A história do cinema seria muito mais sem graça não fossem os filmes podreira! O trash já foi comentado na página Trasheiras, mas não resisti a fazer uma lista de Top 20. E não custa repetir que trash é filme feito com pouco recurso e pouca noção. Quando Peter Jackson fez Fome Animal ele sabia exatamente onde queria chegar com seus excessos e teve possibilidade técnica para cumprir a missão. Bem diferente de Ed Wood quando colocou Bela Lugosi numa poça improvisada lutando com um tentáculo de borracha.
Então lá vai: 20 clássicos do cinema trash!
1953 Robot Monster • Ro-Man é um alienígena que vem para a Terra finalizar o extermínio dos humanos e precisa eliminar uma família que pode ser a última sobrevivente da matança alienígena. Um festival de desarranjos: da roupa de gorila do ET a encenações sem nenhuma noção estética, temos o comunicador que solta bolinhas de sabão quando funciona coroando uma obra que, como em Ed Wood, chega a ser comovente em sua absoluta e inadvertida ingenuidade.
1957 Attack of the Crab Monsters • Cientistas isolados em uma ilha de testes nucleares descobrem que a radiação provocou a mutação de seres vivos e são atacados por uma colônia de caranguejos gigantes. Pérola do cinema capenga, dirigida por Roger Corman. Mesmo com boa vontade e simpatia pela causa trash, dá pra reclamar de muita coisa aqui: a lentidão de cenas, a pobreza visual das locações e os monstros mais desgraçadamente mal feitos da história! Se fosse mais dinâmico dava pra engolir melhor. Se fosse mais dinâmico tinha 15 minutos!
1958 Attack of the 50 Foot Woman • Como muitos desta lista, este é mais um caso cuja fama pop é mais interessante do que o próprio filme. Depois de uma crise com o marido infiel, Allison Hayes dirige pelas estradas à noite e é exposta à radiação de um objeto alienígena. A mutação a torna uma gigante que busca vingança contra o marido safadão. No caminho, Allison destrói algumas coisas pela cidade. Destaque à inacreditável mão de papelão da gigante, para as cenas próximas.
1958 War of Colossal Beast • Sequência de Amazing Colossal Man (que não entrou aqui porque é muito ruim!!!). Exposto a uma explosão de plutônio (no primeiro filme) o oficial Manning torna-se um gigante e reaparece no interior do México totalmente amnésico e atacando veículos na estrada para pegar mantimentos. Efeitos de sobreposição ótica primários e grosseiros. Em preto-e-branco com um insert colorido na cena final da eletrocussão nos postes de alta-voltagem. O diretor Bert I. Gordon foi especialista em cinema B (ou seria C?) por mais de trinta anos!
1959 Plan 9 From Outer Space • Dirigido por Ed Wood este é possivelmente o mais famoso filme trash da história. Alienígenas provocam a reanimação dos mortos como parte de um plano (o Plano 9) de invasão e interrupção das experiências atômicas dos cientistas terráqueos. Indescritível festival de desarranjos, com diálogos insanos, elenco amador, continuidade absurda (noite vira dia) e cenografia vagabunda feita de sobras (a nave alienígena tem maquinário sobre mesinhas de madeira!). Dois célebres absurdos que fizeram história: o minúsculo cenário para o cemitério, que não se encaixa em nenhum momento da "narrativa" e a troca de Bela Lugosi (falecido no meio da produção) por alguém com a cara coberta para disfarçar a mudança! Clássico emblemático do termo trash.
1963 Blood Feast • Herschell Gordon Lewis é o nome ícone do gênero depois de Ed Wood. Fuad Ramses é um antiquário que assassina e mutila garotas em sacrifícios para reviver a deusa egípcia Ishtar. Lewis fez história como o primeiro diretor a explicitar sangue e mutilações sem disfarce e em cores! Blood Feast só peca pela lentidão visual. Agora, o exagero de suas cenas sangrentas são incômodas e desconcertantes ainda hoje! Teve uma refilmagem em 1987 (incluída aqui) e ainda outra em 2016!
1959 Plan 9 From Outer Space • Dirigido por Ed Wood este é possivelmente o mais famoso filme trash da história. Alienígenas provocam a reanimação dos mortos como parte de um plano (o Plano 9) de invasão e interrupção das experiências atômicas dos cientistas terráqueos. Indescritível festival de desarranjos, com diálogos insanos, elenco amador, continuidade absurda (noite vira dia) e cenografia vagabunda feita de sobras (a nave alienígena tem maquinário sobre mesinhas de madeira!). Dois célebres absurdos que fizeram história: o minúsculo cenário para o cemitério, que não se encaixa em nenhum momento da "narrativa" e a troca de Bela Lugosi (falecido no meio da produção) por alguém com a cara coberta para disfarçar a mudança! Clássico emblemático do termo trash.
