20 de março de 2019

O Castelo dos Cárpatos

Essa cripta, em bom estado de conservação, da altura do doze pés, desenvolvia-se circularmente num diâmetro quase igual. As nervuras de sua abóbada , que era sustentada pelos capitéis de oito grossos pilares irradiavam para a chave dessa abóbada, no centro da qual estava engastada uma redoma de vidro cheia de uma luz amarelada.
• A primeira surpresa e virtude deste Castelo dos Cárpatos é ser uma aventura escrita por Júlio Verne fora de sua habitual e consagrada linha de ficção científica. É uma aventura passada em fins do século XIX e conta a surpresa dos habitantes da aldeia de Wrest, na Transilvânia, quando descobrem que o castelo do barão Gortz dá sinais de atividade depois de muitos anos abandonado. A fumaça vista das chaminés do castelo colocam os aldeões em pânico e as superstições se alastram rapidamente entre os moradores. A primeira expedição para investigar o castelo falha e entra em cena o conde Franz de Telek que tem questões pessoais e desafetos com o barão, antigo morador da edificação. Seu interesse em desvendar o mistério do local leva a aventura adiante na segunda parte quando o jovem conde explora o local sozinho e acaba aprisionado nos labirintos do castelo.

Quanto tempo durara esse sono não pode Franz verificar, quando acordou. O seu relógio parado já não lhe indicava as horas. Mas a cripta estava banhada de novo numa luz artificial. [...] No interior da cripta não havia nada mudado, a não ser a luz ter sido reacendida, os alimentos renovados, o jarro enchido de água clara.

A novela tem uma estrutura bastante simples e corre o risco de perder a atenção do leitor em diversos pontos. Verne não abandona seu interesse pela ciência aqui fazendo da eletricidade, a invenção telefônica e o registro fonográfico a base dos mistérios que se explicarão no epílogo. Também não resiste ao confronto entre a explicação racional e o misticismo que fazem os personagens oscilarem em suas dúvidas e decisões. Na falta de ação a novela tenta se sustentar nas descrições pormenorizadas, mas é sensível a falta da atmosfera que seria essencial à narrativa de uma aventura gótica por bosques, castelos e criptas. Ainda há o problema da narrativa despersonalizada que causa um distanciamento ainda maior, chegando ao extremo da interferência de explicação óbvia.

No nosso entender, é chegado o momento de dar a explicação de certos fenômenos, que se produziram no decurso desta narrativa e cuja origem não deve tardar a ser revelada.

O Castelo dos Cárpatos vale mais como uma curiosidade gótica do que uma aventura com a força imaginativa que o autor demonstrara em seus momentos mais populares. Partindo das crendices populares que dão o início a aventura, e são sempre ironizadas, a narrativa vai cedendo ao racionalismo próprio ao autor (e ao período), mas curiosamente coloca todo o fascínio da nova era e dos serviços tecnológicos nas mãos de vilões!

🏰
Leitura radical
Não tem a inventividade dos momentos clássicos do autor.

Leitura passional
Diversão gótica passageira.

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O Castelo dos Cárpatos
The Castle of the Carpathians - Júlio Verne, 1892
Clube do Livro - SP - 1979
192 páginas

Castelo dos Carpatos

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