1 de junho de 2021

Terence Fisher - altos e baixos no cinema fantástico.

Terence Fisher


O nome mais importante e identificador das produções da Hammer e não foi sem motivo: Fisher foi o responsável pelos maiores êxitos comerciais da produtora Hammer nos anos 50 e 60. Apenas o destaque a Dracula, Curse of Frankenstein e Curse of the Werewolf já seriam suficientes para colocá-lo na história do cinema fantástico, mas Fisher ainda faria muito mais.

Terence Fisher
• Nascido em Londres em 1904, Terence Fisher trabalhou na marinha mercante na juventude até tentar a sorte em estúdios de cinema. Iniciou em serviços gerais até trabalhar como montador nos Estúdios Rank. No início dos anos 50 ingressou na Hammer (produtora que atuava no mercado B desde meados dos anos 30) em uma série de dramas e filmes policiais de produção modesta. Até que em 1956 foi convidado a participar da refilmagem de Frankenstein, que viria a se tornar um marco divisor entre o cinema golden age e o moderno, por sua crueza, explicitação e sordidez. The Curse of Frankenstein  (1957) serviu de novo impulso aos Estúdios Hammer, orientando sua produção posterior. O sucesso de Horror of Dracula em 1958 definiria a linha de produção gótica e a especialização do diretor.

Enquanto o cinema e terror e suspense se renovava em conteúdos modernistas em Mórbida Curiosidade (1960), Experimento em Terror (1962) ou Psicose (1960), Fisher era responsável pela revalorização da estética gótico-vitoriana em uma série invejável de sucessos. Seu trabalho em A Múmia (1959), O Cão dos Baskervilles (1959) e Brides of Dracula (1960), por exemplo, solidificaram a produtora Hammer como a principal renovadora estética das histórias clássicos do horror no cinema. " O foco é a suspensão da descrença. Acho que meus filmes são verossímeis porque tenho senso visual para a composição dos quadros" (IMDB quotes).

Mas, como seria natural em uma produção tão grande, nem tudo é imperdível na carreira do famoso diretor, e filmes como a comédia The Horror of it All (estrelada por Pat Boone!) ou o fraquinho Island of Terror, podem só interessar a completistas e revisões (como esta....). Curiosamente o diretor tem altos e baixos no mesmo ano, como se tivesse se dedicado mais ou menos, conforme o porte da produção. 

Depois do fraquinho Frankenstein and the Monster From Hell (1974), que ele dirigiu por insistência de Peter Cushing, o diretor afastou-se por questões pessoais (saúde, alcoolismo). Terence Fisher faleceu em 1980, aos 76 anos de idade deixando uma obra que tanto foi notada pela atualização estética dos filmes de horror como também por momentos incrivelmente atmosféricos em filmes menos explícitos como The Gorgon ou The Man Who Could Cheat Death. Abaixo uma lista de destaques na carreira do diretor. 

Veja aqui um clipe aperitivo.

Directed by Terence Fisher

1952 Stolen Face • Paul Henreid (de Casablanca) é um médico dedicado que decide ajudar Lily, uma jovem marginal com deformação facial e recuperar suas feições. Mas depois de uma desilusão amorosa com uma bela pianista, o doutor refaz o rosto de Lily como uma réplica da pianista e se casa com ela! Mas a vida marginal da garota irá lhe trazer problemas. Produção Hammer entre o romance e o drama. 😈😈 

1953 Four Sided Triangle • Robin e Bill, amigos desde a infância, desenvolvem um engenho revolucionário capaz de duplicar a matéria. Quando Lena, paixão de infância dos dois amigos, se casa com Robin, Bill decide fazer uma duplicata da jovem! Drama e fantasia em produção da Hammer já prenunciando os cuidados cênicos-atmosféricos e a intenção ao fantástico. Também antecipou uma tradição da produtora que é um incêndio-punição final, na destruição do laboratório dos protagonistas. 😈😈

1954 Murder By Proxy • Mistério e romance neste pequeno suspense. Casey é um americano desempregado em Londres que se envolve em um caso de assassinato. Tornando-se um suspeito caçado pela polícia, precisa desvendar o crime. Meio noir, meio romance em um conjunto intrigante que mantém um bom ritmo narrativo centrado no naturalismo do protagonista, um clássico personagem hitchcockiano: o homem comum lançado em uma trama de mistério e crime. Produção de Michael Carreras e tem ainda Jimmy Sangster como assistente de direção, mas não é Hammer. 😈😈😈

