9 de fevereiro de 2023

Cabo do Medo

Cape Fear (EUA, 1991)

Diret Martin Scorsese
Com, Robert De Niro, Nick Nolte, Jessica Lange, Juliette Lewis, Joe Don Baker, Robert Mitchum, Fred Thompson, Illeana Douglas.

Cabo do Medo

O melhor de dois mundos. Grande sucesso de bilheteria que recuperou a carreira do diretor, Cape Fear marcou sua época por diversos motivos, como a violência, a força narrativa, a confirmação de Robert De Niro como o melhor ator para psicopatas, e a cena do dedão! Scorsese vinha de um período meio incerto de filmes como O Rei da Comédia, After Hours, A Última Tentação de Cristo. Depois do sucesso de Goodfellas, apostou no velho e bom thriller criminal e restabeleceu-se definitivamente com este Cabo do Medo.

A lógica de produção foi infalível, ele pegou um dos melhores filmes de suspense, o meio esquecido Cape Fear, que J. Lee Thompson dirigiu em 1962, e o refez com a liberdade estética contemporânea, mas sem excluir da receita os ingredientes mais importantes: fotografia e trilha musical. O resultado foi um amálgama narrativo entre passado e presente. O melhor de dois mundos.

Cabo do Medo conta sobre o tormento do advogado Sam Bowden que começa a ser seguido pelo ex-detento Max Cady, um estuprador que cumpriu quatorze anos de pena devido a uma negligência de Sam na defesa do caso. De simples ameaças verbais a rondas residenciais, Sam começa a temer pela segurança física de sua esposa e filha e precisa empregar meios ilícitos para se livrar do marginal que parece conhecer cada passo dado pelo advogado, assim como conhece os limites e determinações legais dentro das quais consegue agir e provocá-lo. Mas o filme ultrapassa as questões jurídicas para se entregar a simbolismos, especialmente na segunda metade quando Cady se pendura no veículo de fuga! O filme então resvala no sobrenatural dando ao vilão a força de uma entidade vingadora, a consequência de negligências e irresponsabilidades em uma sociedade não tão bem estruturada como se acredita.

Cape Fear

Tecnicamente, o filme é uma lição de imersão por sua trilha sonora insidiosa e constante, mas especialmente pelos cuidados fotográficos do genial e veteraníssimo Freddie Francis que, com luz farta, "achata" as cenas em bidimensionalidade, eliminando profundidade, acentuando a claustrofobia. As cenas residenciais da família do advogado são notavelmente tensas. Os monólogos também ajudam apesar de um pouco longos. A dosagem do elenco também é exemplar com a grande Jessica Lange aparecendo pouco para não ofuscar o vilão, Juliette Lewis perfeita como a adolescente aprendendo a ser dissimulada e Nick Nolte fazendo ele mesmo, o medíocre advogado covardão. E o De Niro? Recorre às caretas de sempre e assombra o filme todo, mesmo quando ausente. Sua entrada em cena, fazendo flexões, é um "estupro visual", interferindo no quadro!

Para completar a referência de época temos o elenco do original em participações, Robert Mitchum, Gregory Peck e Martin Balsam em momentos marcantes. Curiosamente, o tempo colocou os dois Cape Fear na dimensão de um passado nostálgico e na comparação (desnecessária), se a refilmagem ficou mais chocante e visceral, o original se sobressai na integridade. Scorsese ganha ponto com sua câmera nervosa e participativa (rondando a casa, investindo, recuando), e a atualização da eficientíssima trilha do filme original é reveladora de como as transformações culturais nem sempre são uma evolução.

• A trilha musical foi regravada e atualizada por Elmer Bernstein sobre a original de Bernard Herrmann.
• Menção honrosa: o grande Joe Don Baker, ator subestimado, aqui fazendo o detetive Kersek.
• Créditos de abertura desenhados por Saul Bass.
• Precisava? A cena do teatro tem dez longos minutos!
• A trivia mais bizarra: Steven Spielberg esteve ligado ao projeto e pensava em Bill Murray para fazer Max Cady!!!!! (IMDB)

Black Phillip já sabia 👿👿👿👿 

Cabo do Medo
Vim salvá-los do Bill Murray....

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