Uma das novidades mais interessantes no cinema contemporâneo e que virou um gênero à parte foi o chamado found footage. "Metragem encontrada" ou "filmagem encontrada". Filmes que supostamente não foram feitos de forma premeditada, com roteiro e tal. Teriam sido achados e seriam capturas de situações reais. É uma premissa bacana para impressionar a plateia na suposição de que o que ela está vendo é real. Sem encenação. Funcionou muito bem para filmes de terror. Especialmente nestes tempos de captura digital e equipamento mais leve. Mas a sugestão de realismo em filmes de ficção tem mais história. Até o clássico Cidadão Kane tem cenas de câmera solta para um suposto documentário real sobre Kane. A intenção ao real foi uma busca importante para uma parcela de cineastas desde os primeiros anos do cinema, como a "câmera-olho" de Dziga Vertov ou o naturalismo do cinema neo-realista italiano do pós-guerra.
Em tempos de cultura pop e um cinema assumidamente comercial, apelativo, exploitation, a sugestão de realismo foi explorada (exploit) sempre de forma a fascinar morbidamente como nas emissões piratas de Videodrome, nos crimes vistos pela ótica da câmera em Henry: Retrato de um Assassino ou no folclore snuff de curtas experimentais como os famosos Aftermath (1994) e a série japonesa Guinea Pig (1985).
O cult Mórbida Curiosidade discute um pouco esse fascínio. Em A Entidade, os filmes Super-8 encontrados no sótão são exibidos com grande efeito. E até em Pearl Harbor tem uma ceninha com o cinegrafista caindo morto diante da própria câmera, igualzinho em Cannibal Holocaust. O mais antigo found footage que vi é Punishment Park, produção americana dos tempos da contracultura. Não é terror, mas o conceito já esta lá.
Em tempos de cultura pop e um cinema assumidamente comercial, apelativo, exploitation, a sugestão de realismo foi explorada (exploit) sempre de forma a fascinar morbidamente como nas emissões piratas de Videodrome, nos crimes vistos pela ótica da câmera em Henry: Retrato de um Assassino ou no folclore snuff de curtas experimentais como os famosos Aftermath (1994) e a série japonesa Guinea Pig (1985).
O cult Mórbida Curiosidade discute um pouco esse fascínio. Em A Entidade, os filmes Super-8 encontrados no sótão são exibidos com grande efeito. E até em Pearl Harbor tem uma ceninha com o cinegrafista caindo morto diante da própria câmera, igualzinho em Cannibal Holocaust. O mais antigo found footage que vi é Punishment Park, produção americana dos tempos da contracultura. Não é terror, mas o conceito já esta lá.
Aí vai uma lista de 20 destaques
1998 The Last Broadcast - Equipe de cinegrafistas amadores pesquisam sobre a lenda do Demônio de Jersey e são atacados na floresta onde pesquisavam material. Apenas um deles regressa e as fitas gravadas trazem revelações inesperadas. Possivelmente foi a inspiração de Bruxa de Blair que "aproveitou" a ideia básica e a desenvolveu em um projeto mais consistente. Last Broadcast é experimental e naturalista, mas não constrói a evolução dramática como Bruxa fez tão bem, e se prende na investigação da filmagem encontrada para decifrar sobre os desaparecimentos. Cria sua estrutura com depoimentos e imagens de estúdio e de edição como um filme de bastidor no qual vemos as estruturas técnicas e os depoimentos, mas não a ação que o cinema sempre privilegiou como atrativo básico. Mockumentary mediano. Seu maior mérito, hoje, é o pioneirismo no gênero. 😈
2002 My Little Eye (O Olho Que Tudo Vê) - Cinco jovens são selecionados para participar de um reality e ficam isolados em uma casa na floresta por seis meses. A casa tem câmera por todo canto, tem no corredor, no depósito, tem câmera até na caneta tinteiro! Suspense que marcou o interesse de grandes estúdios no gênero found footage. Com roteiro que evolui de forma convencional, o filme busca inovação na nova estética da câmera realista. My Little Eye ajudou a dar credibilidade ao novo gênero. Foi dos primeiros (se não o primeiro) a utilizar a luz verde de câmera noturna. 😈😈
2007 REC - Equipe de jornalismo fica retida em um condomínio em que há suspeita de contaminação. Os contaminados se tornam living-dead raivosos! Produção espanhola clássica no gênero. Tecnicamente consegue um equilíbrio muito bom entre o corre-corre e momentos de atenuação e as atuações naturalistas acrescentam muita credibilidade ao que é visto. Teve três sequências de níveis regulares. Veja post.