1957 The Curse of Frankenstein • Adaptação livre do romance original e um divisor de águas na história da produtora Hammer e do cinema de horror, além de um inigualável salto em qualidade técnica e artística para o cinema B. Peter Cushing como o Barão Frankenstein e Christopher Lee, ainda em uma carreira de coadjuvante, como a criatura. 😈😈😈😈😈

1958 Horror of Dracula (O Vampiro da Noite) • Versão do famoso romance de Bram Stoker com Christopher Lee compondo simplesmente o melhor Drácula do cinema. Junto a The Curse of Frankenstein, foi um sucesso que solidificou o nome da produtora Hammer, assim como definiu sua linha estética de produção. Tudo contribuindo para a perfeita atmosfera, inclusive a trilha de James Bernard com um tema principal que se tornaria emblemático no gênero. 😈😈😈😈😈

1958 The Revenge of Frankenstein • Peter Cushing volta como o doutor Frankenstein depois de tapear as autoridades que o condenaram à guilhotina. Com o auxilio de um estudante, ele recria sua experiência enquanto atua sob falsa identidade. Ainda mantem seu impacto na atmosfera grotesca dos cérebros em recipientes e aquários de experimento. 😈😈😈😈

1959 The Hound of Baskervilles • Peter Cushing como Sherlock Holmes, investigando uma morte que remete à lenda da família Baskerville e um monstruoso cão que assombrava suas terras. Carregado da atmosfera que caracterizou o melhor das produções Hammer. Dosando horror, mistério e humor, é um dos clássicos de sua era, contando ainda com uma dinâmica atuação de Cushing. 😈😈😈

1959 The Man Who Could Cheat Death • Anton Diffring é o doutor Georges Bonnet, um médico que também se dedica às artes e vence o envelhecimento ingerindo regularmente um soro que rejuvenesce seu organismo. Bonnet precisa que um velho amigo de profissão faça uma cirurgia definitiva, mas precisará de meios desonestos para convencer outro médico (Christopher Lee) a executar o serviço. Horror com toques filosóficos e um excepcional uso de luz para a ambiência fantasmagórica. Entre os grandes da Hammer. 😈😈😈😈

Terence Fisher


1960 The Two Faces of Dr Jeckyll • Adaptação do famoso romance de Robert Louis Stevenson. O dedicado doutor Jekyll, em estudos sobre a natureza instintiva do homem, oculta sob comportamento racionalizado, desenvolve um soro de desinibição. A curiosidade é que, quando testa o experimento em si mesmo, o vetusto doutor torna-se um jovem bonitão adepto de noitadas e conquistas amorosas. A produtora Hammer e o diretor em plena forma neste drama fantástico de tinturas caricatas. Divertido também para ver Christopher Lee em um personagem festeiro e beberrão (!) e Oliver Reed arrumando briga em uma cena rápida. 😈😈😈

1961 The Curse of Werewolf (A Maldição do Lobisomem) • Possivelmente o melhor filme de lobisomem do cinema. Leon é um jovem bastardo, criado por pais adotivos que se converte em lobisomem nas noites de lua cheia. Ambientando na Espanha do século XVIII, o filme tem tudo o que se espera de uma produção Hammer de primeira linha: dinâmica narrativa, produção rica visualmente e ainda a  presença de Oliver Reed, em seu primeiro papel de destaque, dando um show muito adequado em suas caretas e atuação física. 😈😈😈😈

1962 The Phantom of the Opera • Refinada versão do famoso romance de Gaston Leroux sobre o compositor deformado que interfere nas encenações de uma ópera. Curiosamente não tem a dinâmica violenta do clássico de Lon Chaney, mas tem Herbert Lom como o fantasma-vítima e Michael Gough como vilão kitsch. Um filme de dinâmica sutil e sensações. Possivelmente o trabalho mais elegante do diretor. 😈😈😈

