18 de janeiro de 2023

Eraserhead

Eraserhead (EUA, 1977)

Diret David Lynch
Com Jack Nance, Charlotte Stewart, Allen Joseph, Jeanne Bates, Laurel Near, Judith Roberts, Jack Fisk.

Eraserhead

Surrealismo ianque?! Eraserhead é o improvável que deu certo. Uma produção de pouquíssimos recursos, equipe reduzida e em uma linha de linguagem totalmente fora da caixa da produção norte-americana. Mas o filme conseguiu sua merecida exposição (ainda que fora de ampla distribuição) e se instalou, com o tempo, como um clássico do cult, alternativo, vanguardista, merecendo todos os elogios artísticos que se queira dar e consagrou o diretor como um dos poucos bem sucedidos (senão o único) a ousar em linguagem surrealista no mercado americano.

Eraserhead é um pesadelo sobre a culpa. Um delírio onírico que se passa mais no inconsciente do protagonista do que na percepção do real. Conta o drama de Henry (Jack Nance), o simplório funcionário de uma gráfica que vive em um meio industrial e que engravida a namorada. Obrigado pela família dela a assumir a relação e cuidar da criança, Henry é aprisionado por seu mundo sombrio em progressivos delírios de fuga. 

Lynch narra do ponto de vista distorcido do protagonista e não pretende em momento algum o naturalismo reconhecível ou realismo estético. Eraserhead se embrenha nos medos e distorções do real filtrando-a pela miserável demência de Henry. E o filme segue sem se preocupar em esclarecer seus signos particulares, assumidos com muita propriedade e ousadia pelo diretor, que nunca respondeu diretamente sobre eles, preferindo deixá-los à leitura do espectador aventureiro. Assim temos jogos visuais fascinantes em uma maratona de imagens incômodas. Entre distorções da realidade e projeções do inconsciente do protagonista, Eraserhead exige interpretação desde a cena de abertura, com Henry externando desejos na forma dos grotescos espermatozoides e vivendo em um ambiente fabril, como bastidores de uma sociedade industrializado. Orifícios de "entrada" e "saída" sugerem uma fecundação e o "homem no planeta" é um intermediador de desejos reprimidos. O frango do jantar sangra "deflorado" e revela a gravidez de Mary. A mulher no radiador é uma grotesca Betty Boop loira, imagem idealizada que acolhe Henry em um luminoso paraíso ilusório, e assim o filme vai avançando com seus enunciados monstruosos.

Eraserhead

Lynch já lança aqui elementos visuais que se tornariam sua assinatura como as estampas repetitivas, faces saindo de sombras, zooms em orifícios sombrios, espaços vazios como na arte surrealista e ainda deixou para o cinema alternativo a imagem ícone do simpático e revoltante bebê monstro. O melhor de tudo é que o filme conserva sua característica B de "filme de festival", destinado a apreciação cult, e não perdeu nem um pouco seu macabro fascínio, e o encanto dos melhores pesadelos.

• Ícone alternativo: o bebê monstro!
• Melhor personagem: o homem no planeta.
• Pesadelo dentro do pesadelo: a sequência da cabeça de borracha!
• Nojinho: a moça do radiador pisoteando espermatozoides!
• Horror supremo: o bebê mutilado a tesouradas!!!
• Jack Nance apareceu na maioria dos filmes seguintes de Lynch, como coadjuvante.
• No placar Black Phillip, Eraserhead ainda é o melhor filme do diretor, só igualado em pesadelo por Lost Highway

Black Phillip já sabia 👿👿👿👿👿

Eraserhead

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