2007 Paranormal Activity - Possivelmente o maior sucesso do gênero depois de A Bruxa de Blair. Ao testar uma nova filmadora em atividades residenciais corriqueiras, casal registra ocorrências sobrenaturais em sua casa. O filme trabalha muito com a expectativa e um mínimo de efeitos, o que deve ter barateado a produção mais ainda de que Bruxa. Foi muito bem recebido pelo público e acabou por estigmatizar o gênero (e por extensão o cinema de terror moderno) como uma maratona de sustos fáceis (jump scare). Virou série de sucesso, com quatro sequências, por enquanto... 😈😈
2007 The Poughkeepsie Tapes - Primeiro longa do diretor John Erick Dowdle que faria o bem recebido Assim na Terra Como no Inferno. No formato de mockumentary (documentário falso) o filme edita uma sequência de depoimentos, telejornais e capturas pelas câmeras do assassino que, na cidade de Paughkipsie, torturou e matou diversas pessoas. Talvez tenha utilizado defeitos demais para a aparência de real. Abusa de distorção de cor e de imagem, granulação, erros de quadro, cena escura e ao tentar incorporar muita informação correu o risco de ficar dispersivo. A profusão de cenas de telejornais, depoimentos, capturas erradas e tremedeira de imagem impede uma visão de conjunto e prejudicou demais o resultado. Mas conseguiu destaque e marcou um período em que o found footage se fortalecia com o sucesso de Atividade Paranormal. 😈😈
2008 Cloverfield - O found footage ganha produção mais cara e integra ótimos efeitos digitais nesta versão de monstro-do-espaço-atacando-cidade. É claro que Cloverfield não supõe realismo na invasão alienígena, mas faz ótimo uso da estética com câmera na mão adaptada a narrativa tradicional de aventura. Apesar de ser um filme de monstro em que quase nem se vê o monstro, na época pareceu ser o found footage definitivo com seu corre-corre e pela colocação da câmera no meio das ações (regra básica do gênero). A cabeça da Estátua da Liberdade jogada no meio da rua já pode ser considerada um momento antológico do gênero. Teve uma disfarçada sequência, ou variação sobre o tema (Rua Cloverfield 10), e parece que vai virar série de cinema. 😈😈
2010 O Último Exorcismo - Padre mais ou menos crente atende a um caso de possessão que tem desdobramentos além de sua capacidade. Divertida inversão de expectativa que retira o heroísmo da figura do padre e o apresenta como um declarado charlatão. Ciente de sua função em auxiliar pessoas em necessidade, mas duvidoso de sua própria fé. Veja post.
2010 Troll Hunter - Equipe de cinegrafistas documenta um caçador em expedições a regiões desabitadas da Noruega onde suspeita-se que vivam gigantescos trolls. Premissa amalucada e fantasiosa, especialmente considerando a aparência caricata dos trolls, mas muito bem realizada. Produção norueguesa que equilibra muito bem os efeitos digitais nas supostas filmagens reais. "Nenhum troll foi ferido na produção deste filme" garante o crédito final. Found Footage para Sessão da Tarde. 😈😈😈
2011 Grave Encounters - Equipe de produção de um reality sobrenatural passa madrugada em um hospício desativado para documentar as supostas atividades sobrenaturais que ali ocorrem. Consegue, mas ao fim da madrugada as portas de saída se confundem com as de entrada e a noite insiste em continuar mesmo depois das sete da manhã! Boa reunião de referências criadas pelo próprio gênero mas por algum motivo o conjunto todo não convence muito. Parece prever o esgotamento do gênero pela repetição de fórmulas. 😈😈
2011 The Tunnel - Equipe de cinegrafistas investiga subterrâneos abandonados há décadas cujo acesso é impedido pelas autoridades. A equipe descobre que pode haver algo vivendo na escuridão das galerias labirínticas. Suspense australiano que não foge à regra claustrofóbica já consagrada no gênero. Montado como um documentário falso (mockumentary). É mais do mesmo que vimos antes, só que muito bem feitinho e com um dos ambientes mais assustadores já encontrados para um filme do gênero: a galeria de corredores subterrâneos onde se passa a maior parte da ação. 😈😈😈
2011 Apartment 143 (Emergo) - Grupo de parapsicólogos registra eventos em um apartamento a pedido dos moradores: um viúvo que cuida da filha adolescente e do filho pequeno. Produção espanhola eficiente, mas sem novidade. O problema principal: pra funcionar direito, o found footage precisa de premeditação e preparação de clima. E aqui tem preparação demais, leva praticamente uns 50 minutos pra esquentar. Ainda assim, e apesar de muito depoimento e falatório, tem seus grandes momentos especialmente na possessão da filha. 😈😈
2012 The Conspiracy - Dois jovens jornalistas pesquisam sobre sociedades secretas e se infiltram na cerimônia de um grupo que reúne membros de diversas partes do país e que pode ser o grupo mais importante em suas atividades. Ótimo suspense canadense que investe nas teorias sobre sociedades secretas e discussões sobre a organização sócio-politico-econômica no mundo contemporâneo. Veja post.
