Meio óbvio esse Top 10, mas esses são os filmes que mais me pegaram desprevenido. Aqueles que no meio da sessão você fica de boca aberta, "mas como assim?!", "o diretor pirou?!", "onde essa pohha vai parar?!". Daqueles que mesmo você assistindo já sabendo que é clássico consumado, surpreendem além da medida. Então aí vão, sem ordem de importância, dez filmes que justificam a existência do cinema enquanto ferramenta de criação para transcender o corriqueiro. Antes que alguém reclame, eu mesmo já reclamo: faltou Cronenberg, Lynch, Carpenter, Hitchcock!!! Mas é o preço a pagar por fazer seleções...
O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre, 1974) - O Cidadão Kane dos filmes de terror. Surpreendente pela crueza visual, a naturalidade quase pornográfica e o despojamento aparente da produção. Massacre ainda impressiona se for colocado nas telonas por causa da autenticidade das encenações. Por exemplo aquele close das aranhas no canto do teto, aquilo é ninho de aranha mesmo! São detalhes mínimos, mas que acrescentam muito ao conjunto fílmico. Sally fugindo de Leatherface é uma situação que só tem paralelo em nossos pesadelos (literalmente, no inconsciente). E o filme mergulha em uma série de encenações que cada vez mais parecem ter sido fruto de um cineasta demente: contra-luzes à noite, ângulos "errados", detalhes em closes insistentes, a produção sonora estranhíssima antes que alguém viesse falar em sound-design, a insanidade sem trégua. Até a lógica interna é insana como vovô e vovó em suas poltronas ao lado do Totó empalhado. Algo especial aconteceu aqui e não foi só cara-de-pau ou pretensão alternativa em mostrar violência. A conjuração estética que Tobe Hooper conseguiu foi coisa só explicável por algum pacto com o capeta. Sacanagem dizer isso do talento do cara, mas veja os filmes que vieram depois... Eaten Alive nem é um filme, Pague Para Entrar Reze Para Sair é só bacaninha, Poltergeist é do Spielberg. E depois? ... eu até curto o The Mangler, mas Chainsaw já passou dos 40! Ainda espero que Mr. Hooper se aposente com um filme tão grande quanto este. (Nota, 2017: sqn......)
Despertar dos Mortos (Dawn of Dead, 1978) - Épico de terror que deu continuidade ao cultuado Noite dos Mortos Vivos e (junto à febre dos filmes de canibais na mesma época) impulsionou o cinema splatter por sua maratona de efeitos. A ação parte diretamente do filme anterior com a população e autoridades ainda perplexas pelos acontecimentos e pelo levante crescente dos mortos. Com a mídia incapaz de informar corretamente e as autoridades incapazes de reverter a situação, a sociedade mostra sua real estrutura: cada-um-por-si! Assumindo os discursos contraculturais de sua geração, Romero ataca uma sociedade que tem o consumismo induzido entre seus instintos básicos. E as legiões de zumbis voltam aos shoppings-centers perambulando instintivamente pelos corredores. Veja mais no post.
Despertar dos Mortos (Dawn of Dead, 1978) - Épico de terror que deu continuidade ao cultuado Noite dos Mortos Vivos e (junto à febre dos filmes de canibais na mesma época) impulsionou o cinema splatter por sua maratona de efeitos. A ação parte diretamente do filme anterior com a população e autoridades ainda perplexas pelos acontecimentos e pelo levante crescente dos mortos. Com a mídia incapaz de informar corretamente e as autoridades incapazes de reverter a situação, a sociedade mostra sua real estrutura: cada-um-por-si! Assumindo os discursos contraculturais de sua geração, Romero ataca uma sociedade que tem o consumismo induzido entre seus instintos básicos. E as legiões de zumbis voltam aos shoppings-centers perambulando instintivamente pelos corredores. Veja mais no post.
Evil Dead (Evil Dead, 1981) - Divisor entre o cinema clássico e as pirotecnias que caracterizariam o cinema contemporâneo, especialmente em tempos de produção digital. Grupo de amigos visita uma cabana abandonada na floresta e são atacados pelos espíritos que habitam a região. Inventivo, abusado e insano, Evil Dead soma técnicas, idéias e referências em um trabalho inovador que fez o nome de Sam Raimi. Com seu sucesso, Raimi fez o satírico Evil Dead 2, que não era a rigor uma sequencia e sim a mesma situação contada no mais alto grau de esculacho. E depois, Army of Darkness encerrou a "trilogia de dois" em um épico genial. A série fez de Bruce Campbell o canastrão mais amado do cinema.
Terror nas Trevas (The Beyond, 1982) - O diretor Lucio Fulci havia experimentado diversos gêneros de sucesso nas bilheterias: faroestes, comédias, espionagem, suspense, mas foi com os excessos do cinema splatter na entrada dos anos 80 que consagrou seu nome como um dos mais abusados diretores do gênero fantástico. The Beyond (L´Aldilá) é possivelmente seu melhor momento, uma maratona de idéias, de climas e de efeitos que atropelam os sentidos o tempo todo e especialmente na metade final. Veja no post.
