawk (Rastro de Maldade) • A cidadezinha de Bright Hope está em alerta pela proximidade de uma tribo de primitivos canibais que ataca pela região! Quando a doutora local é sequestrada, um quarteto se une para resgatá-la das habitações dos canibais nas montanhas. Desnecessariamente longo em suas duas horas e pouco de filme, mas divertido como um dos mais consistentes do gênero, apesar da lentidão das caminhadas e poucos momentos sangrentos. Prejudicado pelos problemas modernos: falta trilha sonora e a intenção a realismo parece deslocada. Valorizado pela presença de Kurt Russell e Patrick Wilson. 😈😈😈
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2018 Cannibal Corpse Killers • Grupo de desgarrados atravessa o país devastado e infestado de mortos-vivos reanimados por uma maldição. Mistura de ingredientes de living-dead, apocalipse e western. Ideia bem legal e com um notável esforço nas construções cênicas, mas realizado com uma constrangedora e amadora displicência. 😈
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2018 West of Hell • Tony Todd é um ex-escravo que se vinga caçando escalpos. Em um trem noturno, à caça de Anne Hargraves, sua nova vitima, ele encontra resistência do guarda-costas da jovem. Mas o trem é guiado por forças maléficas que lança cada passageiro a um pesadelo particular. Ideia legal, mas realização amadora demais. Participação de Lance Henriksen. 😈
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2018 The Wind • Caitlin Gerard é uma imigrante no oeste americano, vivendo com o marido em seu rancho numa região ainda não habitada. Quando o marido precisa se afastar por alguns dias, Caitlin descobre que algo mais habita a região. Algo que se manifesta nas ventanias e não gosta muito de coisas vivas. Terror ambicioso, primeiro longa da diretora Emma Tammi. O problema é que toda essa ambição resultou em um filme contemplativo e profundo mais do que centrado em dinâmica narrativa. Tecnicamente exemplar e assustador em sua linguagem própria. "Weird western de arte"! 😈😈
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2020 The Pale Door • Foras-da-lei tentam o assalto a um trem e libertam uma garota encarcerada em um baú! No auxílio à jovem acabam encontrando um vilarejo habitado por bruxas. O maior problema do faroeste contemporâneo incomoda aqui a cada cena: a captura digital deixa tudo limpinho e fake. Este Pale Door é fraquinho do começo ao fim, mas é tão dedicado que merece uma chance. Apesar da premissa manjada e dos "clichezinhos cult", se mantém razoavelmente. 😈😈
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2023 Organ Trail • Não tem nada pior do que filme B tentando se passar por sofisticado. Este é um drama de sobrevivência sobre a jovem Abigail, sequestrada junto com a família por um bando de foras-da-lei. Abby acaba sozinha tendo que vingar a perda dos familiares até ser acolhida por um casal de fazendeiros. Pouca inserção de sobrenatural e dramas paralelos enfraquecem o conjunto pretensioso. 😈😈
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