1964 The Gorgon • No vilarejo de Vandorf os moradores enfrentam mortes misteriosas cujas vítimas são transformadas em pedra! É possível que uma das três górgonas mitológicas esta habitando há anos a região. A Hammer e o diretor em plena forma com sua excelência visual e fantasia incondicional. Pouco citado e um dos melhores do período. Tem mais romance e mistério do que terror, mas é um filme repleto de sensações e com a curiosidade da inversão de casting com Peter Cushing de vilão e Christopher Lee de herói!  😈😈😈

1964 The Earth Dies Screaming • Curioso média-metragem de 60 minutos sobre invasão alien. Um gás liberado nos arredores de Londres e cidadezinhas próximas dizima a população. Algumas pessoas que ocasionalmente estiveram protegidas se reúnem para enfrentar a invasão efetivada por robôs humanoides. Modestíssimo filme B no limite entre o trash, o pulp e o cinema de matinê. 😈😈

1966 Dracula, Prince of Darkness • Christopher Lee volta ao papel do Conde vampiro consagrando-se como o melhor Drácula do cinema em um dos clássicos da Hammer, dos góticos e dos filmes de terror em geral. Curiosamente, o personagem dispensa diálogos tal é a concentração maligno-animalesca de sua presença. 😈😈😈😈

1966 Island of Terror • Peter Cushing e Edward Judd são cientistas que investigam a infestação de criaturas em uma ilha e a ameaça à população local. Os monstrinhos são consequência de experimentos celulares e se multiplicam por divisão, atacando os humanos. Talvez Fisher tenha esgotado as baterias em Prince of Darkness e aqui faltou fôlego de direção. O resultado é burocrático e comportado. Mas vale pela simpatia da dupla central de atores. 😈😈

1967 Frankenstein Created Woman • Filme de Frankenstein sem monstro?! Exato, mas seja como for, Peter Cushing volta a viver o Barão Frankenstein com a classe de sempre nesta curiosa variação onde as experiências do doutor conseguem provocar a retenção espiritual em um corpo morto recentemente. Assim uma jovem suicida é revivida e recebe a alma de seu namorado executado injustamente. "Ambos" partem então em uma cruzada vingativa. Atualização em fotografia e maquinário de laboratório em um filme mediano, mas com o requinte visual habitual da Hammer. Já foi dito que Peter Cushing era um ator com a habilidade de dar verossimilhança aos diálogos mais disparatados. Pois aqui temos uma grande prova desse talento. 😈😈

1967 Night of the Big Heat • Christopher Lee é um cientista que investiga as causas do excessivo calor em uma região isolada. Hospedado em uma estalagem, ele evita o contato com os demais moradores e suspeita que pode estra havendo uma invasão alienígena por seres que precisam de energia e podem estar testando a Terra como moradia. Suspense e ficção medianos em alternativa moderna às produções góticas. Não é Hammer. 😈😈

1968 The Devil Rides Out • Christopher Lee busca resgatar um amigo raptado por culto demoníaco. Veja o post.

1969 Frankenstein Must Be Destroyed • Peter Cushing mais uma vez como o Barão Frankenstein, desta vez assumindo de vez o mau-caratismo e vilania do personagem, que chantageia um jovem doutor e sua noiva para auxiliá-lo em suas experiências de reanimação cerebral de um doutor catatônico. Repete o bom nível habitual em produção e dinamiza visualmente a ação e ousadias, incluindo uma cena de assalto sexual do Barão à jovem assistente (cena rejeitada pelo ator, mas incluída por exigência da produção). 😈😈😈

1974 Frankenstein and the Monster From Hell • A produtora Hammer entrando em visível esgotamento. Peter Cushing agora é diretor de um manicômio e o jovem doutor Simon (Shane Bryant) se associa a ele na reativação de um cérebro transplantado para um corpo alheio. Variante sem muita imaginação da situação clássica, mas as baterias já estavam acabando na disposição geral. E para piorar, o monstro é uma grotesca massa peluda - uma ridícula roupa de borracha e máscara imóvel. Último Frankenstein de Cushing. Último filme Hammer de Terence Fisher. Três anos depois, Cushing e David Prowse (o monstro) estiveram no primeiro Guerra nas Estrelas. 😈😈

Frankenstein Must Be Destroyed

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