13 de maio de 2018

Um Lugar Tranquilo no Campo

Un Tranquillo Posto di Campagna (Itália, 1969)

Diret Elio Petri
Com Franco Nero, Vanessa Redgrave, Georges Geret, Rita Calderoni.

Um Lugar Tranquilo no Campo
– Procuro um lugar tranquilo no campo...
– Mais tranquilo que isto só a morte...

Pesadelo pop-art-cinético-modernista!!! Franco Nero é Leonardo, um artista plástico em crise de criação. Seu bem sucedido trabalho na arte pop é uma máquina de fazer dinheiro para a felicidade de sua companheira Flavia (Vanessa Redgrave) e do empresário que os apoia. Mas a pressão sobre Leonardo é grande e o colapso é iminente. Na sequência que abre o filme ele esta atado da cabeça aos pés enquanto Flavia faz compras e enche a casa de bugigangas tecnológicas inúteis. Em um acesso de fúria Leonardo rompe as cordas e tenta matar Flavia! A sequência, que sintetiza o filme todo, carrega na estética pop (Petri tem na bagagem o cult A Décima Vitima) e não por acaso acontece em um pesadelo.

Em sua alienação diária, Leonardo rompe com seu método produtivo e finalmente encontra um velho casarão de campo que o encanta como um local ideal para fuga de sua rotina. Aluga o casarão e passa a trabalhar ali, mas a suposta paz local também tem seu caos próprio e o pintor descobre que ali morreu Wanda, uma jovem condessa, ao que consta, fuzilada em um ataque aéreo na Segunda Guerra. Pode ser que seu espírito ainda esteja vagando pelo local... Obcecado pela história, Leonardo passa a investigar a verdade. E o filme salta das influências pop-art do começo para a velha e boa estética gótica nas sombras do casarão talvez desabitado.

Uma das melhores variações no gênero casa assombrada. Um suspense assustador que escapa das convenções do terror e dos giallos para uma estética e construção muito próprias. É um grande exemplo do filme que incomoda por sua enigmática estrutura fílmica, inserindo imagens do inconsciente e desejos (do protagonista) manifestados em imagens. Leonardo deseja realmente matar Flavia? Haverá relação então com as manifestações na casa cuja violência se concentra sobre ela?

Explorando a montagem de eventos paralelos, Petri incorpora o fascínio dos modernistas e futuristas pelo cinema como "máquina de fazer filmes" em momentos esteticamente notáveis como o delírio de Leonardo na primeira noite na casa e sua atenção aos mínimos sons da noite, enquanto no cômodo ao lado os objetos se entregam sozinhos a uma caótica "performance de extrema violência"!!!
Em seu labirinto de fragmentos perceptivos, o filme despeja pistas e paralelos: a sessão espírita que termina em confusão, a exploração pelo casarão de múltiplos corredores e salas, a visita à mãe de Wanda (com citação macabra de Perspective de Magritte), o "espelho transparente", a preferência de Leonardo por tinta vermelha em seu trabalho...

A trilha sonora de vanguarda de Ennio Morricone e o grupo Nuova Consonanza adiciona muito da atmosfera de deslocamento de todo o filme. Assim como as vocalizações (de Edda Dell´Orso) sugerem a presença de Wanda!
E o filme dedica sua estrutura à obsessão doentia de Leonardo em desvendar a verdade. Todas as verdades! A verdade de Wanda, a da casa e a sua própria, levando o espectador a um local bastante desconfortável como poucos filmes conseguiram... E conclui que o pesadelo do homem moderno é mundano e destituído de poesia...

• No ano seguinte, Elio Petri daria início a sua série de filmes políticos com Investigação Sobre Um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita.
• Destaque à trilha sonora como um dos principais efeitos especiais como ponte para o sobrenatural.
• Cinquenta anos depois, toda a obra de Elio Petri continua atual e indispensável.

Black Phillip já sabia  😈😈😈😈

Franco Nero tranquilão... sqn!

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