2011 Grave Encounters - Equipe de produção de um reality sobrenatural passa madrugada em um hospício desativado para documentar as supostas atividades sobrenaturais que ali ocorrem. Consegue, mas ao fim da madrugada as portas de saída se confundem com as de entrada e a noite insiste em continuar mesmo depois das sete da manhã! Boa reunião de referências criadas pelo próprio gênero mas por algum motivo o conjunto todo não convence muito. Parece prever o esgotamento do gênero pela repetição de fórmulas. 😈😈
2011 Apartment 143 (Emergo) - Grupo de parapsicólogos registra eventos em um apartamento a pedido dos moradores: um viúvo que cuida da filha adolescente e do filho pequeno. Produção espanhola eficiente, mas sem novidade. O problema principal: pra funcionar direito, o found footage precisa de premeditação e preparação de clima. E aqui tem preparação demais, leva praticamente uns 50 minutos pra esquentar. Ainda assim, e apesar de muito depoimento e falatório, tem seus grandes momentos especialmente na possessão da filha. 😈😈
2013 The Dyatlov Pass Incident (Mistério da Passagem da Morte) - Curiosidade: um diretor veterano investe na nova forma narrativa! Aqui é Renny Harlin (Duro de Matar 2, Cliffhanger) que conta a história de estudantes que realizam um documentário sobre os desaparecimentos envolvendo a misteriosa Passagem Dyatlov. Harlin busca alternativa no gênero ao desenvolver o suspense em áreas amplas (com aparições muito sutis de criaturas) para depois contrastar com a claustrofobia labiríntica, quando a equipe descobre laboratórios ocultos pela neve das montanhas. E os laboratórios ainda são habitados pelas experiências que não deram muito certo... Bacaninha e baseado em desaparecimentos reais ocorridos em 1959 em montanhas na Russia. 😈😈
2013 Th3 Pit - Produção italiana, irregular, mas interessante na utilização de captura até mesmo de câmeras de notebooks. Professor investiga as atividades reclusas de um adolescente e descobre o que pode ser um culto secreto. Tentativa mediana de retomar a produção de terror feita por Filippo De Masi que é filho de Francesco De Masi, um dos mais ativos compositores do cinema B italiano dos anos 60 e 70. Tão alternativo e pouco citado que nem tem imagens disponíveis pela internet! Curiosamente um dos itens que mais teve significado na divulgação do filme foi a trilha sonora muito boa do novato Furio Valitutti. Filme disponível no Vimeo. 😈
2014 The Houses October Build - Grupo de cinegrafistas faz documentários sobre parques temáticos de horror que funcionam em período de Halloween. Variação no gênero com resultado dinâmico. Facilmente destacável como um dos bons exemplares do found footage. Veja post.
2015 As Above So Below - Pesquisadores exploram os subterrâneos de Paris onde as catacumbas e galerias levam a segredos e perigos. Claustrofobia garantida em um exercício narrativo bem bacana. Sem grandes pretensões, mas muito eficiente. Veja post.
Black Phillip não é o mais ardoroso fã do gênero e depois de ver coisas ruinzinhas que só foram feitas porque os processos digitais proporcionam facilidade técnica e financeira, ficou ainda mais cuidadoso com a profusão de filmes amadores, web series e apelações diversas que embarcam no mercado. Em dez anos de produção found footage, a opção já parece ter se esgotado. Muitos filmes parecem ser apenas exercícios em produção com suas histórias mínimas e atenção especial à atuação e arranjos técnicos que justifiquem a inclusão de qualquer material: luz natural, filmagem aleatória, erro. É possível que o found footage tenha chegado ao limite criativo. O que dizer da refilmagem de Bruxa de Blair?! E também é preciso muita vontade pra encarar filmes como Th3 Pit ou Unfriended que se por um lado tentaram inovar na inserção dos ambientes digitais e redes sociais como elemento de horror, por outro podem ser tão chatos quanto perder uma tarde inteira vendo nada no Facebook.
Atrasados e ainda a checar: VHS, Digging Up the Marrow, Willow Creek, Noroi, Atrocious, Afflicted, Lake Mungo, The Taking of Deborah Logan, Found Footage 3D, Exército de Frankenstein.
Atrasados e ainda a checar: VHS, Digging Up the Marrow, Willow Creek, Noroi, Atrocious, Afflicted, Lake Mungo, The Taking of Deborah Logan, Found Footage 3D, Exército de Frankenstein.
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