2 de março de 2019

Cosmos

Cosmos (França, 2015)

Diret Andrzej Zulawski
Com Jonathan Genet, Victoria Guerra, Sabine Azema, Jean-Fraçois Balmer, Johan Liberau, Clementine Pons.

Zulawski - Cosmos

O cinema é insuficiente... Saideira de Zulawski em um drama co-produzido por França e Portugal. Witold e Fuchs são dois estudantes que se hospedam em uma pensão familiar. Witold se apaixona por Lena, filha do casal proprietário enquanto sinais manifestados em diversas ocasiões intrigam os estudantes: um pássaro enforcado na floresta, a empregada de lábios defeituosos, configuração de objetos no jardim e sinais nas manchas de umidade pelas paredes parecem compor uma sequência de mensagens que conduzem a uma conclusão. Será assim?

O cosmos manda recados sugerindo uma ordem mais ampla do que a percebida pelo homem? Ou será muita presunção essa reciprocidade? Mais provável que a "ordem" seja apenas um desejo idealizado pelo homem e a aventura de Witold (que se inicia citando Dante na floresta) não tenha necessariamente que conduzir a um destino previsto, mas se conduz, nada prevê que será satisfatório! Witold é um pretendente a escritor e sua visão de mundo é intermediada pela poesia literária a todo momento. Mas toda a sua erudição não será suficiente a diminuir seu tormento sabendo que Lena está comprometida. 

Em meio a uma enorme disfunção comunicativa, Witold terá que empregar meios moralmente ilícitos para se aproximar da jovem. A família desajustada vai piorar as coisas tragando Witold nos surtos verborrágicos que fazem pouco sentido. E quando o gato da família aparece enforcado (como o pardal), o grupo precisa de uma mudança de ares. Movimento. Mas a visita ao litoral e os passeios à beira mar não atenuam a perdição dos personagens.

Se o homem inventou a arte para compensar a realidade, em Cosmos ele falhou! O cosmos é caótico em Zulawski. Não há solução sem crise. Não há poesia que compense a insatisfação. Não há satisfação sem intervenção corrupta. Nem mesmo o cinema é suficiente e o filme se desmancha (nas cenas finais) diante de nossos olhos com a intervenção de maquinário de produção, cenas alternativas montadas em paralelo e bastidores de filmagem no final.

Visualmente o filme segue a linha de captura limpa do padrão moderno, sem o peso sufocante de outros trabalhos do diretor e sem filtros azuis!
O emocional em surto, já característico da obra de Zulawski, aqui compromete todo o elenco, como que representando estados emocionais sem disfarce. O interno tornado visível. Sem as máscaras sociais, Lena não é a simpatia que aparenta, o pai é um beberrão irascível que fala muito e comunica nada, a mãe tem surtos de paralisação física e Witold vai sendo tragado por esse estado. Acima de tudo, pesa o desencanto dos personagens e até a fina camada de humor insano do filme serve a sugestão de uma imensurável dor interna. Zulawski partiu deixando possivelmente o filme mais leve e humorado de sua carreira. Ainda assim, uma obra carregada de pesar e incomunicabilidade.

• Charada full circle: na cena final, a porta da casa de Witold tem um "olho divino" em cima, e Zulawski conecta Cosmos a seu primeiro filme Third Part of the Night!

Expectativa 😈😈😈  Realidade 😈😈😈

...nem a Netflix vai te salvar...

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