1963 Blood Feast • Herschell Gordon Lewis é o nome ícone do gênero depois de Ed Wood. Fuad Ramses é um antiquário que assassina e mutila garotas em sacrifícios para reviver a deusa egípcia Ishtar. Lewis fez história como o primeiro diretor a explicitar sangue e mutilações sem disfarce e em cores! Blood Feast só peca pela lentidão visual. Agora, o exagero de suas cenas sangrentas são incômodas e desconcertantes ainda hoje! Teve uma refilmagem em 1987 (incluída aqui) e ainda outra em 2016!
1968 She Devils on Wheels • Outro Herschell Gordon Lewis. Apesar da fama nos filmes de terror ele buscou outras formas de absurdos e fez aqui a mais hilária e duradoura variação no gênero biker movies. Grupo de motoqueiras chamado Maneaters vive em embates com seus rivais masculinos. Atuações em nível teatro escolar e efeitos picareta com a cena da decapitação como um momento antológico da sacanagem fílmica! Um desarranjo sem fim nas externas mal filmadas e enrolação pelas estradas ao som de rock. O tema musical (composto pelo diretor) virou símbolo do gênero, e chegou a ganhar versão dos Cramps!
1971 For a Coffin Full of Dollars (Por Um Caixão Cheio de Dólares) • Faroeste trash?! Como não, tem sim! Aqui é Klaus Kinski e Jack Betts se confrontando para vingar as matanças praticadas pelas suas famílias. Kinski é "astro convidado" e aparece pouco. Algumas externas em cidades de velho oeste salvam o visual (apesar de mal enquadradas), mas a estética de western se restringe na maior parte a cerquinhas de troncos e galpões de madeira. Muitas externas em brejos e com pancadarias desajeitadas repletas de piruetas dramáticas. Parece Tony Vieira.
1971 For a Coffin Full of Dollars (Por Um Caixão Cheio de Dólares) • Faroeste trash?! Como não, tem sim! Aqui é Klaus Kinski e Jack Betts se confrontando para vingar as matanças praticadas pelas suas famílias. Kinski é "astro convidado" e aparece pouco. Algumas externas em cidades de velho oeste salvam o visual (apesar de mal enquadradas), mas a estética de western se restringe na maior parte a cerquinhas de troncos e galpões de madeira. Muitas externas em brejos e com pancadarias desajeitadas repletas de piruetas dramáticas. Parece Tony Vieira.
1972 Pink Flamingos • Divino e revoltante. Outro clássico emblemático dos alternativos. John Waters sabia onde queria chegar com esta produção baratíssima e ousadíssima. Divine é desafiada a um concurso entre excluídos que pretende premiar a "pessoa mais asquerosa que existe". E a maratona para ganhar o título inclui bizarrices ultrajantes como exibicionismo, zoofilia, canibalismo, coprofagia. Waters se vale do lado kitsch/brega da cultura popular e subverte conceitos dominantes em um espetáculo bizarro insuperável! Vindo do circuito alternativo do final dos anos 60, Waters fez seu nome como papa do alternativo e fez do transformista Divine a estrela símbolo do gênero.
1978 Attack of Killer Tomatoes • Fenômeno do circuito trash que originou três sequências, série animada e game! Assim como John Waters, o diretor John De Bello assume a produção capenga como forma legítima. De certa forma trai o princípio ingênuo do "trash de raiz", mas ao incorporar o risível consciente inaugurou uma nova geração de produções na cultura trash. Tomates sofrem mutação e passam a atacar pessoas em residência e nas ruas. Um grupo de cientistas precisa estudar o caso e reverter o processo de mutação! Sua virtude é a sinceridade e despretensão. Nunca esquecerei os tomatinhos rosnando!
1980 Hospital Massacre • Barbi Benton foi destaque da Playboy em 1980 e este terror foi feito só pra gente ver Barbi de camisolinha, correndo, gritando e fazendo exame sem roupa. Barbi visita um hospital para exames de rotina, mas um maníaco fascinado por ela troca as fichas dos resultados para que ela fique internada e ele vai matando quem interfere. Esse é ruim mas dá pra ver, tem luz bem feitinha, diálogos ridículos, situações malucas nos crimes e a pobreza de produção que caracterizaria a era do VHS.
