Jorge Grau

Foi-se neste dezembro de 2018 o diretor espanhol Jorge Grau, que será para sempre lembrado como o responsável por um dos maiores filmes de zumbis da história, o cult The Living Dead at Manchester Morgue. E uma sessão dedicada a diretores já estava planejada há tempos aqui no Black Phillip. Então o blog abre uma nova série de postagens com este modesto e admirável profissional dos filmes que teve especial relevância aos fãs do cinema fantástico.

Nascido em Barcelona em 1930, Jorge Grau Solá iniciou carreira em dramas e documentários nos anos 60. Estudou cinema na Itália onde foi assistente de direção de Sergio Leone em O Colosso de Rodes (1961). Consta em seu processo formativo a admiração pelo cinema de Roberto Rossellini e a atenção ao envolvimento atmosférico que os sets de filmagem produzem no produto finalizado. Fato que explica muito da excelência na ambiência de seus melhores trabalhos (especialmente para os admiradores do fantástico). Seus dois principais filmes no gênero, Living Dead at Manchester Morgue e La Vergine Cavalcano la Muerte (A Força do Diabo), rescendem da melhor atmosfera mórbida que caracterizaria o gênero nos anos 70. A qualidade pictórica de A Força do Diabo é algo que justifica o filme mais do que qualquer outro elemento. Assim como o citado Living Dead, é um trabalho no qual a direção e dosagem de elementos constituintes do conjunto fílmico são sua principal virtude. Ninguém jamais irá apreciar esses filmes por seu roteiro inteligente ou atuações exemplares mas sim por sua combinação de imagem, som, quadros e narrativa.

Mesmo com sua eficiência reconhecida em dramas, foram os filmes fantásticos que garantiram destaque e lembrança ao nome do diretor. Infelizmente foram poucas as passagens do diretor pelo suspense e terror. O nunxploitation Cartas de Amor de uma Monja (1978) seria sua última aproximação ao cinema B. Grau deixou uma obra modesta mas especialmente marcante em sua intensidade gráfica. Veja um pouquinho de destaques em sua filmografia:

_________________________________

1971 La Vergine Cavalcano La Muerte (A Força do Diabo) • A marquesa Erzebith banha-se com o sangue de jovens camponesas para manter a juventude. Drama macabro baseado na Condessa Bathory. Veja o post.

___________________________________________

1974 Living Dead at Manchester Morgue • Experimentos com radiação reanimam cadáveres em região interiorana. Clássico pioneiro dos filmes de zumbis. Veja o post.

___________________________________________

1974 Pena de Muerte • Suspense com Fernando Rey fazendo um juiz investigando crimes que repetem o modus operandi de um criminoso que ele havia condenado à pena máxima. As dúvidas que atormentam o juiz em sua febre pelo cumprimento rigoroso da lei lançam dúvidas sobre seu estado mental. Mistério investigativo que peca em um ritmo meio lento, mas é suficientemente interessante e tem um desfecho bem curioso (e irônico) ao sugerir a proximidade entre o cumprimento de rigores protocolares e a insanidade.

😈😈

____________________________________________

1978 Cartas de Amor de uma Monja • Em plena Inquisição do século XVII a monja Mariana exprime sentimentos e questionamentos sobre amor em cartas ao padre Rojas. Drama polêmico e profano (independentemente de períodos históricos) que erotiza a figura do Cristo, as hóstias e dignifica o desejo sexual! Também impressiona na notável recriação de época. Aproveitou o título de um filme de Jess Franco do ano anterior (Cartas de Amor de uma Monja Portuguesa). Um nunxploitation acima da média.

😈😈

____________________________________________

1987 Coto de Caza • Suspense dramático pesadão como poucos! Uma advogada criminal tem seu automóvel roubado. Com os documentos pessoais e endereço em posse dos marginais, ela passa a ser perseguida e pressionada. Os desdobramentos vão acumulando um crescente de violência e tensão bastante realista. Dirigido com detalhismo e precisão Coto de Caza, equilibra a simplória situação da linha "desejo de matar" a análise mais séria e humanista das implicações criminosas. O resultado é um suspense incômodo que culmina em um epílogo violentíssimo! Na questão "ambiência" o filme é sufocante em sua claustrofobia noturna de sombras pesadas. 😈😈😈😈

Uma entrevista com o diretor no Marisa Mell Blogspot