12 de fevereiro de 2019

O Vampiro de Karnstein e Outras Histórias

"Pela visão interior pude ver coisas que estão na outra vida mais claramente do que as que vejo neste mundo. Fica patente assim que a visão externa só existe por causa da interior, e esta graças a uma mais interior ainda, e assim por diante... " (Chá Verde)

O Vampiro de Karnstein é uma coletânea de quatro histórias de Joseph Sheridan Le Fanu (1814 - 1873), escritor essencial ao fantástico pela forma e conteúdos de suas histórias. A construção lenta e dosagem de elementos corriqueiros que vão gradualmente cedendo espaço ao fantástico tornou-se quase um modelo padrão em narrativas fantásticas. O Vampiro de Karnstein/Carmilla é seu conto mais famoso e diversas vezes foi utilizado como base para roteiros de filmes. Carmilla funde genialmente aspectos atmosféricos, emocionais e fantásticos. É possivelmente seu conto mais bem arquitetado com a estrutura que oscila jogando informações no consciente e inconsciente dos personagens: "Nessa ocasião tive um sonho que me levou a uma estranha descoberta. Uma voz diferente, doce, terna e ao mesmo tempo terrível, me advertia: 'Sua mãe recomenda muito cuidado com a assassina'. Houve um clarão repentino e à sua luz distingui Carmilla, de camisola banhada de sangue, de pé junto à minha cama".

A relação com o cinema é bastante evidente nas outras histórias. A novela O Quarto no Dragão Voador (130 páginas), por exemplo, tem uma estrutura muito próxima dos filmes góticos. É possível até visualizar algum filme da Hammer na leitura, com a carruagem que sofre acidente na abertura, o protagonista travando contato com uma bela e misteriosa condessa e as ações que levam à estalagem do Dragão Voador, local que tem passagens secretas e histórico de inexplicáveis desaparecimentos em uma narrativa montada como um mistério investigativo, mas sem a inserção do sobrenatural.
Em O Demônio Familiar, o sr. Barton é insistentemente perseguido por uma figura espectral até ser levado à insanidade e auto-enclausuramento. Seu tormento o leva às raias da blasfêmia: "...de uma coisa estou profundamente convencido. Existe além deste, um mundo espiritual... um sistema que pode ser, e que é, às vezes, parcial e terrivelmente revelado. Estou certo, tenho provas – continuou Barton com crescente agitação – de que há um Deus... um Deus pavoroso, que se desforra dos culpados de maneira mais misteriosa e monstruosa... com intervenções inexplicáveis e terríveis"

Como em O Demônio Familiar, o conto Chá Verde também trata de uma perseguição que leva a vitima à loucura. O conto é considerado um dos mais perfeitos do escritor por sua estrutura narrativa em crescente dramaticidade e pelo horror que brota de um momento corriqueiro no dia-a-dia do protagonista, neste caso uma aparição em uma viagem de ônibus.
"Sim. Falar com palavras, formado frases, perfeitamente coerentes e articuladas. Mas há uma diferença: o tom da voz não é humano. Não é pelos ouvidos que essa voz me atinge... Ela penetra em meu crânio como um zumbido. [...] Ela não me deixa rezar, interrompe-me com monstruosas blasfêmias. Não ouso continuar, não posso!"

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Leitura radical
Clássico demais, sutil demais, porém, essencial ao gênero.

Leitura passional
Ambiências góticas exemplares.
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O Vampiro de Karnstein (76 páginas)
O Quarto do Dragão Voador (130 páginas)
O Demônio Familiar (46 páginas)
Chá Verde (40 páginas)
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O Vampiro de Karnstein e Outras Histórias

Carmilla, The Room in the Dragon Volant, The Familiar, Green Tea
J. Sheridan Le Fanu, 1872
Circulo do Livro - São Paulo - 1978
300 páginas

O Vampiro de Karnstein e Outras Histórias

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