16 de dezembro de 2021

Meia-Noite - terror e ficção pop em texto enxuto!

Meia Noite - Dean Koontz



No porão da Colônia Ícaros, três corpos haviam se transformado em um só. A entidade resultante não possuía forma rígida, não tinha ossos, nem feições próprias. Era uma massa de tecido pulsante que vivia apesar da ausência de cérebro, coração, vasos sanguíneo, sem órgãos de qualquer espécie.

Meia-Noite é um romance que mistura horror e ficção na investigação de mortes e mutações ocorridas na cidadezinha litorânea de Moonlight Cove. Cruzando a narrativa de quatro personagens principais, o romance alterna situações na revelação do grande mistério sobre uma experiência científica de alteração biológica que tem Moonlight Cove como terreno de experiência. O detetive Sam Booker conduz a investigação atuando extraoficialmente. Buscando a verdade sobre desaparecimentos misteriosos, acaba descobrindo uma rede de autoridades e cientistas envolvida no chamado Projeto Falcão da Lua, chefiada pelo cientista Thomas Shaddak. Um projeto que visa o aprimoramento humano em níveis mentais e biológicos na constituição da Nova Gente. [... se alçar da mera condição humana para algo mais elevado, mais limpo, mais puro...] Mas a experiência tem consequências monstruosas em alguns dos habitantes. Quando percebem que tem poder mental sobre seus corpos, alguns dos habitantes, submetidos ao soro desenvolvido por Shaddak, acabam por regredir a formas animalescas por simplesmente cederem aos instintos mais básicos liberando-se de restrições morais e intelectuais.

Entrando no túnel de concreto, o predador espreitou para dentro da escuridão. Seus olhos tinham um brilho âmbar-esverdeado, não tão brilhantes ali quanto ao luar, menos luminosos do que tinta fosforescente, mas bastante reluzentes.

Koontz dispara a curiosidade do leitor logo nos primeiros capítulos com a fuga da garota Chrissie da casa dos pais, depois de constatar a misteriosa alteração no comportamento deles. Com texto simples e rápido, o livro é composto por capítulo curtinhos com a clássica (e irritante) alternância entre ações para efeito de suspense – muita informação parece perder a importância na fragmentação desse formato. 

E se toda a literatura B tem a pretensão de se vender como roteiro de cinema, Meia-Noite encurta o caminho a uma possível adaptação em sua narrativa picotada de alternância entre personagens. Mas isso nem configura uma falha propriamente, pois o autor consegue manter a atenção e o interesse em suspense pelo desenvolvimento narrativo e revelação do mistério, compondo a história com os excesso de detalhismo narrativo e erudição forçada, habituais em sua escrita, e guarda surpresas para o final em nível "monster movie" com uma criatura gerada pelas mutações-degenerações. [O que viu, na verdade, foi algo saído de um filme de monstro da década de 1950, com mandíbulas estalando, olhos multifacetados]

O mais curioso é que o romance, na alvorada das redes digitais de comunicação, já previa as redes de computadores interligadas popularmente e apavora com algumas situações como a simbiose homem-máquina, em um momento particularmente dramático na vida de um dos envolvidos no Projeto Falcão da Lua.

Muitos, senão todos esses computadores podem se ligar através do modem diretamente à New Wave, de modo que podem trabalhar em casa à noite ou nos fins de semana, se necessário.

– A Nova Gente é uma ponte entre o homem e a máquina. Mas um dia nossa espécie atravessará completamente esta ponte, se tornará una com as máquinas, porque só então a humanidade será completamente eficiente, terá todo o controle.

 

Leitura Radical
Detalhes além do necessário.
Leitura Passional
Fluente como um filme.
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Meia-Noite
Midnight, Dean Koontz, 1989
Editora Record, Rio de Janeiro, RJ, 1993
443 páginas

Meia Noite - Dean Koontz

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