3 de março de 2017

O Segundo Rosto

Seconds (EUA, 1966)

Diret John Frankenheimer
Com Rock Hudson, John Randolph, Jeff Corey, Will Geer, Murray Hamilton, Salome Jens.

O Segundo Rosto

Agora vai! Drama fantástico em um filme aflitivo entre os mais ambiciosos do diretor John Frankenheimer. Depois de um misterioso telefonema de um amigo que julgava morto, o cinquentão Arthur Hamilton tem a chance de passar por um processo de troca de identidade e viver outra vida. Mas nem tudo corre como planejado pela companhia que ofereceu o serviço. Seconds é um daqueles casos de filme que ficou com um resultado tão estranho e tão incômodo que acabou esquecido e pouco citado. 

Difícil rotulá-lo como drama, ficção-científica ou suspense. E toca em questões difíceis como motivações essenciais à vida e a razão da existência. De que adianta ter uma segunda chance se sua essência permanece a mesma de antes? O que a nova vida ofereceria que a anterior já não havia oferecido? Todas as circunstâncias ao redor de Arthur são transformadas a seu favor e ainda assim ele está insatisfeito, indeciso e preso a questões passadas que deveria ter esquecido na nova condição.

Baseado no romance de David Ely a história ganha muito mais na forma de narrativa visual do que tivera na forma literária (pelo menos dessa vez a "segunda chance" funcionou). O roteiro acrescenta situações como os festejos campestres de produção de vinho e o interesse romântico com Nora. Tecnicamente é excelente, com uma fotografia preto-e-branco espetacular que leva o filme ao limite do pesadelo, especialmente no primeiro terço. As distorções de lente servem muito a esse fim assim como os incômodos e constantes closes. Da mesma forma, os ambientes cirúrgicos ou a praia deserta conferem uma atmosfera onírica de desespero. Ângulos e movimentos de câmera também acentuam muito o clima de deslocamento, como visto logo na sequência de abertura na estação. 

Rock Hudson é perfeito para o papel justamente por sua fragilidade de atuação e expressão. A trilha sonora de Jerry Goldsmith também acrescenta muito ao aspecto depressivo da obra especialmente na sequência de cirurgia com o toque ligeiramente fúnebre de órgão.

Dirigido por Frankenheimer em seu melhor período, depois de Sete Dias de Maio e O Trem. Seu filme seguinte seria o famoso Grand Prix. Inicialmente o filme teve problemas de rejeição em festivais, mas construiu sua fama com os anos, como um respeitável cult movie.

• O designer Saul Bass criou os créditos de abertura e os closes faciais distorcidos seriam reutilizados por ele na abertura de Cabo do Medo de Scorsese.
• O diretor Gaspar Noé tem especial apreço pelo filme e já mencionou interesse em refilmá-lo.

Black Phillip já sabia  😈😈😈😈

O Segundo Rosto

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