30 de julho de 2022

A Volta Dos Que Não Foram

Roman Polanski


Tiozão do terror! A nova geração de diretores dedicados ao cinema fantástico já tem seu reconhecimento merecido, já tem carreira constituída e a história segue em frente. Que bom! Alexandre Aja, Pascal Laugier, Mike Flanagan, David Wan entre outros, têm mostrado um trabalho bacana de referência (e reverência) ao passado e tocado o gênero adiante. Mas e os mestres anteriores? Por onde vagam? 

Alguns nunca sumiram definitivamente, e continuam na ativa com lançamentos ocasionais como Lynch, Carpenter, Polanski, Argento. Dia desses fui ver Tom Holland's Twisted Tales e caí de costas! Como que o mesmo cara que dirigiu A Hora do Espanto e Brinquedo Assassino caiu tanto?! E caiu feio, num filme de nível amador independentemente de para qual plataforma tenha sido feito. Achei que ele estivesse aposentado. Fui então levantar uma dúzia de trabalhos mais ou menos recentes de velhos conhecidos que ficou assim...

2001 Arachnid • Jack Shoulder, que apareceu com Alone in the Dark (1982), Hora do Pesadelo 2 (1985) e O Escondido (1987), conta que aceitou esta coprodução entre EUA, Espanha e México só por causa do pagamento. E a falta de empenho na direção é visível nesta aventura de selva onde uma equipe científica se depara com uma aranha gigante que sofreu mutação. Efeitos até toleráveis, mas o elenco mau dirigido e o excesso de ideias alheias (de Alien e Predador) acabam com o filme. Produção do veterano Brian Yuzna. 👿

Arachnid
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2001 Bad Karma • Suspense sem graça com Patsy Kensit como uma detenta em tratamento mental que acredita ser a reencarnação de Jack o Estripador! Ela consegue escapar do tratamento e passa a ameaçar a vida do doutor responsável por seu caso. Funciona na dinâmica narrativa, mas o elenco sem graça e a direção em piloto-automático de John Hough fazem do filme um produto burocrático e monótono. Difícil crer que Hough já foi responsável por filmes como As Filhas de Dracula e Casa da Noite Eterna. 👿

Bad Karma
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2003 Visitors • O australiano Richard Franklin, que começou com cults respeitáveis como Patrick e Psicose 2, volta a sua terra natal com este suspense em alto mar. Georgia é uma jovem que empreende sozinha uma travessia marítima apoiada por uma marca de cosméticos. Fica à deriva por um tempo e é assaltada por visões e traumas. A aparição de sua falecida mãe (a veterana Suzannah York) a persegue obsessivamente e Georgia ainda enfrenta aparições de aborígenes e piratas que interferem fisicamente na situação. Drama e suspense se mesclam sob a direção madura de Franklin (em seu último filme) nesta produção modesta, mas muito fluente. 👿👿👿

Visitors
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2005 Beneath Still Waters • Brian Yuzna marcou época com seu nome excêntrico e produções apelativas que se destacaram nos tempos do VHS. Produziu e dirigiu clássicos do período como Sociedade dos Amigos do DiaboA Noiva do Re-Animator. Aqui ele dirige um terror mediano (produzido na Espanha), mas bem aceitável, considerando a média horrorosa das produções trash-digital atuais. Um jornalista investiga casos misteriosos em uma comunidade próxima a uma cidadela inundada. Integrantes de uma seita que atuava na cidadela podem ter voltado a vida em busca de vítimas! Apesar da bobagem geral, tudo funciona corretamente: a fotografia, a dinâmica, a diversidade de situações, os efeitos. O tropeço maior é por conta do elenco sem graça que não entusiasma pelo destino dos personagens. Mas é legal constatar que o veterano Yuzna não decaiu como muitos de sua geração. 👿👿

Beneath Still Waters
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2009 Knife Edge • Suspense bem decente de Anthony Hickox, um diretor que começou filmes pop-trash divertidos como Waxwork e Sundown. Emma é uma bem sucedida acionista financeira que se muda com o novo marido e seu filho pequeno para um casarão (casarão mesmo) no interior da Inglaterra. Logo descobre que o enorme local tem segredos que se manifestam para Emma como visões apavorantes. Thriller mediano, mas suficientemente envolvente e bem produzido. 👿👿👿

Knife Edge
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2011 Kotoko • Shinya Tsukamoto, que deu ao fantástico o cult Tetsuo, faz aqui um exercício em "cinema caseiro" de produção mínima e naturalista, misturando drama e horror. Kotoko é uma jovem desajustada socialmente que entrega seu filho bebê aos cuidados da irmã. Reclusa e sem contato social, Kotoko delira vendo pessoas duplicadas que invadem seu isolamento social até que um escritor (feito pelo próprio diretor Tsukamoto) se interessa por ela e tenta resgatá-la dos progressivos delírios de tragédia e violência que a atormentam. Um estudo em solidão e demência urbana, feito praticamente sem efeitos e com câmera solta. 👿👿

