16 de julho de 2022

Mario Bava - diretor ícone do pop italiano.

Mario Bava

O rei do euro-gótico. Mais ou menos o que Sergio Leone foi para o faroeste europeu, Bava foi para o suspense e terror. Um nome referenciado como ícone de gênero quando se fala em euro-horror por suas experiências estéticas e narrativas. Em filmes como The Evil Eye e Sei Donne Per L'Assassino, antecipou até mesmo os giallos que seriam produzidos na década de 70.

Mario Bava
• Mario Bava nasceu em 1914 em Sanremo. Graduou-se em artes visuais e iniciou carreira na fotografia. Seu pai, Eugene Bava, havia sido fotógrafo desde os primeiros anos da indústria cinematográfica italiana e o jovem Bava entrou para esse mercado naturalmente. Seu trabalho fotográfico em I Vampiri, dirigido por Ricardo Freda em 1957, o destacou como exímio iluminador e fotógrafo para climas mórbidos e góticos. Por desentendimentos com a produtora, o diretor Freda abandonou o projeto e Bava assumiu a finalização do filme, que viria a ser o primeiro thriller-gótico de uma série marcante pela década de 60. O sucesso de La Maschera Del Demonio estabeleceu definitivamente seu nome e abriu caminho para uma série de thrillers e fantasias nos anos seguintes. Entre produções notáveis e outras corriqueiras, o diretor repetiu fórmulas e inovou conceitos, sempre com a mesma excelência. Ciente do nível B de produção que estigmatizava o cinema fantástico, o diretor teve especial atenção à criação estética e iluminação como fundamento básico de seus filmes ("Nos filmes de horror, 70% da eficiência vem da iluminação" - IMDB). Seguiram-se trabalhos exemplares e influentes como La Ragazza Che Sapeva Troppo e Tre Volte Della Paura (Black Sabbath).

Mas, naturalmente, nem tudo é sempre cinco estrelas na obra do diretor que passou por algumas extravagâncias pop como Diabolik (1968), Hércules no Centro da Terra (1961), Planeta dos Vampiros (1965), Dr Goldfoot and the Girls Bomb (1966), sequência de Dr Goldfoot and the Bikini Machine, e um dos primeiros destaques de Laura Antonelli. Em diversas ocasiões, Bava simplesmente reciclou fórmulas funcionais de excelência estética garantida como em Gli Orrore Del Castello di Norimberga (Baron Blood, 1972). 

Depois de variantes genéricas como em Bay of Blood ou Cinco Bambole Per la Luna D'Agosto, um western satírico fraquinho (Roy Colt & Winchester Jack), e um road-movie, Bava aposentou-se em 1975. Por insistência do filho Lamberto Bava (que foi assistente de direção em muitos filmes do pai), voltou a dirigir no notável Shock (1977). Bava faleceu em 1980 vitimado por um ataque cardíaco, deixando uma notável carreira em experimentação estética no cinema.

Mario Bava

1960 La Maschera Del Demonio (Black Sunday) • Clássico do diretor e do cinema fantástico. Uma feiticeira executada pela inquisição é revivida acidentalmente quando algumas gotas de sangue caem sobre seu ataúde e inicia uma vingança contra os descendentes dos que a condenaram. Bava dribla genialmente as limitações de produção com seus jogos fotográficos, neblina e efeitos de profundidade espacial e está repleto de cenas memoráveis como a execução na abertura, a carruagem atravessando a noite em câmera lenta, a panorâmica na cripta e com efeitos ainda impactantes, como a reconstituição dos olhos da feiticeira no túmulo. O sucesso pavimentou o caminho para inúmeras produções posteriores – como Por Um Punhado de Dólares faria anos depois no spaguetti-western. A inglesa Barbara Steele se tornaria referência no gênero. Bava teve ofertas de fazer uma refilmagem, mas considerava o filme primário demais! (trivia IMDB)

