Jo no quiero ver esto! Existem limites para fãs de terror? O cara pode ser o mais radical devoto do extreme, mas mesmo assim tem coisa feia de olhar. "Feio" aqui não quer dizer exclusivamente violência ou escatologia. Felipe Preto se refere aqui a coisa feia enquanto cinema mesmo. E isso nem é uma manifestação de intenção crítica ou seletiva. E sim uma imensa dúvida com relação a coisas que foram concebidas por critérios não identificáveis. Sabe quando você não vê mais o filme e começa a ver as deficiências. É um estado quase mágico e intermediário de sublimação invertida, quando a encenação desajeitada se torna muito evidente e o filme que deveríamos ver se desfaz diante dos olhos. Então, é por aí que se orientou esta seleção.
Será que foi contestação ao modelo vigente, foi pra testar os limites do espectador, falta de roteiro melhor... seja como for, tem filme que é uma dúvida pra sempre. Veja por exemplo o apreciado Thriller, a Cruel Picture (1973) um rape-revenge nível B (ou C) com inserts explícitos de sexo, ou mais recentemente o francês Baise Moi (2000) uma espécie de Thelma e Louise hardcore feito por equipe de filmes pornô. Observando os resultados, onde termina o cinema e começa a picaretagem? Ou versa-vice. Pode até parecer um questionamento meio besta, mas a questão é que não dá pra imaginar o que esses filmes seriam mesmo se tivessem tido muito dinheiro na produção. O que interessa aqui neste levantamento é a "forma do filme" que perdeu o rumo. Perdeu definição. São "alternativos" ou só desleixados mesmo? Que conclusão tiramos deles?
Será que foi contestação ao modelo vigente, foi pra testar os limites do espectador, falta de roteiro melhor... seja como for, tem filme que é uma dúvida pra sempre. Veja por exemplo o apreciado Thriller, a Cruel Picture (1973) um rape-revenge nível B (ou C) com inserts explícitos de sexo, ou mais recentemente o francês Baise Moi (2000) uma espécie de Thelma e Louise hardcore feito por equipe de filmes pornô. Observando os resultados, onde termina o cinema e começa a picaretagem? Ou versa-vice. Pode até parecer um questionamento meio besta, mas a questão é que não dá pra imaginar o que esses filmes seriam mesmo se tivessem tido muito dinheiro na produção. O que interessa aqui neste levantamento é a "forma do filme" que perdeu o rumo. Perdeu definição. São "alternativos" ou só desleixados mesmo? Que conclusão tiramos deles?
Fazendo uma retrospectiva consegui separar vinte "obras" que me deixaram naquela dúvida: "por que fizeram isso?!", "precisava?!", "por que ficou desse jeito?!", "quem pagava para ver isso nos cinemas?!". Sabe aqueles casos em que você tem que dar pause no filme para poder rir. Eu passei por isso em The Beast in Heat quando os soldados fuzilam os habitantes do vilarejo. Podiam ter avisado o diretor que não ia ficar legal jogar criança pra cima e atirar!!! Agora já foi....
1965 Color Me Blood Red - Tudo bem que o Herschell Gordon Lewis é intocável na história do terror. Mas Color Me passou da conta com a câmera fixa no mesmo plano quase o filme todo. Repete ângulos e cenários, tem cenas vazias e tempos estendido. E o cadáver na areia, é um manequim! Um pintor usa seu próprio sangue em suas telas, mas quando precisa de mais e mais sangue, começa a coletar entre os que estiverem rodeando sua casa. Na versão BluRay o vermelho está bem mais evidente do que nas antigas cópias em vídeo.
1973 A Virgin Among the Living Dead - Nota de produção: "Galera, o casarão da tia tá vazio no fim de semana! Bora fazer um filme?" Deve ter sido por aí, porque aqui temos um dos mais enigmáticos filmes-happening do período. Na linha de Jean Rollin e outros "filmes ambiente" nos quais o clima, a atmosfera, a ambientação eram a razão da produção e não o roteiro, interpretações ou significados. Sendo assim, Jess Franco constrói seu filme com um mínimo de história e o máximo de improviso. O ambiente é o personagem. O filme foi feito por causa dele. A jovem Cristina visita parentes que vivem isolados em um casarão no bosque. Quando seu falecido pai aparece, Cristina começa a perceber onde realmente está. O problema é que a lentidão e a ausência de conflito funcionam contra o filme. Franco se arriscou muito aqui e o filme oscila naquela estreita linha entre a vanguarda e a picaretagem.
