11 de junho de 2021

Casais do barulho aprontando altas confusões.

Natural Born Killers


Dia dos namorados macabros. É mais comum ver o killer no cinema como uma ameaça individualizada, uma mente desgarrada, enlouquecida que precisa de um tratamento, adequação, confinamento. Mas quando a ameaça envolve ambos os sexos e é fruto de um comum acordo entre envolvidos aí a coisa fica mais incômoda (até porque é muito mais perto do real). Então o desregrado macho e desregrada fêmea estão unidos pelos sagrados meios da contravenção, subvertendo a lógica primitiva do macho que vai pra guerra e a fêmea que incuba e preserva a vida. Casais killers são a consumação da destruição total!

Casais outsiders tiveram um sabor especial na nova Hollywood com Bonnie and Clyde (1967), Badlands (1973), Sugarland Express (1974) e Os Implacáveis (1972), ou na atenuação humorada de Fun With Dick and Jane (1977-2005), sem esquecer o pioneirismo dos casais do cinema noir como – exemplo clássico – Fred MacMurray e Barbara Stanwick em Double Idemnity (1944). Mas vamos aqui com uma seleção mais voltada à cultura de massa, com consumados crápulas e banhos de sangue garantidos.

1950 Gun Crazy • John Dal (Spartacus, Festim Diabólico) e Peggy Cummings (Curse of the Demon) se conhecem por um interesse comum por armas, em uma apresentação de variedades. Logo formam uma dupla de assaltantes procurados por roubos sucessivos. Pioneiro no gênero e um filme B de dinâmica notável na crescente vida de crimes e no cerco policial pelas estradas. Destaque a um aflitivo assalto a um frigorífico e soluções técnicas marcantes, com filmagens em interiores de veículos em movimento. Roteiro de Dalton Trumbo em pleno macarthismo, atuando sob parceria com Millard Kaufman. 😈😈😈

Gun Crazy
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1970 Honeymoon Killers • Marco do alternativo norte-americano. Ray Fernandez (Tony Lo Bianco) é um golpista que engana solteironas inocentes para lhes roubar dinheiro. Quando conhece Shirley (Martha Beck), uma instável enfermeira, forma com ela uma aliança criminosa nos golpes posteriores que acabarão chegando ao assassinato. Irregular na direção amadora e cenas extensas, mas com uma ótima dinâmica, além de um incômodo naturalismo na cafagestice geral. Este é o único filme para ver Lo Bianco rebolando diante da câmera!!! Por sua época e resultado, a cotação fica comprometida entre "regular" e "bom"... Seja como for, é um clássico dos independentes. 😈😈😈

Honeymoon Killers
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1972 What Became of Jack and Jill? • Produção da Amicus entre o drama e o suspense. Jack é um jovem desocupado que vive com a avó. A senhora, quase deficiente, precisa de atenção constante e Jack se dedica à situação sempre de olho na herança da velha. Jill é a namorada que incentiva Jack a "acelerar o processo" e ver se a pobre senhora sofre um ataque cardíaco! Curiosamente a velha parece ter mais influência sobre o neto depois de morta e o desentendimento entre Jack e Jill terá reviravoltas fatais. Suspense leve que vale como curiosidade de sua época. Bacana de ver, mas muito formal, muito sério e sem nada de especial. Talvez pela falta de mais conteúdo exploit tenha ficado esquecido nas revisões históricas. Destaque a veteraníssima atriz Mona Washbourne, especialista em senhoras inglesas, aqui em um grande momento! 😈😈

What Became of Jack and Jill?
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1972 O Bando J&S • Faroeste médio do grande Sergio Corbucci com Susan George e Tomas Milian como foras da lei que se conhecem casualmente e formam uma dupla de assaltantes de estrada. De um contato inicialmente conflitante a dupla acaba se casando e passando a assaltos mais ambiciosos. Produção de primeira em uma tentativa de variação satírica no gênero (que começava a declinar pela repetição). O problema é que, nas situações episódicas, o vilão (Telly Savalas) perde a importância diluindo o conflito inicial, mas a simpatia da dupla central segura o show. 😈😈

La Banda J&S
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1974 Assault Jack the Ripper • Crazy Japan! Jovem confeiteiro de um restaurante começa a namorar uma das garçonetes e quando matam acidentalmente uma jovem, descobrem um meio excitante de estimular sua relação. Entregam-se então a uma série de crimes, mutilando e ocultando corpos. Doentio suspense cumprindo a regra dos pink films e do período. Mutilação genital e gratuidade inconsequente como só esse período pode produzir. 😈😈