1981 Dawn of the Mummy • Trio de ladrões profana uma tumba egípcia em busca de tesouros e um grupo de modelos e fotógrafos circula pelo local para fazer sessões de fotos. Os fotógrafos descobrem as tumbas e decidem explorar o espaço. Logo a múmia e os protetores da tumba vão ressuscitando para punir todo mundo. O melhor é o título, afinal múmias são walking deads, então Dawn força uma relação com o título do épico de George Romero e pronto. Pena que o resto da produção não foi tão criativa na safadeza e o filme se perde em enrolação vazia para cumprir o tempo. Uma curiosa tentativa americana de repetir os modelos europeus do período em um resultado splatter-primo-pobre.
1981 Nightmare in a Damaged Brain • George está internado e tem pesadelos recorrentes até que consegue escapar do local. Traumatizado na infância o sujeito é um poço de distúrbios, esquizofrenia, ataques e só se satisfaz matando a mulherada. Caótico é o termo para definir. Começa confuso, com pesadelos dentro de pesadelos, depois fica monótono, depois erótico e finaliza com um banho de sangue a machadadas! Desconjuntado e tão bizarro em sua montagem que merece uma conferida paralela. Produção americana dirigida por Romano Scavolini e que contou com a orientação de Tom Savini para os efeitos. Um clássico da ruindade listado como Video Nasty pela erotização, e violência envolvendo crianças!
1982 Basket Case • Duane e seu irmão deformado buscam vingança contra os médicos que o separaram em uma traumática operação. Clássico do alternativo americano. Veja mais no post.
1984 Toxic Avenger • Constante vítima de bullyings e desprezo o faxineiro Melvin cai em um tanque de produtos tóxicos durante um trote e sofre mutações irreversíveis. Deformado, mas fortificado, Melvin passa a defender os habitantes de sua cidade contra o crime e exploração, tornando-se famoso como o Vingador Tóxico! A produção mais famosa da Troma e um filme emblemático do cinema trash. Dinâmico, hilário, anárquico e violento, teve quatro sequências e fez da figura do protagonista um dos mais populares monstros da cultura pop.
1986 Class of Nuke´em High • Mais um da Troma! Novamente apostando na contaminação química como em Toxic Avenger. Um vazamento em usina nuclear atinge as proximidades de um colégio e seus alunos. A contaminação alcança até estoques de cannabis e os estudantes vão se infectando de diversas formas. A situação faz aumentar as desavenças entre uma gangue punk e os outros alunos. No final, uma criatura gerada nos tanques infectados ataca pelos corredores do colégio. Genial esculacho como só a Troma seria capaz! Irreverente, anárquico e amador, mas com uma dinâmica visual e narrativa muito boas. Atenção para os figurantes rindo ou distraídos.
1987 Street Trash • Um vendedor de bebidas descobre um velho estoque de uísque e passa a vendê-lo por um preço baixíssimo para os marginalizados da região sem saber que o produto provoca derretimentos corporais em quem o ingere! Um dos mais inventivos e divertidos do gênero. Veja mais no post.
1988 Brain Damage • Um parasita se aloja no corpo do jovem Brian e injeta um soro em seu cérebro causando alucinações. Mas o parasita precisa se alimentar de cérebros e Brian acaba servindo como transporte da criatura e intermediador de uma série de crimes uma vez que o soro causa dependência. Dirigido por Frank Henenlotter (Basket Case) segue sua linha irreverente e escatológica. Kevin Hentenryck faz uma participação carregando o cesto de Basket Case em uma cena rápida no metrô.
1986 Blood Dinner • Baseado em Blood Feast. Michael e George são irmãos, trabalham em um restaurante e recebem orientações do cérebro de seu falecido tio Anwar, praticante de Magia Negra. Anwar orienta os meninos a recolher partes dos corpos das pessoas que eles matam para compor um corpo que deverá receber o espírito da deusa egípcia Shitaar. E os meninos obedecem com boa vontade provocando uma matança em série e a investigação de uma dupla de detetives. Amador, escroto, sangrento, escatológico e sem-noção! Cinco estrelas! Apesar da produção vagabunda e pobreza geral, Blood Diner consegue um dinamismo e consistência fílmica que poucos no gênero tiveram.
2009 Smash Cut • Trashão irreverente e assumindo honrosamente sua posição autorreferente. David Hess é um diretor de cinema de terror que precisa atualizar os efeitos vagabundos com sangue e membros de verdade. Aproveita então para eliminar rivais e críticos! Herschell Gordon Lewis, Michael Berryman e Sasha Grey no elenco! Veja mais no post.
Nenhum comentário:
Postar um comentário