13 de julho de 2019

A Praga Escarlate - esquentando o apocalipse

Foi o início do horror. Deixamos os mortos onde estavam, obrigamos os que ainda se encontravam vivos a ficarem isolados em outra sala. [...] Mas, ainda assim, a epidemia se espalhava e as muitas salas se enchiam cada vez mais de pessoas falecidas ou em via de morrer. Nós que ainda estávamos saudáveis, recuávamos de andar em andar, tentando escapar do oceano de mortos que inundava todo o prédio.
• Pioneiro revisionista e crítico do "sonho americano" – bem antes da geração beat – Jack London foi popularizado por suas eco-aventuras como Caninos Brancos e Chamado da Selva. Mas sua obra tem trabalhos originalíssimos e menos citados como De Vagões e Vagabundos, O Caminhante das Estrelas e este A Praga Escarlate. Bastante adiante de seu tempo, London faz aqui uma breve narrativa da destruição da civilização decorrente de uma contaminação relâmpago que dizima a humanidade em 2013! Centrando a aventura (melhor dizer situação) no relato de um velho professor a seus netos, que já regrediram à selvageria, a novela é ligeira (como a praga) mas profunda nas insinuações e no processo de degradação cultural.

– Quando eu era pequeno, Edwin, homens, mulheres e crianças vinham para cá, nos dias bonitos. E não tinha nenhum urso. Não senhor. A gente precisava dar dinheiro para ver esses animais enjaulados, porque eram raros.
– O que é dinheiro, vô?

Na estrutura de um conto estendido, Praga Escarlate mantem sua narrativa a uma "distância segura" da situação sem torná-la um épico aventureiro, mas dando a devida dimensão pela implicações trágicas do drama. Especialmente ao supor a fragilidade das estruturas sociais e a fácil regressão à barbarie. As ações do homem quando destituído de regras civilizatórias, acabam sendo tão devastadoras quanto a enfermidade em si. Fato que contribui definitivamente à regressão cultural e perda de todas as bases civilizadas que vigoraram até a tragédia. Evitando encadeamento de ações, London restringe o texto ao lamento do professor tentando explicar aos netos o processo de destruição (pela praga e pelo homem) e o imenso legado cultural perdido na catástrofe. Situado antes da era atômica, Praga Escarlate é rápido e contundente, com situações que serviriam de base às ficções apocalípticas posteriores, na literatura  e no cinema.

Havia inúmeros incêndios em Berkeley, enquanto Oakland e São Francisco eram aparentemente devastadas por enormes conflagrações. A fumaça também tomava conta do céu, de modo que o meio-dia parecia um crepúsculo sombrio e, nas mudanças de vento, às vezes o sol reluzia, turvo, estrela de um vermelho sem brilho.

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Leitura Radical
Premissa incrível, poderia ter sido mais desenvolvido.
Leitura Passional
Pioneiro do apocalipse!
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A Praga Escarlate

The Scarlet Plague - Jack London, 1912
Editora Conrad, São Paulo, SP, 2003
103 páginas

a praga escarlate

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