Assault Jack the Ripper
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1974 Frightmare • Recém liberados de um hospício, Dorothy e seu marido, Edmond, voltam a sua vida de crimes. Clássico alternativo do cinema inglês dirigido por Pete Walker. Veja no post.
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1980 Motel Hell • Velho fazendeiro e sua irmã utilizam pessoas nas adubações de seus plantios e no fornecimento de carne para a região! Não é exatamente um casal de namorados, mas merece a citação. Terror satírico, já incluído na seleção de Hotéis Malignos.
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1982 Eating Raoul • Clássico do cult gringo, dirigido por Paul Bartel. Ele e a esposa Mary Woronov são Mary Bland e Paul Bland, um casal nova-iorquino em dificuldades financeiras. Montam um serviço/fachada de prostituição só para assaltar os clientes desvirtuados que aparecem. E aparecem muitos... Thriller cômico, anárquico e autêntico em sua simplicidade B que coroou Bartel e Woronov como o Casal 20 da contracultura e ganhou até versão em quadrinhos na Heavy Metal. 😈😈😈😈

Eating Raoul
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1993 Natural Born Killers • Considerado o filme mais radical lançado pela Warner desde A Laranja Mecânica. Mickey e Mallory (Woody Harrelson e Juliette Lewis) se conhecem casualmente e formam um par inseparável que se torna um fenômeno dos informativos televisivos por seus crimes em série. O cerco que se forma na caçada pela dupla vira um grande show para a mídia e uma forma de propaganda para as autoridades em seu encalço. Violento, satírico e cartunesco, carrega a curiosidade extra de ter perdido parte de seu impacto com o tempo, afinal ninguém vence mesmo o histrionismo do circo midiático... 😈😈😈😈

Natural Born Killers
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1993 Kalifornia • David Duchovny (Arquivo X) é um escritor trabalhando em um projeto sobre serial killers. Junto de sua namorada fotógrafa, ele visita locais em que esses marginais atuaram, em uma pesquisa de campo pelas estradas. No caminho para a Califórnia ele leva junto o casal Early (Brad Pitt) e Adelle (Juliette Lewis), sem saber que Early está acumulando um histórico de crimes desde a partida. Suspense consistente que dosa perfeitamente bem as suspeitas, reviravoltas e violência. Destaque a Brad Pitt como o assassino dissimulado (em período de consagração na carreira) e Juliette Lewis, repetindo seu tipo clássico de desequilíbrio infantilizado. 😈😈😈

Kalifornia
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1994 Love and a 45 • Aventura com pretensão pop-cult na trilha de Natural Born Killers. René Zellwegger e Gil Bellows são um casal marginal vivendo de pequenos golpes até que se envolvem em um caso violento e precisam fugir. Caçados pela lei, por uma dupla de gangsters e pelo enlouquecido parceiro de golpes, fogem para o México, na tradição dos westerns. Violento e satírico conforme o momento, sustenta-se na narrativa consistente mais do que na originalidade. Participações divertidas de Peter Fonda, Jeffrey Combs e Jack Nance (Eraserhead). 😈😈😈

Love and a 45
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2011 God Bless America • Homem de meia idade, insatisfeito socialmente, junto a uma garota adolescente, se arma em uma cruzada justiceira contra "personalidades tóxicas". Comédia amarga sintonizada à cultura da mídia. Veja o post.
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2012 Sightseers (Turistas) • Tina é uma solteirona vivendo com a mãe rabugenta até que conhece Chris e a empatia imediata os leva a uma viagem de trailer pelo interior da Inglaterra. Tudo lindo e romântico até que as desavenças casuais de Chris com estranhos começam a revelá-lo como um sociopata perigoso. Ele logo estará apelando à violência, mas a viagem turística terá continuidade com a conivência de Tina aos atos do parceiro. Dirigido por Ben Wheatley (Kill List, A Field in England), Sightseers insere misticismo de forma bem sutil, nos festejos xamânicos de um grupo no campo. É um filme cômico, violento, dinâmico e desconcertante, como regra nos trabalhos do diretor. 😈😈😈

Turistas
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2014 Alleluia • Coprodução franco-belga que assume o desvirtuado entre drama e horror. Laurent Lucas (Calvaire) é Michel, um golpista que seduz mulheres maduras por dinheiro, mas quando conhece Gloria, retraída e obsessiva, não imagina que ela o irá seguir a ponto de se tornar uma cúmplice. Juntos passam a aplicar golpes em diversas mulheres de meia idade, ricas e desacompanhadas (como em Honeymoon Killers). Suspense com toques de horror em momentos violentos e acentuação dramática no desequilíbrio crescente de Glória. 😈😈😈

Alleluia
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2019 Adoration • Em um hospital psiquiátrico, o adolescente Paul conhece Gloria, jovem internada depois da morte dos pais. Gloria é instável e constantemente vigiada, até que Paul decide ajudá-la a fugir da instituição. Na rota de fuga (em direção à casa do avô da garota), o jovem casal envolve-se em situações episódicas, mas a crescente instabilidade dela pode transformar o trajeto em uma jornada de loucura. Direção de Fabrice Du Welz que vem fazendo uma notável carreira entre o pop consumado (King, Uma História de Vingança) e o alternativo, como Alleluia (veja acima), Vinyan e Calvaire. 😈😈😈

Adoration

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