1973 A Virgin Among the Living Dead - Nota de produção: "Galera, o casarão da tia tá vazio no fim de semana! Bora fazer um filme?" Deve ter sido por aí, porque aqui temos um dos mais enigmáticos filmes-happening do período. Na linha de Jean Rollin e outros "filmes ambiente" nos quais o clima, a atmosfera, a ambientação eram a razão da produção e não o roteiro, interpretações ou significados. Sendo assim, Jess Franco constrói seu filme com um mínimo de história e o máximo de improviso. O ambiente é o personagem. O filme foi feito por causa dele. A jovem Cristina visita parentes que vivem isolados em um casarão no bosque. Quando seu falecido pai aparece, Cristina começa a perceber onde realmente está. O problema é que a lentidão e a ausência de conflito funcionam contra o filme. Franco se arriscou muito aqui e o filme oscila naquela estreita linha entre a vanguarda e a picaretagem.
1976 Bloodsucking Freaks - Pertence à fase inicial da produtora Troma. E pode não fazer muito sentido questionar os filmes da produtora que mais se orientou pelo grotesco assumido, mas Bloodsucking Freaks (aka Incredible Torture Show) extrapola na bizarrice sem noção e na piada grotesca, especialmente considerando a época em que foi feito, especialmente considerando o eterno moralismo ianque. Sardu, o Mestre do Teatro Macabro e seu auxiliar anão dirigem espetáculos teatrais de tortura e mutilação reais para seu seleto público. O publico acha que são encenações, mas as garotas estão realmente sendo mortas e mutiladas nas sangrentas apresentações. Mas a vida não é só trabalhar e nas horas vagas a dupla se diverte jogando dardos no traseiro de vítimas, ou apostando os dedos decepados das garotas em partidas de gamão! Entre outras maluquices sem noção, um doutor extrai os dentes de uma vitima para fazer sexo oral (34 anos antes do Serbian Film!). Tem um grande "momento John Waters": a bailarina faz strip e chuta a cara de um critico esnobe! Assume a comédia em diversos momentos, mas faz rir sem querer em outros. Alcançou status cult entre os mais ousados do trash e hoje tem até cópia BluRay!
1977 Mighty Peking Man - Produção dos lendários Shaw Brothers. Este é o King Kong chinês! Expedição se embrenha nas florestas da Índia em busca do primata gigante Mighty Peking Man. Também encontram uma bela loira que vive como Tarzan (melhor dizer Sheena) e é amiga dos animais e do gigante. A bela não se adapta às roupas que lhe dão e fica o filme todo descalça e com seu biquíni de couro pelas ruas de Hong Kong! Mistura elementos de aventura na selva em um mix indescritível de efeitos fotográficos grosseiros. A versão em inglês ainda acrescenta baladinhas soul na trilha, para os interlúdios românticos, e a coisa fica ainda mais bizarra! Efeitos de terremotos e destruição são feitos com maquetes minusculas! Assim como o ataque de helicópteros e veículos em escala HotWheels. Encantador enquanto "filme de brinquedo". É o filme mais inadequado à esta lista pois sua intenção é clara: aventura de selva com monstro gigante. Mas é tão bizarro que eu não resisti...
1977 The Beast in Heat (La Bestia in Calore) - Uma cientista nazista tem a grande ideia de criar um exército de soldados meio fera, meio homem. Para isso ela manda trazer jovens do vilarejo próximo e põe a mulherada para procriar com um troglodita-tarado em sua jaula. Enquanto isso, habitantes locais organizam ataques guerrilheiros. "Fera no cio" é mesmo o diretor que misturou Saló e pornochanchada nesta peça inclassificável que fica entre o naziexploitation e o pornô. E obedece a tradição trash ao inserir cenas de outros filmes para explosões e cenas ação. Não perca, nem que seja só pela citada cena do fuzilamento no vilarejo. Por essas e outras, ninguém ganha dos anos 70! No YouTube circula uma versão cortada, cuidado.
1977 Tintorera - Esse veio na leva de incontáveis cópias de Tubarão. Trashão mexicano dirigido por Rene Cardona Jr. Susan George participa (por que fez isso, Susan?). O nome dela aparece maior que o título do filme! Dois pescadores desconfiam que os desaparecimentos na região turística onde trabalham podem ser por causa de ataques de tubarão. Enquanto desconfiam, namoram as turistas que circulam. Susan George só aparece depois de 40 minutos! Paquera os pescadores gatões, se assusta com o tubarão e abandona o filme!!! As cenas submarinas são de documentários sobre tubarões. Sacanagem, hein Cardona Jr!
