O fortim já não era o mesmo. A seu respeito uma intranquilidade pairava no ar. Na véspera ele aparentara ser apenas uma velha construção de pedra. Agora era mais do que isso. Cada sombra parecia mais escura e mais profunda do que antes, e com um toque indescritivelmente sinistro.
• O Fortim é o livro que deu origem àquele filme meio esquisitão do Michael Mann (The Keep/Fortaleza Infernal, 1983). Conta a história de um destacamento do exército alemão que em 1941 instala-se em uma pequena fortaleza (fortim) durante manobras na Romênia. Uma vez no local acabam por libertar uma força maléfica que ali foi encarcerada há milênios. A entidade começa a matar os soldados a cada noite de permanência no local. E o professor Theodore Cuza, especialista no folclore da região, é chamado para tentar desvendar algumas misteriosas inscrições que surgiram na parede. Detalhe: escritas com o sangue dos soldados!
Com texto fácil e muito fluente, O Fortim é de leitura rápida e envolvente. Um livro bem construído e que tenta uma simplória implicação política no fato das forças nazistas terem incitado uma entidade maligna maior, em sua presunção e ação inadvertida. O bom é que o autor consegue uma estrutura de personagens tão consistente que todo o fantasioso e o suspense se tornam muito aceitáveis. Mas, por outro lado, toda a consistência histórica, relações entre personagens e realismo dramático, impactam contra a atmosfera de fantasia gótica, especialmente quando revela que a entidade (chamada Molasar) foi participante da corte de Vlad Tepes e tem comportamento que refere ao de vampiros – drena o sangue das vítimas em mutilações na garganta.
Ele se alimenta do sangue vivo... quanto a isso não pode haver dúvida, a julgar pelo que vi nos cadáveres dos soldados. Todos eles foram dessangrados através do pescoço. Ontem de noite comprovei que a imagem dele não se reflete no espelho o que demonstra ser verdadeira esta parte da lenda tradicional dos vampiros.
A sustentação da narrativa se dá pelo constante mistério e revelações bem dosadas que compõem um interesse crescente até a ação do epílogo que tem até mortos-vivos nazistas! Apesar do conflito perigoso de seus elementos principais – realismo dramático versus fantasia incondicional – O Fortim é um dos bons exemplares de sua época, é suficientemente original e garantiu uma carreira literária, paralela às atividades na medicina ao autor Francis Paul Wilson, que não esconde sua admiração e um pouco de influência de Lovecraft.
As íris em torno das pupilas eram igualmente negras, dilatando-se enquanto ela as observava, alargando os dois buracos, empurrando-a para o domínio da loucura.
O fortim lá estava, sobre sua rocha, como um estranho animal marítimo que estendesse tentáculos em todas as direções.
• O livro inicia o chamado "ciclo do inimigo" (adversary cycle), que seria seguido por mais cinco livros. Apenas quatro seriam editados aqui: O Sepulcro, O Toque Mágico, Renascido, Represália. O último, Nightworld, não recebeu tradução.
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Leitura Passional
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O Fortim
The Keep, F. Paul Wilson, 1981Editora Record, Rio de Janeiro - RJ, 1981
354 páginas
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