Acabando com a gurizada! Estigmatizado como fim de ciclo na história do cinema, os anos de 1980 viram o cinema que vinha revigorado do pós-guerra e da geração nova-Hollywood perdendo terreno aos reposicionamentos mercadológicos. Os astros e fórmulas genéricas (faroeste, guerra, policial...) já estavam desgastadas e o cinema pop-europeu entrava em declínio com seus astros da comédia e da ação entrando na meia-idade. Coube então à massiva produção norte-americana caracterizar o período com seu cinema de descarado apelo às massas. Na área do fantástico, foi o teen-terror, repleto de estudantes em perigo e uma produção totalmente desconectada dos posicionamentos político-culturais da geração anterior.
E o cinema ianque refletiu o momento em sua massiva produção blockbuster. Após o sucesso de Sexta-Feira 13 (1980) e sua premissa simplória como a de um trem-fantasma, alternando sustos e relaxamento, o florescimento do chamado gênero slasher foi caracterizador do momento em incontáveis cópias-variações da fórmula básica: jovens paspalhos fora de seu espaço habitual, ameaçados por um agente assassino. Os que não tiveram sucesso nas telas, acabaram por encontrar seu espaço nas prateleiras de locadoras de vídeo, na Golden Age do VHS.
Dos filmes francamente medíocres aos menos idiotas, o slasher oitentista foi a maior concentração de estudantes e jovens em férias e a glória assumida do cinema B, de produção barata e roteiros sem ambição que se resumiam ao body-count de seu elenco até o confronto final, invariavelmente com a final girl. Veja aqui um pouco mais de slasher. Confirmando seu indisfarçado valor mercantil de apelo fácil, muitos da lista abaixo foram refilmados ou adaptados na produção contemporânea.
A opção artística pela simplicidade assumida funcionou, tecnicamente e comercialmente, mas redefiniu perigosamente os níveis de aceitação incorporando a preguiça, tanto na produção quanto na apreciação pelo público. Fazer o quê, né? Agora a história já está escrita e o que nos resta é o saudosismo macabro de revisitar algumas pérolas desvirtuadas do cinema B que entulharam as prateleiras das videolocadoras.
1980 Friday the 13th (Sexta Feira 13) • O clássico B, culpado por todas as sequelas sofríveis ou não no gênero, sem esquecer de Halloween de 1978, mas Halloween tinha uma sofisticação de entrelinhas com o Michael Myers atuando como agente de desafetos, enquanto que Jason é um sincero idiota da porradaria (ou melhor, a sra. Voorhees). No elenco jovem, um moleque chamado Kevin Bacon se tornou um dos melhores atores de sua geração e ainda constituiu uma interessante passagem pelo cinema fantástico. Menção honrosa aos ótimos efeitos de Tom Savini e ao icônico jump final no lago, inesquecível e ainda eficiente. 👿👿👿
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1980
Prom Night • Jamie Lee Curtis garantindo seu nome como a melhor
scream-queen do período. História simplória sobre a vingança contra os responsáveis por uma brincadeira infantil que levou uma garota a um acidente fatal. Anos mais tarde, todos crescidos e finalizando estudos, preparam-se para o baile de formatura, mas um misterioso assassino os localiza e passa a matá-los. Ótima atmosfera e, apesar de um
killer pouco animador, que apunhala as vítimas com cacos de espelho quebrado, o clima macabro é garantido na fotografia enevoada. Jamie ainda tem seu momento de
disco-queen em uma longa cena de dança. Veja também
Terror Train. 👿👿👿
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1981
My Bloody Valentine (
Dia dos Namorados Macabro) • Um minerador traumatizado por um soterramento volta para se vingar no Dia dos Namorados. Grande exemplar do gênero, já incluído na
seleção slasher.
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1981 Friday the 13th, Part 2 (Sexta Feira 13, Parte 2) • Agora sim, Jason ataca e faz seu nome como um dos mais eficientes killers do cinema slasher. Agora crescido, o garoto que não foi encontrado no acampamento do Crystal Lake, passa a atacar jovens em acampamentos próximos. Parte 2 repete a receita anterior inclusive mantendo a eficiência do susto final com o Jason cabeludo atacando pela janela. No filme seguinte, Parte 3, Jason finalmente ganhou a máscara de hóquei que acabou compondo a imagem símbolo da série. 👿👿
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1981 The Burning • Esse virou cult pela figura do assassino empunhando um tesourão de jardim. Simplão e despretensioso, mas tem a seu favor um tema musical de Rick Wakeman e efeitos sangrentos de Tom Savini. Um grupo de jovens prepara uma pegadinha em um zelador de acampamento, mas a brincadeira sai do controle e o zelador acaba em um hospital com sérias queimaduras. Anos mais tarde passa a atacar os acampamentos próximos de sua região. Simples e direto na média do gênero, The Burning tem ótimo clima fotográfico e a icônica cena do tesourão cortando dedinhos. Também circulou como O Queimado e A Vingança de Cropsy. 👿👿👿
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1981
Evilspeak (
Mensageiro de Satanás) • Mais um
cult na linha "tão ruim que é bom". Jovem desajustado no ambiente estudantil descobre um meio de invocar forças malignas para se vingar.
Veja no post.
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1981
Happy Birthday To Me • Produção acima da média dirigida por J. Lee Thompson pegando carona na onda do
teen-terror.
