5 de fevereiro de 2017

De Repente a Escuridão

And Soon the Darkness (Inglaterra, 1970)

Diret Robert Fuest
Com Pamela Franklin, Sandor Eles, Michelle Dotrice.

De Repente a Escuridão

A adequação das formas. Famoso suspense inglês de sucesso em nossas TVs. Jane e Cathy são duas jovens inglesas que viajam pelo interior da França, curtindo as estradas e as paisagens interioranas em suas bicicletas. Separam-se depois de um desentendimento e Jane, no contato e conversa com habitantes locais, descobre que a região é perigosa. Jovens desaparecem regularmente pela estrada. Apreensiva, decide reencontrar a amiga. E as suspeitas de perigo parecem se confirmar quando Jane perde definitivamente o contato com Cathy e começa a ser seguida por Paul, uma figura suspeita que circula de lambreta. Grande representante do thriller inglês do período.

A história foi refilmada em 2010 com o mesmo titulo And Soon the Darkness (Perigo na Estrada) e é interessante uma comparação entre o cinema velho e o novo (aspas em tudo). Na cultura globalizada contemporânea, a viagem vai até a Argentina (o diretor Marcos Efron é argentino) e as garotas raptadas viram escravas (o comprador de escravas é brasileiro!) Até aí, bacana, mas a refilmagem desanda por causa da atual necessidade de surpreender a cada minuto e de forma dinâmica, e inserir violência como elemento constitutivo de tensão e atenção. O resultado é desequilibrado e excessivo, convence menos do que a simplicidade do original. Pra piorar, o acumulo de situações, de elementos de roteiro e de ações, conduz a refilmagem ao esgotamento e não à construção de tensão como seria ideal a um thriller. Bem, pelo menos a versão 2010 tem a darkness, que o original não tem.

A lição do filme original é justamente que no tempo lento da vida na estrada, os takes se estendem como o percurso. A coerência entre os tempos é que sustenta o filme, que se construía no mistério e não na ameaça física imediatista como hoje. Claro que o original tem seus pontos fracos como as andanças do misterioso Paul pelo bosque, e a questão do filme fotográfico, que são esticadas para preencher o tempo (algo ruim em um momento em que a narrativa pede aceleração para concluir). Mas enquanto na versão de 2010 a estética intensifica desde o início, luzes e ângulos para dinamizar, a original segue elegantemente e só desequilibra o senso estético no terço final, aí sim a realidade em volta de Jane se altera e temos luzes expressionistas, o corpo morto, o militar enlouquecido que vive miseravelmente, as reviravoltas de roteiro.

É curioso que And Soon the Darkness (1970) não perdeu a força original (enquanto um suspense elegante, afinal é inglês), apenas não está adequado à necessidade de ação frenética e desespero constante dos filmes atuais. Sem saudosismo, mas quem sai perdendo nessa trajetória do cinema em atender estatísticas de consumo? Nós ou o cinema?

• Pamela Franklin é japonesa de nascimento. Foi figura marcante no gênero desde sua estreia em Os Inocentes aos 11 anos de idade. Teve aqui seu primeiro destaque em idade adulta e se consagraria no suspense com o clássico A Casa da Noite Eterna (1974). Aposentou-se no início dos anos 80.
• O diretor Robert Fuest faria em seguida o cultuado O Abominável Dr Phibes (1971) e o abominável The Devil's Rain (1975).

Placar Black Phillip • (1970) 😈😈😈  • (2010) 😈


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