9 de março de 2019

Robert Bloch - a verdadeira mãe de Norman Bates!

Robert Bloch


A literatura fantástica e de horror parece se dividir entre dois blocos de gerações distintas: clássicos do passado e clássicos contemporâneos. Então temos lá no passado, Edgar Allan Poe, Henry James, Nathaniel Hawthorne, um pouco depois deles, o grande H. P. Lovecraft. E na produção moderna, Stephen King, Frank de Felitta, Dean Koontz, Clive Barker. Parece que fica um intervalo entre essas duas épocas. E quem ocupa mais destacadamente essa twilight zone e serve de ponte de ligação é o romancista americano Robert Bloch (1917 - 1994), famoso como o autor de Psicose. Também tivemos outros célebres contemporâneos de Bloch como Richard Matheson e Ray Bradbury, ambos mais voltados ao poético fantástico e ficção científica, enquanto que Bloch era mais apegado à tradição romântico-gótica do gênero.

Robert Bloch
• Nascido em 1917 em Chicago, Bloch começa a produzir nos anos 30, bastante influenciado por Lovecraft, e especialmente para a revista Weird Tales. Ele conecta as citadas gerações de escritores não apenas pelo período de atividade mas também por ter se correspondido na adolescência com Lovecraft com quem trocou cartas e de quem recebeu incentivos em relação a seus primeiros contos. Bloch foi ainda mais longe e até fez de Lovecraft um personagem em algumas de suas histórias como em "The Shambler From the Stars" cujo protagonista é um recluso senhor que vive em Providence, em uma clara citação ao famoso criador dos mitos de Cthulhu. Lovecraft, por sua vez, reagiria à citação no conto "The Haunter of the Dark" cuja figura central é chamado Robert Blake! A troca de citações continua no conto de Bloch "The Shadow From the Steeple" (O Campanário das Trevas), no qual ele assume e dá continuidade ao personagem Blake. O conto tem até trechos que podem ser considerados autobiográficos: "Assim como o próprio Fisk, Blake fora um adolescente precoce, muito interessado em literatura fantástica e, como tal, também veio a tornar-se membro da Associação Lovecraft, um grupo de escritores que mantinham correspondência recíproca com Howard Phillips Lovecraft, de Providence".

Bloch ganhou fama instantânea quando sua novela Psycho (1959) foi adaptado às telas em 1960. É também nesse ponto que o autor conecta o gênero ao contemporâneo deixando para trás a elegância vampiresca dos clássicos e concentrando-se em aspectos brutais, violentos, mais condizentes com a cultura pós guerras mundiais, mais condizente com a ligeireza da cultura de massa e a literatura pulp. Jack o Estripador é uma figura a que Bloch recorreu em alguns de seus contos. As reações ao filme Psicose não foram totalmente favoráveis em sua época por sua violência e o livro é ainda mais forte! Quem leu concorda?


Com o sucesso de Psicose, Bloch foi naturalmente convidado a fazer roteiros. Dos obscuros trabalhos em The Couch (1962) e Cabinet of Caligari (1964), visivelmente derivados de Psicose com seus personagens de mentes perturbadas e percepção alterada da realidade, Bloch passou para séries de TV como Thriller e Alfred Hitchcock Presents e, ganhou mais destaque nas parcerias com William Castle e Freddie Francis. Curiosamente, a proposta de sequência de Psicose, feita por Bloch foi rejeitada pelos estúdios. Assim temos a sequência cinematográfica (Psicose 2, que é muito boa!) e a sequência literária (que eu nunca li!).

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Um pouco de filmes roteirizados pelo autor...

1962 The Couch • Grant Williams (O Incrível Homem Que Encolheu) é um psicopata que fica ligando ao delegado de polícia e avisando a cada assassinato que vai cometer. O psiquiatra que trata do rapaz parece ser o único capaz de desvendar o caso que vem assustando os cidadãos e Grant terá que cuidar do doutor ou será descoberto... Suspense e drama medianos com um personagem central obviamente derivado de Norman Bates. 😈😈

1962 The Cabinet of Caligari • Jane dirige pelas estradas e tem seu pneu furado. Na busca por ajuda, chega a uma mansão e depois de passar a noite no local não encontra meios de sair. As diversas figuras que encontra (funcionários, visitantes) são incapazes de lhe prestar alguma ajuda e o dr. Caligari (Dan O'Herlihy) administra o local com punições físicas. A mansão é uma clínica?! Bloch no piloto automático pega o título e ideia básica do clássico expressionista O Gabinete do dr Caligari (1919) e desenvolve um drama/mistério bem previsível desde o pneu furado na abertura! Direção e produção em nível B que hoje só vale como curiosidade da época. 😈

1964 Straight Jacket • Veja em Megeras do Terror

1965 The Night Walker • Veja Megeras do Terror

1966 The Psychopat • Veja em Freddie Francis.

1971 The House That Dripped Blood • Clássico dos filmes em episódios que tanto marcaram o período. Um detetive investiga um desaparecimento e ouve quatro relatos envolvendo uma misteriosa mansão vitoriana. 1. Denholm Elliott é um escritor que dá vida a um assassino ao desenvolver seu novo romance. 2. Peter Cushing reencontra a imagem de uma velha paixão na figura de um museu de cera. 3. Christopher Lee tem uma filha que pode ter herdado poderes de uma feiticeira. 4. John Pertwee é um ator que adquire poderes sobrenaturais ao usar uma capa de vampiro. Pode-se considerar que o formato clássico das narrativas pulp como assumido no filme seja por demais orientado a simplicidade, mas os aspectos visuais alcançados aqui estão entre o que de melhor se fez em atmosfera visual no gênero. 😈😈😈😈

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