Veja no post.
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1981
Hell Night • Linda Blair seguindo na carreira incerta, aqui em um dos bons thrillers de sua época.
Veja no post.
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1981 Final Exam • Grupo de estudantes é alvo de um assassino em período de encerramento de ano letivo. O pior do pior do mundo? É possível. Nem mesmo uma motivação ao assassino é sugerida em uma narrativa gratuita de nível semiprofissional. Se for encarar, não perca o assassino com cara de Zacarias! 👿
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1981 The Prowler (Quem Matou Rosemary?) • Estudantes em um baile de formatura são vítimas de um assassino que ataca em uniforme de fuzileiro da Segunda Guerra. Ótimos cuidados fotográficos e efeitos de Tom Savini perdidos em uma narrativa arrastadíssima em tentativa desajeitada de fazer suspense. Participação do veterano Farley Granger (Pacto Sinistro). 👿
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1981 Just Before Dawn • Mais do mesmo, só que feito decentemente. Grupo de cinco jovens em um acampamento são vítimas de um deformado, filho de famílias montanhesas. Nada de novo, mas com uma atmosfera fotográfica tão boa na captura das densas florestas e penhascos que cria o adequado senso de insegurança e realismo. Valorizado ainda pela presença do veterano e sempre bom George Kennedy. Faltou trilha sonora para dar mais vigor ao suspense, mas considerando a média baixa do ano, seguinte a Sexta Feira 13, este se destaca facilmente entre os bons do período. 👿👿👿
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1981 Graduation Day • Anne é uma oficial da marinha que volta a sua cidade para investigar a morte da irmã caçula em uma prova de educação física na faculdade. Durante os festejos de graduação, integrantes da turma de ginástica vão sendo mortos misteriosamente. Desajeitado e feito às pressas como muitos do mesmo ano, posteriores a Sexta Feira 13. As tentativas de inventar style na montagem esquisitona não deram certo, e resta um filme divertido pelos motivos errados! De diálogos ridículos a elenco ruim Graduation Day é forte candidato a bad-cult. 👿👿
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1982 One Dark Night • Meg Tilly é uma estudante que se submete a um teste de fogo para ser aceita em uma turma: passar uma madrugada em um mausoléu, mas um sensitivo com poderes mentais foi encerrado nesse lugar e logo ele se liberta provocando um levante de mortos. Capenga em todos os sentidos, sem imaginação no roteiro e com efeitos ridiculamente pobres. 👿
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1983 The House on Sorority Row • Grupo de garotas em fim de temporada de estudo se recusam a deixar as hospedagens apesar das insistências da proprietária do edifício. Preparam um trote para a senhora intransigente e acabam por matá-la acidentalmente. Consistente e dinâmico, entre os bons do período. Elenco empenhado e boa direção garantem o show de suspense. Referência inevitável: o corpo que some da piscina como em As Diabólicas. 👿👿👿
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1983
The Final Terror • Jovens em excursão se perdem na floresta onde um eremita deformado começa a segui-los. Faltou
body-count para ser um clássico do terror, mas a atmosfera conseguida é das melhores.
Veja aqui.
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1984 The Mutilator • O pai de Ed, enlouquecido depois do acidente da esposa, provocado pelo menino, arma uma vingança sangrenta na casa de praia onde os amigos de Ed se reúnem. Dos mais fracos do período, este é um desfile de desarranjos a começar pelo tempo decorrido para a vingança do assassino: por alguma razão ele levou uns vinte anos para atacar! Elenco fraco, enrolação de suspense e gracinhas sem graça, arrastam o filme. Único filme do diretor Buddy Cooper (ainda bem), só que não! como o assassino atrasado, ele voltou uns trinta anos depois para fazer a sequência, The Mutilator 2!!! O título original era Fall Break, o título The Mutilator serviu a seu lançamento em vídeo. 👿
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1986 April Fool's Day (Noite das Brincadeiras Mortais) • Esse se destacou da média pela excelência em suspense. A jovem Muphy convida um grupo de amigos para uma temporada em sua casa isolada numa ilhota costeira. Entre brincadeiras e pegadinhas de salão de primeiro de abril, a situação vai ficando preocupante quando começam a ser atacados um a um. Sem excessos violentos, o filme se concentra em uma exemplar construção de suspense citando até Agatha Christie (especialmente O Caso dos Dez Negrinhos). E as pegadinhas acabam por envolver o espectador como em um grande prank cinematográfico, um filme-pegadinha! Afinal o cinema não é nada mais do que isso... Dirigido e produzido com competência, este April Fool's Day está para o slasher assim como o Clube dos Cinco está para a geração brat-pack. 👿👿👿👿
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1987 Blood Rage • Também intitulado Slasher, este é uma das coisas mais capengas do cinema! Todd é encarcerado na adolescência por um crime que seu irmão gêmeo Terry cometeu. Anos mais tarde Todd escapa e as mortes começam a ocorrer entre amigos e familiares próximos. Praticamente sem direção o filme é um desfile de cenas com elenco à deriva como em grande ensaio amador! Uma pena ver Louise Lasser, a ex de Woody Allen, no constrangimento infinito de cenas vergonhosamente ruins. Ao menos deve servir de advertência e lição de casa para estudantes aspirantes a direção. 💣
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