1978 Manitou - Grande exemplo de filme que deu errado. É daquelas produções dos anos 70 que tentou seguir o filão demoníaco de O Exorcista. Para dar credibilidade, pegou um elenco bacana com Tony Curtis, Susan Strasberg, Ann Sothern, Stella Stevens, Burgess Meredith, tem produção decente, música de Lalo Schifrin, foto legal, tudo certinho, mas se perde em situações malucas e pouco justificadas. E o que seria exótico vira fiasco! Tony Curtis é um médium charlatão que precisa ajudar sua namorada possuída por um espírito maligno. O espírito cresce em uma bolha-tumor no pescoço da coitada! O calombo vai para as costas da infeliz e numa noite de tempestade, brota das costas da moça um braço, e depois o Manitou inteiro, em uma das sequências mais bizarras do cinema fantástico! Por fim o espírito indígena maligno quer se vingar de alguma coisa. Aí tem trovão, explosão, vidro estourando e o hospital que atendia a moça é tomado por frio e gelo. Termina em um duelo cósmico de forças opostas. Cacildis! O diretor William Girdler foi bastante dedicado ao terror B nos anos 70. Faleceu em um acidente de helicóptero logo depois do término deste filme. Uia!
1981 Strange Behavior - Ficção e terror na linha de Cronenberg, ou assim deveria ter sido. Também lançado como Dead Kids e Small Town Massacre, e o filme quando tem mais de um título é sinal de algo deu errado e houveram outras tentativas de lançamento. Em uma cidadezinha americana, um laboratório faz experiências com jovens voluntários que terminam inconscientemente obedecendo a comandos assassinos. Michael Murphy investiga as ações suspeitas da bela doutora Fiona Lewis enquanto assassinatos ocorrem na cidade. Filme lento e pretensioso, que tenta sofisticação de linguagem mas acaba indeciso entre o slasher e a ficção. Tentou ser sério e se deu mal. Desajeitado em muitas partes, como a gorducha assassina no banheiro, o estado de transe do protagonista e o confronto final "filho x pai". A pobre Louise Fletcher está no elenco, confirmando que seu Oscar por Um Estranho no Ninho não fez muito por sua carreira. Nem a música do Tangerine Dream se salva.
1987 Surf Nazis Must Die - Troma de novo. Depois de Toxic Avenger, este é o filme mais famoso da produtora. Grande trash, mas que perde sua voz própria ao tentar emular a aparência das aventuras padrão (Warriors como referência maior). Diversas gangues marginais estão em conflito em um povoado litorâneo. Os Surf Nazis são os mais perigosos e quando matam um jovem negro, sua devotada mãe decide se armar e caçar os criminosos. Entre os grandes momentos: o desajeitado treino da gangue oriental contra a luz do sol, a granada rolando pelo chão, as lutas, elenco medonho, o discurso e frases de efeito da mãe vingadora se divertindo muito em pegar a estrada e balear os malfeitores. Para estender o tempo, várias, diversas, muitas cenas de surf. E como desarranjo maior, a boa trilha sonora techno-pop é usada insistentemente (já que pelo menos isso ficou bom) e entope o filme do começo ao fim.
1991 Story of Ricky - Até agora não sei se esse cult foi feito como comédia ou como extreme de violência. Ou os dois! Co-produção China-Japão baseada em HQ. Jovem lutador com poderes extras é encarcerado e se revolta com os maus tratos aos detentos. Começa a ajudá-los e enfurece os diretores da prisão. Escroto, hilário e sangrento como jamais se viu e repleto de absurdos: para evitar sangramento, Ricky dá um nó na própria veia durante uma luta, o oponente tenta estrangulá-lo com os intestinos, carcereiros sádicos se divertem mutilando os detentos, o diretor da prisão se transforma em um grotesco gigante e Rick encerra o confronto jogando o vilão num moedor de carne. E o final! Era só quebrar a parede e fugir!?! Pensando bem, só pode ser comédia!
2000 Baise Moi - Duas jovens à beira da marginalidade, maltratadas, brutalizadas e humilhadas em seu meio social acabam por se conhecer. Na amizade que nasce, nasce também a cumplicidade e a dupla se lança em uma trajetória "agora-ninguém-me-segura" na qual se entregam à prazeres livres, bebedeiras, sexo e matam qualquer um que interferir. Thelma & Louise em nível berserk! Feito por equipe de filmes pornô e assim assumindo o realismo das cenas de sexo (explícitas), só que aí temos também o amadorismo do elenco que nunca convence. Então o "real" fica risível e o que haveria de discurso empoderado sobre a condição feminina em um meio machista vira comédia de erros. É alternativo, é ousadíssimo, mas é ruim.