1963 La Ragazza Che Sapeva Troppo (The Evil Eye) • Thriller que serviu de variante experimental ao diretor. A jovem Nora visita Roma e presencia uma mulher sendo apunhalada em uma praça. Mas ela pode ter visto apenas uma projeção de um crime ocorrido há anos! O jovem doutor Marcello (John Saxon) a auxilia na compreensão do caso. Bava aprimora suas composições de luz e sombra em um trabalho noturno e de elementos diversos. Entre alívios românticos ou situações evasivas, o diretor compõe sua narrativa como um gótico-contemporâneo de experiências visuais que reiteram ingredientes gráficos de sua obra, como ambientes de profundidades ameaçadoras, idosos enfermos, painéis vazados decorativos, corredores sombrios, sombras expressionistas. Antecipou muito do que foi feito posteriormente no giallo, inclusive o cinema de Dario Argento. 

1963 La Frusta e Il Corpo (The Whip and the Body) • No mesmo ano de Três Máscaras do Terror, Bava dirigiu este gótico, em cores saturadas (inaugurando o que se tornariam sua marca), que pode ser destacado como um de seus mais intensos trabalhos em experimentação e fotografia. Christopher Lee é Kurt, um jovem que volta ao castelo da família para reivindicar riquezas, depois de inúmeros conflitos com os familiares. Entre algumas externas litorâneas naturalistas e interiores sombrios de estilizadíssimas sombras expressionistas, este filme e Sei Donne Per L'Assassino alteraram conceitos estéticos no fantástico europeu. Onírico em sua suspensão fantasiosa, este é destacável como um dos mais fascinantes trabalhos do diretor.

1964 Sei Donne Per L'Assassino • Um pré-slasher de mortes sequenciais em uma trama envolvendo assassinatos no mundo da moda. Estilizadíssimo nos quadros que remetem a HQs, abusado na violência de algumas cenas e servindo de base ao cinema de Dario Argento, Sei Donne Per L'Assassino é um divisor de águas no circuito fechado do euro-terror.  

1966 Operazione Paura (Kill Baby Kill) • Giacomo Rossi Stuart é um doutor que visita uma aldeia para desvendar as misteriosas mortes que ali ocorrem. Inevitável repetir todos os elogios cabíveis à obra do diretor, Kill Baby Kill é um desfile extasiante de cenas barrocas onde o que menos importa é a trama fraquinha. 

1970 Cinco Bambole Per La Luna D'AgostoThriller playboy com tudo o que a época permitia: erotização, Edwige Fenech, títulos extravagantes (pós-Argento) e música pop-kitsch do grande Piero Umiliani. No modelo de O Caso dos Dez Negrinhos, um grupo de pessoas reunido em uma casa de campo é alvo de um misterioso assassino.

1971 Bay of Blood • Um variante em slasher antes mesmo da instauração do gênero no cinema ianque. Veja o post.

1972 Gli Orrori Del Castello Di Norimberga (Baron Blood) • Elke Sommer é uma estudante de arquitetura que faz um trabalho no velho castelo do Barão Otto von Kleist, um nobre famoso por suas atividades desvirtuadas e violências. Uma cerimônia executada nos aposentos do local podem ter trazido o espírito do Barão de volta a vida! Neo-gótico de autorreferência, com os habituais contrastes de luz, profundidades espaciais ameaçadoras e cores saturadas. Pode ser considerado um fim de ciclo na obra do diretor.

1974 Canni Arrabiati • Em uma pausa em seus delírios góticos, Bava dirige aqui um agoniante e claustrofóbico suspense de estrada. Veja em On the Road.

1974 Lisa and the Devil • Elke Sommer perdidaça em um castelo por onde circulam tipos estranhos e situações inexplicáveis. Um dos bons neo-góticos do diretor. Veja o post.

1977 Shock • Daria Nicolodi conduz este drama bizarro de loucura e percepção alterada da realidade. Veja o post.

Mrio Bava

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