14 de setembro de 2021

Um Rio Muito Frio - nem fantasma nem terror.

Um Rio Muito Frio



Ainda estava sentado na cadeira quando o violino o chamou. Um sussurro delicado no início, mas Eric levantou a cabeça como um cão ouvindo um assobio. Era lindo! Uma elegia, conforme o rapaz a havia chamado. Uma canção para os mortos.

• De narrativa direta e texto fácil, Um Rio Muito Frio é daqueles livros que se lê em um único impulso. Difícil interromper a leitura por sua construção cativante, que cria um envolvimento divertido partindo de uma investigação quase detetivesca para ir se entregando gradualmente ao sobrenatural e conduz a um bom final de suspense e ação. Infelizmente, o autor tenta escapar das obviedades e a narrativa concentra seu mistério no enigma da água que brota na cidadezinha interiorana de West Baden e muito pouco no sobrenatural.

– Mas a senhora acredita que há fantasmas por aqui, ou não?
– Há algo neste lugar que possui certa magia – disse ela – Se quiser pode chamar de sobrenatural, mas sempre o chamei de magia. E há alguma coisa intrínseca neste lugar, na terra, na água, no vento, que emana poder. 

O livro conta a aventura de Eric Shaw, um ex-diretor de cinema cuja carreira declinou devido à conflitos com produtores e que agora se dedica ao mercado de vídeos, especialmente vídeos de homenagem póstuma. Eric é contratado para um trabalho sobre Campbell Bradford, um rico empreendedor à beira da morte e pesquisa sua juventude em West Baden, famosa pelo movimento turístico, hotéis luxuosos e por suas fontes de água mineral. Porém Campbell foi um inescrupuloso que enriqueceu com bebida ilegal e explorações locais, especialmente com a chamada Água Plutão, extraída de fontes naturais e vendida como "cura para todos os males". Eric, inadvertidamente, experimenta a água e começa a ter visões do passado da vida criminosa de Campbell. Mais ainda, é possível que as identidades que ele investiga estejam trocadas, e que o velho espírito do criminoso esteja tomando forma e possuindo o arruaceiro Josiah Bradford, seu único descendente ainda vivo. E a possessão tem paralelos com as mudanças climáticas que anunciam um tufão no progressivo suspense do final.

Ela viveu o suficiente para ver aquilo. Era algo especial, e lhe renovou a fé na tempestade. Ela surgiria, algum dia, uma nuvem negra e poderosa [...] Foi para casa e fez algumas leituras, tentando prever os movimentos seguintes. Tudo o que sabia agora é que havia algo no ar. Algo que estava a caminho.

Ela não podia dizer o que tinha certeza ser verdade: a tempestade e Josiah tinham uma ligação forte, o mal chegara naquele dia à cidade e não iria embora de lá tão cedo.

Com sua narrativa simples e muito rápida, o autor só peca pelo excesso de detalhes desnecessários e redundâncias, como os dados sobre Kellen Cage, o amigo que ajuda Eric nas investigações, ou os detalhes sobre o relacionamento do protagonista com a esposa, em processo de separação. Um Rio Muito Frio só vale a pena mesmo como um discreto romance de suspense com um ingrediente sobrenatural, e fica como uma prova dos perigos das imposições de mercado: é uma história simples e interessante, mas que não precisava de quatrocentas páginas para sua exposição. Para atingir o formato romance, abriu-se à enrolações desnecessárias.


Leitura Radical
Demora para acontecer
Leitura Passional
Um suspense discreto
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Um Rio Muito Frio
So Cold the River, Michael Koryta, 2010
Editora Record, Rio de Janeiro, RJ, 2012
442 páginas

Um Rio Muito Frio

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