Kotoko
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2011 Twixt (Virgínia) • Francis Ford Coppola jamais vai recuperar a forma dos clássicos que fizeram seu nome, mas pelo menos ele é um diretor aventureiro que se lança em projetos inesperados como esta fantasia B. Um escritor de novelas fantásticas (Val Kilmer) visita cidadezinha interiorana para uma sessão promocional de seu novo livro e conhece uma história macabra ali ocorrida. Ao investigar os fatos com a intenção de escrever nova história, envolve-se com tipos excêntricos e até espíritos. Simpática e modestíssima produção que só erra na insuportável artificialidade de seu acabamento digital. 👿👿

Twixt
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2016 Blood Ballad • Direção, Ruggero Deodato. Depois de uma festa de Halloween, três estudantes encontram uma das amigas morta no apartamento, local que serviu a festejos, bebedeiras, intimidades e consumo de muitas drogas. Às voltas com o cadáver, tentam descobrir o responsável pela punhalada na garganta da jovem amiga. E quanto mais investigam e reconstituem suas memórias, mais se descobrem suspeitos pela morte. Produção curiosa, com insistência em gente pelada do começo ao fim e roteiro arrastado na narrativa. O elenco novato e a captura digital, assim como os efeitos, lançam uma suspeita forma amadora ao filme. Música de Claudio Simonetti (Goblin) e participação do próprio diretor em uma cena. 👿

Blood Ballad
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2016 Terra Formars • Takashi Miike (que ganhou o mercado ocidental com Ichi the Killer e Audiction) está dando uma pausa em seus delírios sádicos e investindo no cinema pop. Este Terra Formars é versão live action de uma animação famosa entre a j-gurizada. A Terra está superpopulosa e Marte é uma opção de colonização. Por isso, cientistas começaram a interferir na natureza marciana para adaptá-la aos humanos. Décadas depois do início das experiências, uma equipe de marginalizados é enviada para exterminar as baratas que se multiplicaram muito. Mas além da multiplicação, elas sofreram mutação e agora tem dois metros de altura e o porte físico do Dwayne Johnson! Ficção nos moldes do j-pop misturando um pouco de tudo: Blade Runner, Tropas Estelares, Alien, humor, games, violência e naturalmente, mangás! Perfeito nos mínimos detalhes, mas como Pacific Rim, depende de sua idade mental para embarcar na brincadeira. 👿👿👿

Terra Formars
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2017 D'apres Une Histoire Vraie (Baseado em Fatos Reais) • O suspense é um gênero que nunca sai de moda. Hitchcock usava a expressão "run for cover" como estratégia profissional: depois de um fracasso comercial, você volta a um modelo conhecido no próximo trabalho. Roman Polanski fez isso de forma bem sucedida em Frantic, Escritor Fantasma e neste Baseado em Fatos Reais. Emmanuelle Seigner é Delphine, uma escritora de sucesso que começa a ser perseguida por Elle (Eva Green). Inicialmente estabelece-se uma amizade, mas logo Elle começa a dar sinais de desequilíbrio. O filme chega a lembrar Misery, na relação possessiva do fã pelo escritor, e demora um pouco para acontecer, mas é tão envolvente em seus pequenos detalhes e seu perfeccionismo que é um prazer acompanhá-lo. 👿👿👿

Baseado em Fatos Reais
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2019 Il Signor Diavolo • Pupi Avati nunca foi um diretor muito badalado, mas deixou seu nome no fantástico com Balsamus e especialmente o clássico La Casa Dalle Finestre Che Ridono. Na ativa com produções regulares, ele volta ao horror com este drama impecável. Ambientado nos anos 50 conta a missão do jovem Furio, incumbido por autoridades religiosas de investigar o caso macabro de um garoto que atacou a dentadas uma criança, acreditando que se tratasse do Diabo encarnado! Perfeito em ambientação, mas a lentidão e excesso de falatório pode cansar. Seja como for é um exemplar consistente de um cinema que já foi responsável por inúmeros clássicos do fantástico. 👿👿👿

Il Signor Diavolo
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2021 Veneciafrenia • Alex de La Iglesia, que começou muito bem com Accion Mutante e O Dia da Besta, nunca saiu do mapa do fantástico contemporâneo. Ainda bem. Este Veneciafrenia é um exercício em produção que parte de uma situação manjadíssima de outros filmes: grupo de jovens turistas espanhóis visita o carnaval de Veneza e é vítima de criminosos que atacam fantasiados. Os primeiros três minutos já definem o filme e a espera por "algo mais" no roteiro é frustrada: a aventura se resume a isso mesmo. Mas Iglesia sabe o que faz e o filme prende o espectador com sua narrativa dinâmica e aflitiva do começo ao fim. Filmado em locações (com belo uso do Palácio Ducal), remete a Argento em muitos momentos. 👿👿👿

Veneciafrenia

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