2006 Slaughtered Vomit Dolls - Concebido para chocar como sendo o cúmulo do indigesto e compondo uma trilogia dirigida por alguém chamado Lucifer Valentine! Sequência caótica de cenas que são supostamente as filmagens feitas por um assassino. Um diretor de cinema assassino? Bem, Slaughtered Vomit Dolls não é exatamente um filme. Garotas de programa são aprisionadas e torturadas. Então tem mutilações, aí as garotas vomitam, depois tem mais mutilação. Uma garota tem seu braço serrado e é posta pra tocar violão! Aí as garotas vomitam. Depois é o assassino que vomita sobre aquele braço cortado. Depois ele vomita num caneco e bebe de volta. Aí ele come o cérebro de uma vítima. E depois o filme acaba. Conseguiu chocar, mas e daí? Ficou pior que Jackass! E eu fiquei 70 minutos vendo isso. Inaugurou o gênero "que porra é essa?!"
2008 Machine Girl - Desenho animado com gente?! A jovem Ami leva uma vida de estudante dedicada até que seu irmão menor é morto por uma gangue. Na busca por vingança, Ami é presa pela gangue e torturada! E seu braço amputado é substituído por uma metralhadora giratória!!! Ação, comédia, muito muito sangue e a tentativa de criar uma heroína do terror com Ami vestindo uniforme escolar, empunhando a metralhadora mais leve do mundo e fazendo poses! Efeitos digitais e linguagem de mangás aproximam o filme de uma animação com um gosto doentio por mutilação carnal. Dinâmico e inventivo, mas é tudo tão inconsequente que o filme perde a consistência. Só vale se for visto como um desenho animado violento.
2009 Human Centipede - Então, esse não poderia ficar de fora. Por muito tempo pensei que esse filme não existisse, que fosse só uma piada de internet, um desses trailers falsos. Mas existe, e teve duas sequências!!! Um cirurgião louco, mas louco mesmo, rapta pessoas na estrada e as submete a um experimento biológico ligando-as em uma sequência como uma centopeia. A centopeia humana! Por que ele faz isso é um mistério, assim como a intenção do diretor do filme... Idiota, escroto, cômico, se você acha que perde seu tempo vendo isso, imagina a galera que participou com a cara enfiada na bunda alheia por dias de filmagem! O 2 é ainda pior e o 3 é pior e tem o Eric Roberts! Por que eu fui inventar de fazer esta porra desta lista?
2011 Theatre Bizarre - Jovem entra em um teatro decrépito e os bonecos no palco contam histórias para ela. Terror em episódios. Nem vou falar nada desse negócio, porque já tem uma postagem feita.
2011 Bad Meat - Grupo de jovens é mandado para um reformatório barra pesada cujos carcereiros pervertidos fazem da estadia um inferno. Para piorar, o pessoal é envenenado e se tornam raivosos canibais que atacam os jovens detentos. O diretor Rob Schmidt (Pânico na Floresta) entrou no projeto para dirigir, depois largou, a companhia produtora fechou e o filme acabou lançado do jeito que deu, creditado a um tal Lulu Jarmen, que pode ser um pseudônimo de um diretor (diretora) que nem existe! Então, Bad Meat é um filho sem pai. Começa até que bem, mas perde o rumo em uma maratona de vômitos e sangue, ações sem consequência, sem sentido e sem graça (supondo que teve intenções satíricas). Não deixa de ser curioso ver quando as engrenagens da indústria falham, mas aqui precisa muita vontade pra ficar até o fim.
É isso, as definições de ruim foram atualizadas! Pra encerrar, Black Phillip quer deixar claro que não é contra filmes bagaceira. Em uma cultura que privilegia o julgamento crítico baseado em valores pré-determinados e impostos pela produção dominante, o cinema alternativo, trash, e contestador é sempre bem vindo como variedade no cardápio e até como reflexo dessa dominação. Mas vendo inversamente, isso não quer dizer que todo e qualquer alternativo é imediatamente aceitável e aplaudível. Tem muita pilantragem infiltrada tanto nos "oficiais" quanto nos "contestadores". Tem muito "ensaio" tentando se passar por "filme".
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