A maldição dos guardiões do farol. Com esse título roubado do épico do grupo Van Der Graaf Generator, vamos aqui com um punhado – bem menos do que eu esperava – de filmes ambientados em faróis costeiros. O sonho dos reclusos e antissociais, que tanto significa o tão sonhado isolamento em um trabalho temporário quanto a possibilidade de enlouquecer definitivamente nas condições diferenciadas de percepção. Na paradisíaca condenação da vida no farol tudo passa a ter um significado outro. E a percepção alternativa sobre companhia, sobre existência e passagem de tempo geralmente foi tratada nos filmes como passaporte para a loucura. O francês Gardiens de Phare (Ligthouse Keepers) de 1928 já explorava essas bases dramáticas com o isolamento pela tempestade e a loucura advinda da situação, assim como explorava a visualidade cativante em sua notável dinâmica estética.
Então aí vai, dos anos 30 aos contemporâneos, um pouco de filmes ambientados em faróis costeiros, alguns com o pé no fantástico.
1935 The Phantom Light • Aventura e mistério em direção de Michael Powell. O novo encarregado da guarda de um farol costeiro enfrenta situações inesperadas com um jornalista e uma garota fugitiva da lei, além de trabalhadores do local que acreditam estarem sendo assombrados pelo espírito de um antigo funcionário morto no farol. Produção dinâmica em uma leve aventura com muita comicidade. 😈😈
1941 Tower of Terror • Michael Rennie (o Klaatu de O Dia Em Que a Terra Parou) é um espião inglês na Alemanha nazista e se refugia no farol de uma ilhota próxima à costa. Kristan é o veterano responsável pelo local, tem mão de gancho e está enlouquecido pela perda da esposa que se afogou no mar. Mas além de se ocultar dos oficiais da Gestapo, Rennie terá que confrontar a loucura do guardião no interesse por uma bela jovem, resgatada do mar por Kristan. Drama e suspense medianos em tempo de guerra e com uma boa sequência de destruição final. 😈😈
1942 Thunder Rock • Michael Redgrave é um recluso voluntário que se afastou do meio social no serviço de guarda de um farol. Seu parceiro, James Mason, tenta dissuadi-lo da tarefa e convencê-lo a voltar à ativa, mas Michael prefere a reclusão e o convívio com os fantasmas de uma embarcação de pioneiros europeus que naufragou na região e circulam pelo farol. Simpática fantasia narrada em episódios conforme Redgrave revive as vidas das personagens que pereceram no naufrágio. Direção de Roy Boulting (Twisted Nerve). 😈😈😈
1999 Lighthouse • Tripulação de um transporte carcerário e alguns prisioneiros desembarcam em uma ilhota e se abrigam nas dependências do farol local, depois do naufrágio de sua embarcação. Um assassino que escapou de seu transporte também chegou ao local e ataca o grupo. Produção inglesa à deriva da história e tentando conciliar elementos de suspense, terror e aventura. A produção é esforçada e a foto muito boa, mas o elenco sem graça dilui qualquer entusiasmo, assim como os excessos absurdos da ação final. 😈😈
2016 Edgar Allan Poe's Lighthouse Keeper • Baseado no último conto (inacabado) de E. A. Poe. O jovem escritor JP escapa de um naufrágio e chega a ilha onde Vernon Wells zela sozinho pelo farol. Mas JP descobre uma jovem vivendo em condições precárias no local e descobre que fantasmas vítimas de um naufrágio causado por negligência do zelador, habitam a ilha. Produção digital, semiprofissional e sem maior empenho. A curiosidade é curtir o velhaco Vernon Wells (Mad Max 2, Comando Para Matar) repetindo textos decorados. 😈
2016 The Lighthouse • Surprise, surprise! Este Lighthouse é a "planta baixa" do Lighthouse de Robert Eggers!!! Thomas Griffits e Thomas Howell tem a missão de cuidar de um farol costeiro por um mês. Um é desiludido e brigão o outro é introspectivo e reza o tempo todo. De um início de relacionamento amistoso a dupla parte para os desentendimentos e ofensas. Quando uma forte tempestade impede o resgate depois do tempo devido, ficam retidos na ilha. Descobrem estoques de bebida e partem para uma comunhão etílica que termina em tragédia e delírio! Curiosamente o Lighthouse posterior repete até alguns enquadramentos e composições estéticas daqui! A maior diferença é que este suspense dispensa o sobrenatural delirante e se concentra em dramas psicológicos. Tem o tempo lento equivalente à condenação dos protagonistas e deve ficar na história como uma curiosidade. Um suspense mediano com produção de primeira linha. 😈😈
2017 Cold Skin (A Pele Fria) • Um jovem meteorologista passa a longa temporada de um ano na ilha habitada por Gruner, o velho guardião do farol local, para catalogar dados ambientais. Mas a região também é habitada por uma estranha raça humanoide que ataca o farol todas as noites pondo em risco a vida dos zeladores. Drama fantástico bastante original em sua abordagem de conflitos. É possível que Gruner seja o maior vilão pois convive com uma fêmea humanoide como um animal de estimação e tem por objetivo maior exterminar a raça dos atacantes a todo o custo. Estilizada produção espanhola fora dos padrões. 😈😈😈
2018 The Vanishing (O Mistério do Farol) • Três faroleiros cumprem seu turno de manutenção em um farol quando descobrem um náufrago e seus pertences, entre eles um baú com barras de ouro! Mas logo os companheiros do náufrago vêm ao local resgatar o baú e um confronto violento se forma. Drama e loucura com Gerard Butler mostrando que é bom na atuação tanto quanto na porradaria. Produção inglesa, baseada nos fatos reais envolvendo o desaparecimento de três faroleiros em 1913, e com ênfase no drama mais do que na ação. 😈😈😈
2019 The Lighthouse • Willem Dafoe e Robert Pattinson enlouquecem no isolamento forçado da guarda de um farol. Talvez o filme definitivo sobre o tema. Veja o post.
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