4 de junho de 2020

A Última Esperança Sobre a Terra - o clássico limítrofe entre o gótico e a aventura apocalíptica.

Robert Neville apoiou-se junto a janela e olhou para fora. A rua estava coalhada de gente , que se mexia como uma onda à luz cinzenta da manhã. O rumor de suas vozes era como o zumbido de milhões de insetos. Alguém o viu. Houve gritos de espanto, depois fez-se um súbito e completo silêncio. Ficaram todos a fitá-lo com seus rostos brancos. Então ele compreendeu que o temiam e odiavam.

• A clássica novela de Richard Matheson aqui reeditada como o título aproximado da versão para cinema com Charlton Heston. Por alguma estratégia marketeira a coleção Mestres do Horror e Fantasia reeditou a novela depois de tê-la lançado como Eu Sou a Lenda
Ambientada na futurista década de 1970, Matheson não perde tempo em seu texto ligeiro e entrega-se logo ao tormento do protagonista Robert Neville em um mundo devastado por uma epidemia. Os sobreviventes tornaram-se criaturas que o perseguem talvez por sua imunidade. Nem mortos, nem vivos, os antagonistas de Neville temem espelhos, alho, a luz do dia e morrem com estacas no coração. Será apenas superstição de Neville ou realmente os infectados tornaram-se vampiros! (Dentro de uma hora eles chegariam de novo, os malditos. Assim que sumisse a luz.) A surpresa, na opção dramática do texto, é que o estado dos humanos que definharam é o mesmo dos clássicos vampiros das narrativas fantásticas. E Neville vaga de dia na manutenção de sua subsistência e na tentativa de compreender a doença que praticamente eliminou a vida na Terra.

O mundo está louco, pensou, os mortos caminham por aí e eu nem me espanto. A ressurreição dos corpos é um acontecimento trivial. Incrível como se aceita rapidamente o inacreditável, se ele acontece bastante. 

Na busca por um antidoto que reverta o mal, Neville relembra (em capítulos de flash-back) a situação pré-pandemia e a perda de sua esposa e filha, passa pelo comovente episódio de amizade com um cão e termina compreendendo que a inversão bio-social o transformou em minoria segregada.
Lançada em 1954, a novela é praticamente um divisor de águas (tanto quanto Psicose) por sua influência no fantástico posterior. Seja na ficção científica ou no terror, I Am Legend teve influência notável em aventuras apocalípticas e até em A Noite dos Mortos Vivos, por intermédio de Mortos Que Matam.
A edição da Francisco Alves peca por uma tradução meio desajeitada e o relançamento da Aleph (com o título original, Eu Sou a Lenda) em nova tradução, é bem mais recomendado - apesar da expansão para 385 páginas!!!


🐶
Leitura Radical
O pior é a tradução.
Leitura Passional
Um clássico sem reservas!
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A Última Esperança Sobre a Terra

I Am Legend, Richard Matheson, 1954
Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro, RJ, 1984
135 páginas



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