Inverno de Sangue em Veneza (Don´t Look Now, 1973) - Depois de Performance e A Longa Caminhada, Nicolas Roeg dirigiu aqui um de seus mais respeitados filmes. O espírito de uma garota tenta voltar e avisar aos pais Donald Sutherland e Julie Christie que um perigo maior os ameaça. Sutherland é restaurador de arte (restaurador!) trabalhando em Veneza e os crimes que vêm acontecendo na cidade podem ter relação com as tentativas de aviso. Tecnicamente é espetacular, com a figura de vermelho marcando presença desde o slide na sequência inicial. A queda do andaime na igreja também é memorável. Fragmentado e com um senso de insegurança palpável acentuado pela trilha melancólica de Pino Donaggio, o filme nem trata tanto de questões sobrenaturais, seu tema é a instabilidade da existência, de destinos e conjunções que jamais poderiam ser... restaurados. Tive medo de apagar a luz depois de ver... (veja o post)
Mórbida Curiosidade (Peeping Tom, 1960) - Michael Powell já havia passado de seus Golden Years quando fez esta pérola doentia, inclassificável. Como em Texas Chainsaw Massacre, a combinação estética, sonora e de conteúdo atingiram um liga tão incrivelmente bem ajustada que transcendeu períodos históricos e se estabeleceu simplesmente como uma grande obra. Inicialmente incompreendido e rejeitado, Peeping Tom recebeu com o tempo o reconhecimento de diretores e do meio cinematográfico, mas não consta a receptividade por parte do publico em nenhum período. Também exibido como Tortura do Medo. Circulou com algum sucesso em nossa TV. É um caso notável e pioneiro de cult movie. Veja o post.
A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead, 1968) - Todos os elogios alternativos são cabíveis aqui: cult, B, clássico, revolucionário, divisor de águas. É um caso de fenômeno cult de fato: foi lançado sem maiores recursos e ganhando notoriedade com o tempo em sessões alternativas. Com os anos foi marcando presença a ponto de ter se tornado um dos mais influentes fenômenos pop da cultura moderna. Dirigido por George Romero e produzido em um notável esforço coletivo. Revolucionando a forma, o filme inicia-se em ação com o ataque no cemitério e constrói seu suspense progressivamente com os mortos-vivos aparecendo em número cada vez maior. Os corpos queimados, as vísceras e o matricídio talvez tenham sido demais para sua época e os subtemas sociais acrescentam dimensão maior ao filme. Para a trilha sonora, Romero escolheu temas de filmes de ficção e terror dos anos 50 que ficavam disponíveis como "estoque musical" para os estúdios.
Suspiria (Suspiria, 1977) - Jessica Harper é uma jovem recém chegada a uma academia de dança e começa a suspeitar dos movimentos e andanças noturnas pelo prédio. O local pode ser moradia de uma das Três Mães, três bruxas que governam as forças malignas do mundo e cada jovem que se aventura nas investigações noturnas têm um fim violento. Jessica pode ser a próxima. Conceitual ao extremo. Argento pegou a estética psicodélico-expressionista que o mestre Mario Bava havia desenvolvido nos anos 60 e a estendeu até onde pôde. Com a narrativa inventiva e a trilha sonora ensurdecedora, Suspiria é considerada a obra-prima de Dario Argento especialmente no quesito delírio sensorial.
Possessão (Possession, 1981) - Possivelmente o maior "sucesso comercial" do diretor polonês Andrzej Zulawski. Se não é "comercial" ao menos é seu filme mais referenciado e melhor distribuído. Isabelle Adjani é uma mulher antes, durante e depois de um ataque de nervos quando de seu processo de separação do marido e as questões sobre a guarda do filho pequeno. Na cisão entre "racionalidade" e "emotividade", Sam Neil faz o marido que tenta compreender e por ordem na bagunça, enquanto que Isabelle (linda, maravilhosa, sensacional), rola no chão, bate, apanha, surta, baba, rasteja e tem relações externas ao matrimônio que desaba. Uma das relações é com a estranha criatura inumana que toma forma em um apartamento abandonado. Isabelle precisa alimentá-la e acompanhar seu crescimento e Zulawski nos leva a uma viagem cinematográfica como poucas. Tentar encaixar Possessão em termos genéricos como "terror" ou "drama fantástico" será sempre redutor de sua grandeza e força arrebatadora.
Fome Animal (Braindead, 1992) - O filme que projetou o nome de Peter Jackson internacionalmente. Deu sentido extra à expressão "banho de sangue". Ambientado nos anos 50 conta a expansão de uma epidemia provocada por um macaco sagrado que é capturado e levado para um zoológico. Quando morde uma visitante, desencadeia a contaminação crescente que transforma os habitantes da cidade em mortos-vivos. Jackson extrapola todos os ingredientes: a violência, o humor, o grotesco, o sangue. Braindead excede o excesso de forma genial e inesquecível. "I kick asses for the Lord!" (Veja o post)
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