3 de agosto de 2021

A Casa das Janelas Sorridentes

La Casa Dalle Finestre Che Ridono (Itália, 1976)

Diret Pupi Avati
Com Lino Capolicchio, Francesca Marciano, Gianni Cavina, Giulio Pizzirani, Bob Tonelli, Pietro Brambilla.

La Casa Dalle Finestre Che Ridono

Rindo até hoje. O giallo já havia dado o que podia por volta de 1976, e depois do clássico Profondo Rosso parecia haver pouca coisa a se inventar na exuberância histriônica proposta no gênero. Temos então este pequeno-grande suspense que escapa do molde dos giallos para encontrar um excelência muito própria em narrativa e aspectos gráficos. Stefano é um restaurador de arte contratado para cuidar de um afresco encontrado na parede de uma igreja. Tão logo chega ao vilarejo e se instala em uma hospedaria, começa a receber telefonemas ameaçadores para que abandone o trabalho.

Quanto mais Stefano se interessa e pesquisa sobre a obra, mais acaba convivendo com os excêntricos moradores locais. O pintor Legnani, responsável pelo afresco, teve um histórico de loucura e crimes, e ninguém no vilarejo deseja falar do assunto. Logo as pessoas mais próximas de Stefano começam morrer misteriosamente. E o processo de descobertas, que coincide com a restauração e revelação da obra completa, começa a levar Stefano a uma teia de taras comportamentais e loucura.

A curiosidade maior é que o filme não joga apenas com o mistério e a violência rondando o protagonista. O processo de envolvimento também começa a afetar sua percepção e o filme usa a foto amarelada como transporte sensorial ao clima de pesadelo que cresce com as revelações. As sequências em que ele busca por Francesca ou as revelações finais, envolvendo incesto e travestimento, tem um poder de choque como poucos em sua imersão doentia. A autenticidade decrépita dos velhos casarões (uma virtude no gênero e no período) é utilizada com grande propriedade. A cena em que Stefano investiga os cômodos durante a noite é especialmente incômoda em seu apavorante efeito onírico. 


A lamentar, dois pontos falhos: o protagonista fraquinho não causa maior empatia e a trilha sonora sintética que intencionalmente (assim parece) foge à tradição de excessiva presença das trilhas italianas no período, reduzem um pouco a voltagem dramática fazendo algumas passagens se arrastarem. Mas também é considerável que a lentidão de alguns tempos narrativos geram o envolvimento sensorial devido para que as sequências de horror sejam tão marcantes. Original em uma produção de gênero que primava pela repetição de fórmulas, La Casa Dalle Finestre Che Ridono ficou na história como um dos mais imersivos filmes de suspense já feitos. 

• Coisa de pesadelo: o corpo conservado em formalina.
• Trauma fílmico: as duas irmãs ainda estão vivas!
• Menção honrosa para a abertura em sépia com o corpo sendo esfaqueado.
• Enigma pós-final: a mão que se apoia na árvore na última imagem do filme.
• Ainda falta uma edição decente em DVD.
• O diretor Pupi Avati tem uma curiosa carreira no pop italiano. Mais dedicado a dramas e comédias, suas incursões no fantástico renderam filmes bastante diferenciados, especialmente Balsamus (1970), Zeder (1983) e este La Casa Dalle Finestre Che Ridono, situado entre os mais inventivos filmes de suspense do cinema.

Expectativa 🏠🏠🏠       Realidade 🏠🏠🏠🏠

La Casa Dalle Finestre Che Ridono

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